Literatura

Resenha: “A Menina Submersa: Memórias” – Caitlín R. Kiernan

Reprodução: Google


A Menina Submersa: Memórias
Autora: Caitlín R. Kiernan
Editora: DarkSide
Ano: 2014
Minha classificação: ★★★ (3/5)

“Fantasmas são essas lembranças fortes demais para serem esquecidas, ecoando ao longo dos anos e se recusando a serem apagadas pelo tempo”

India Morgan Phelps, ou como gosta de ser chamada Imp, apresenta-se aos leitores como louca. Vindo de uma família em que as mulheres são conhecidas por serem loucas e suicidas, Imp sofre de esquizofrenia, assim como a sua mãe e avó sofreram. Neste livro de memórias, a protagonista conta a sua história para nós, deixando claro desde o início que todos os detalhes são verdadeiros, mas que alguns podem não ser necessariamente fatos.


Nesta história sobre fantasmas, pois é assim que Imp a descreve, teremos três personagens tão importantes quanto ela: Abalyn, sua namorada; Eva Canning, uma estranha a quem Imp dá carona em duas ocasiões; e a própria esquizofrenia, a doença que está presente a todo o momento da narração e que tornará a mente da protagonista confusa e às vezes com dificuldade para distinguir o que é real ou não.


Quando Imp estava completando 11 anos, sua mãe a levou para uma visita no museu. Foi nesse dia que ela viu pela primeira vez o quadro A Menina Submersa, uma obra que transmitiu uma sensação única (e um pouco perturbadora) e que ficou na sua mente durante todos os anos posteriores da sua vida. A obra se tornou parte dela, um ponto importantíssimo em sua história e em sua vida, e a assombraria para sempre.


Já com seus vinte e poucos anos, Imp tem paixão pela pintura e cria os seus próprios quadros. Leva uma vida calma dedicando-se apenas ao seu trabalho em uma loja de comércio e aos quadros que adora pintar. Até que um dia conhece Abalyn, e logo um amor entre as duas floresce. Morando juntas, agora elas compartilham uma casa e uma vida, e terão que enfrentar os obstáculos futuros com muita precaução e cuidado para não se perderem.


Embora a vida conjugal esteja indo bem, em uma de suas saídas para clarear a mente Imp encontra Eva Canning, uma garota que está nua de pé na estrada totalmente sozinha, e decide levá-la para casa naquela noite. A partir desse acontecimento tudo ficará confuso e decairá. Imp, com a ajuda de Abalyn, correrá atrás de informações sobre esta garota e como ela poderia estar relacionada a sereias, lobos e fantasmas.

“No fim das contas, todo mundo machuca alguém, por mais que tente não machucar.”

Reprodução: Biblioteca Pessoal
Não se preocupem se a resenha ficou um pouco confusa, pois a própria história é narrada dessa maneira. Entramos na mente de uma pessoa com esquizofrenia, e mesmo que isso possa causar certo desconforto em vários momentos acredito que é uma ótima forma de conhecermos um pouco mais sobre a doença e sobre quem sofre dela. Por isso, não se preocupe se houver partes (ou capítulos) em que você fique totalmente confusa e sinta que não está entendendo nada da história, podendo até mesmo ter aquela vontadezinha de desistir da leitura. Por favor, não desista. Persista e vá até o final. Por mais que seja uma leitura cansativa, você verá que valerá a pena.


A escrita da Caitlín é agradável e, como eu disse antes, confusa. A narração foi feita para ser assim, para te colocar na cabeça da personagem e te fazer enxergar como ela pensa, como ela se sente, como a loucura corrói a sua mente. A autora escreveu com maestria todos esses aspectos, e creio que todos os elogios de escrita revolucionária e/ou de destaque fazem jus ao que li. Admito que fiquei curiosa para conhecer outros textos da Caitlín e que pretendo correr atrás disso. Ela é uma escritora que vale muito a pena conhecer e investir em suas histórias.


Durante a narrativa temos muita referência a literatura americana, principalmente a clássicos. A Imp cita Edgar Allan Poe, H. P. LovecraftLewis Carroll e alguns outros. Além de literatura, a música e a arte também são bastante frequentes no enredo.

Reprodução: Biblioteca Pessoal
A edição
Gosto de destacar a edição ou quando ela é extremamente positiva ou nas vezes que são decepcionantes e prejudiciais a leitura. A editora DarkSide já tem um nome conhecido no mercado, principalmente por causa da qualidade das suas edições e o capricho que há com cada livro. Algumas vezes, como aconteceu com A Menina Submersa, a editora lança duas versões da obra: uma mais simples com capa mole e outra com capa dura e um acabamento ainda mais cuidadoso. A minha edição deste livro é a primeira opção, e por mais que a com capa dura seja maravilhosa e tenha as bordas das páginas em tom cor de rosa, admito que me surpreendi com a qualidade da que comprei.
Primeiramente quero dizer que acho essa capa da edição normal linda! Por mais que na maioria das vezes eu não goste de capas que tenham pessoas estampadas, essa me cativou. Até mesmo o material que foi feito a capa e a sensação que sentimos ao tocá-la me deixou muito surpresa e admirada. Isso fez com que entrasse para o meu top de capas preferidas.
Na parte de dentro temos o quadro d’A Menina Submersa e outros detalhes que complementam perfeitamente a história. A diagramação é ótima e segue um padrão nas edições da DarkSide. Um trabalho lindo que não se rebaixa em nada à edição limitada.


Minha opinião
Admito que ainda estou em duvida com esse livro e que não sei se só gostei ou se gostei muito. Ao finalizar a leitura fiquei um tempo parada e pensando sobre tudo aquilo que eu havia lido, e sinceramente até agora eu ainda não sei expressar direitinho a minha opinião e o impacto da obra sob mim. Não é um livro que irá agradar a todos, até porque a maioria das opiniões que eu vi/li foram negativas, mas é uma leitura que você deve ir de cabeça aberta, sem muitas expectativas e deixar-se surpreender.
A narração lenta e cansativa causa um grande impacto negativo nos leitores, e os momentos confusos também. Conversando com algumas colegas, pois este livro foi o escolhido para a leitura conjunta de fevereiro (mesmo eu só tendo lido em março), percebi que fui a única que levou para si uma experiência positiva com a leitura, e isso me dá um pouco de receio em fazer uma resenha elogiando e ao mesmo tempo “alfinetando” a obra.
Por causa dessas opiniões negativas acabei me surpreendendo com a história e no final eu gostei de toda a trama que eu havia lido. Não foi uma leitura que entrou para os favoritos, mas é um livro que pretendo reler no futuro e, quem sabe, tirar novas conclusões. Muitas vezes durante a narração me senti confusa e não sabia se era realmente a Imp que estava narrando, e ao decorrer do livro inventei na minha cabeça várias deduções e teorias sobre as personagens, principalmente sobre a Eva. Tendo em conta que a Imp fala sobre fantasmas, sereias e até lobos, em muitos momentos da narrativa eu imaginei que ela estivesse falando de forma real, e não fictícia. E a cada teoria que vinha na minha mente, o capítulo seguinte com alguma informação bombástica derrubava a minha imaginação, e creio que foi isto que me deixou mais conectada e animada com a leitura, essa sensação de ser enganada pela narradora. 
É um suspense com um toque sobrenatural que se mesclam muito bem. Não indicaria essa leitura para qualquer público, mas como é uma obra que divide opiniões sugiro que caso você tenha ficado interessado através desta ou outras resenhas procure o livro e dê um chance a ele. Poderá ser uma leitura fraca, como também poderá se tornar a melhor leitura do seu ano ou até da sua vida. Por isso, deixo nas suas mãos decidir a própria opinião sobre a obra e a narrativa peculiar da autora. 

“(…) Olhei para os meus dedos, me perguntando o que mais eu poderia machucar apenas com meu toque, imaginando se os ácidos e óleos pingando da minha pele haviam causado todo tipo de coisa sem o meu conhecimento.”

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