Resenha: “Legítima Defesa” – Iza Artagão

Legítima Defesa é um thriller que mantém a ação nas alturas, sem deixar cair a tensão em nenhum momento. A autora soube como conduzir uma história que faz o leitor parar de respirar e que também faz com que o leitor queira virar as páginas angustiadamente, mesmo que a próxima venha com um acontecimento de quebrar o coração.

Com uma narração que mescla três pontos de vista, Legítima Defesa consegue trazer a vivência dos personagens de forma única, dando espaço e características para cada um deles. É bonito – e assustador – como as vivências se interligam, formando um elo entre si e encaixando os traumas pessoais de cada um.

“A mulher sempre levava a culpa pela desgraça do homem, mesmo que ele a buscasse com os próprios pés.”

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Quando o monstro vive ao seu lado

Vilma percebeu que o seu casamento com Augusto não é mais o mesmo. O marido que antes era tão educado e romântico, hoje se irrita com qualquer detalhe, colocando a culpa sempre em Vilma. O problema é que quando essa irritação explode, gera agressões físicas e psicológicas.

Mesmo que Vilma tenha sido criada para ser uma esposa fiel e obediente – a mulher recatada e do lar -, ela quer dar um basta nisso tudo. Afinal, não aguenta mais ser espancada e humilhada pelo marido, mesmo que o amor ainda reine em seu coração. Entretanto, ela sabe que essa decisão não será fácil e para isso precisa agir com cautela.

Em um Rio de Janeiro, na década de 80, onde o corpo e a liberdade da mulher pertencem ao homem, Vilma lutará para recuperar os dois. Mesmo que para isso tenha que passar pelo inferno antes.

⚠ TW: há cenas fortes e descritivas de violência doméstica e indicações de estupro. Leia com cuidado.

“- Homens que, depois de um dia de trabalho ou estudo, voltam aos seus lares e são recebidos com a comida pronta, a casa limpa, a TV ligada. Voltam para um ambiente seguro e aconchegante, proporcionado por suas esposas ou mães, e que, por isso, nunca conseguirão dimensionar o terror que algumas mulheres passam dentro das próprias casas.”

Legítima Defesa gera tensão, angústia e cenas de roer as unhas

Terminei essa leitura há alguns dias, mas ainda estou digerindo tudo. Os acontecimentos, os personagens, as ações… Tudo culminam para um desfecho surpreendente e de cortar o coração. Confesso que uma cena em específico arrancou algumas lágrimas minhas.

Dito isso, é bom reforçar que os temas tratados no livro são pesados, afinal a violência doméstica é algo cruel e ainda muito presente em lares opressivos. Além disso, também há o ambiente dos anos 80 que era recheado de machismo, isso bem escancarado em cenas em que há julgamentos; realidades que, muitas vezes, continuam a mesma, independentemente do passar das décadas.

Por conta disso, para nós mulheres, a leitura é opressiva, causando grande tensão e ansiedade em nossos corações. Nós nos padecemos com Vilma – e as demais mulheres que aparecem -, sendo sugadas para o medo constante e a angústia, misturados a raiva. São sentimentos pesados, e isso permeia toda a leitura. Só precisamos de um final feliz, mesmo sabendo que em histórias assim isso nem sempre acontece.

A escrita da Iza sempre me conforta de certa maneira, pois é boa, fluida e familiar. Me sinto voltando para casa, para algo que já gosto e conheço bem. Devorei o livro como há muito tempo não fazia, e isso me deixou feliz. Foi uma leitura intensa, mas bastante importante, com temas ainda necessários de serem discutidos. Livro de suma importância para qualquer leitor.

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