Literatura

Resenha: “Incompletos” – Sabine Mendes Moura

Reprodução: Google
Incompletos
Autora: Sabine Mendes Moura
Editora: Presságio
Ano: 2017
Minha classificação: ★★★★ (4/5)
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* Livro cedido pela editora
Se um dia você acordasse sem se lembrar do seu nome, de onde veio, de quem é sua família e até mesmo não sabendo quem você realmente é, o que você faria e para onde você correria?


Reprodução: Biblioteca Pessoal

“Mas, vivia com medo, sem saber em quem confiar. Sua memória não permitia que confiasse nem em si mesma.”

Mariah é uma Especial, e como resultado do uso de seu poder ela não se recorda do seu verdadeiro nome e nem de lembranças do seu passado. “Mariah” é o nome que ela mesma escolheu para si e julgando pela sua aparência a garota deduz que deve estar na faixa dos 17 anos. Ao caminhar pela rua, tentando escapar dos olhos do Rastreio e de qualquer pessoa que possa lhe ver como uma ameaça, a única lembrança que Mariah tem em sua mente é uma frase que a aconselha a fugir, mesmo não reconhecendo a voz que ecoa em sua cabeça.


Durante sua caminhada apressada, Mariah escuta passos atrás de si e percebe que estão vindo em sua direção. Para não ser capturada, a garota esconde-se dentro de uma brecha em um beco escuro com a esperança de não precisar usar o Dom para fugir do perseguidor. Ao ser confrontada pelo homem e ouvir o pedido para que saia do esconderijo, Mariah decide se transformar em uma memória do perseguidor e atordoá-lo para que possa fugir dali o mais rápido possível, mesmo que essa escolha resulte em sua fraqueza e, mais uma vez, em perder os últimos vestígios de suas lembranças.


Mas, o que é ser um Especial? Ou um Incompleto, como algumas pessoas Comuns gostam de apelidá-los? Ser um Especial é ser diferente da maioria das pessoas, são aqueles que carregam o Dom. O Dom se resume ao ato dos Especiais poderem se transformar nas memórias dos Comuns (aqueles sem Dom), podendo variar entre a sua melhor lembrança ou o seu pior momento. Eles se tornam essa memória, transformando-se fisicamente em uma pessoa que passou pela sua vida.


O Especiais são vistos como pessoas perigosas para o Governo, e por essa razão foi criado o Rastreio: um tipo de tecnologia que reconhece o Especial e automaticamente anuncia as autoridades, para assim ocorrer o aprisionamento dessas pessoas, levando-as ao Centro, um lugar onde são mantidas presas e sedadas. Por conta disso, grande parte dos Especiais passam a vida fugindo e a procura por um local seguro, enquanto outra parte se junta ao grupo GNO e luta com o intuito de ferir os Comuns e abdicar de poder em cima deles.

A história é narrada em terceira pessoa, porém, percebe-se que a cada parte/capítulo temos o foco pessoal de um personagem específico, podendo assim variar a visão de cada capítulo. A escrita da Sabine é leve, fluida e muito boa de ser apreciada. A autora é ótima em criar personagens, fazendo com que o leitor sinta-se próximo não apenas da principal, mas, dos outros que a rodeiam também. É importante destacar que a própria autora se dispõe em trocar ideias e responder as dúvidas dos leitores. Eu mesma tive dificuldade em alguns momentos da leitura, me perdendo e ficando confusa, porém, a Sabina teve toda a paciência do mundo ao responder as minhas mensagens pelo Facebook e ouvir minha ansiedade por uma continuação. Não bastou eu apenas ter adorado o livro, acabei por me apegar também a própria autora.


Incompletos é uma distopia e ficção-científica que traz muito do mundo em que vivemos através de uma perspectiva fantasiosa e gostosa de se ler. É perceptível que assuntos como preconceito, relacionamento e medo do desconhecido são abordados durante a história e ganham grande força dentro da narração, sendo temas essenciais para o desenvolver da história e do crescimento dos personagens. Posso dizer também que algo que gostei bastante foi o crescimento que a Mariah conquistou durante a sua jornada no livro, no começo se mostrando apenas uma garota indefesa e confusa, sem saber para onde ir, mas, que através dos seus tropeços e pensamentos convictos a personagem se torna aos 18 anos uma mulher cheia de responsabilidade e que tem consciência do tamanho da sua importância, sempre fazendo com que o seu Dom traga conquistas para a sua vida pessoal e profissional.


Reprodução: Biblioteca Pessoal

A edição
O livro em si é muito bonito, tanto a capa como também a diagramação. Inclusive, quero dizer que adorei a capa e o modo como ela se conecta com a história. Pode parecer simples, ou até bobo, mas, particularmente, eu adoro quando a capa mostra a essência da história, dando aquele ar de prazer quando você percebe que entendeu o significado real da capa. Ou será que sou só eu que tenha essa sensação?
A diagramação está ótima. O tamanho da letra não está pequeno, sendo assim um tamanho ideal para não forçar a vista e nem deixar aquela impressão de passar mais de 10 minutos lendo a mesma página. Por causa da escolha da letra, a leitura acaba fluindo naturalmente e até mesmo rápida. Os detalhes que colocaram em cada nome do capítulo também faz a diferença, deixando a diagramação ainda mais bonita. As folhas são amareladas e ótimas para a leitura. A equipe de arte e edição estão de parabéns.

“O governo nos caça como animais, como se fossemos aberrações, e nos tranca em Centros de onde ninguém que eu conheço jamais voltou. Querem nos estudar, nos cortar em pedacinhos, pra ver o que é que está faltando… para nos completar! Usar-nos como armas em suas guerras absurdas, ganhar dinheiro com o Dom. O DOM É SAGRADO E NÓS TEMOS UMA MISSÃO!

Minha opinião
Esse livro foi uma grande surpresa para mim, aquela surpresa gostosa e que te deixa maravilhada. Antes de começar a leitura tive a oportunidade de conversar com a autora Sabine através de uma live feita para os parceiros da Presságio Editora. Consegui tirar minhas dúvidas sobre o livro, saber mais sobre a história e descobrir como foi o processo criativo da autora, um ponto que adorei conhecer com detalhes. Dias depois da live ainda consegui trocar outras palavras com a autora através do Facebook, pois surgiram algumas dúvidas sobre o enredo e logo me dirigi a ela para saber se meus pensamentos estavam indo pelo caminho certo e acompanhando de forma correta a mente dos personagens. Ela, novamente, foi um “poço” de carisma e educação, tirando minhas dúvidas e esclarecendo alguns pontos que ficaram embaraçados para mim. Ela não se importou em ser abordada por mim e pelas minhas dúvidas, não se importou com a minha confusão durante a leitura e muito menos achou ruim que eu ficasse mandando mensagens para ela. Acho válido comentar sobre isso por aqui, pois sei o quanto esse contato de leitor e autor é importante, e mostrar a atenção e carinho que os autores nacionais têm com os seus leitores.
Mas, voltando ao livro, vamos a minha opinião sobre a história em si. Por ser a primeira distopia que li tive alguns problemas com as nomenclaturas exclusivas do livro. Cheguei até a anotar a maioria para não tentar me perder durante a leitura, o que mais para frente acabou por fluir naturalmente e sem precisar consultar essas anotações. Todas essas nomenclaturas próprias dessa distopia são explicadas ao decorrer da história, aliás, muito bem explicadas. Um ponto positivo para as descrições do livro e as explicações, que em nenhum momento ficaram cansativas ou até mesmo chatas. Tudo é passado ao leitor de forma rápida e simples, sendo de fácil entendimento também para os leitores mais jovens.
A autora tem uma forma de escrita que te mantém preso a história e, claro, os plot twists também contribuem em peso para isso. Praticamente a cada final de capítulo é jogado em nós uma bomba de informações cruciais para a história, que deixam um gancho com o próximo capítulo, o que faz com que a gente não queira parar de ler para sabermos logo o que irá acontecer com a Mariah e saber o fundo de toda essa trama, todos os segredos e toda a real história.
Eu tive uma pequena confusão em um dos capítulos, onde é nos dado uma parte do passado de Mariah, porém, sem sair do presente. Essa parte me deixou confusa e eu fiquei sem entender se aquela narração estava no passado ou no presente. Foi aí que entrei em contato com a autora e ela me explicou tudo. Não sei se a confusão veio porque não estou acostumada a ler distopias e, também, estava lendo tão rápido o livro que acabei por deixar algumas coisas passarem, sem entender em qual tempo estávamos. Embora eu tenha ficado com essa confusão durante esse capítulo específico inteiro (optei até por dar um tempo na leitura depois de terminá-lo, e só voltei a ler no dia seguinte), no capítulo seguinte as coisas já ficam claras o bastante para dar um rumo ao leitor e explicar melhor o que aconteceu. Então, quando li esse outro capítulo acabei por saber quais partes eram do passado e quais eram do presente, tendo toda a confusão passado e retornado a leitura normal. Isso não atrapalhou a minha leitura, por mais que eu tenha lido alguns parágrafos mais de uma vez para resolver esse enigma na minha cabeça. Depois que passei pelas dúvidas, a leitura continuou a fluir normalmente e até rápida demais, por conta dos eventos mais recentes e do que nós leitores descobrimos.
O livro se tornou uma leitura agradável para mim. A história fluiu bem e me cativou. Os personagens são cativantes e faz com que você torça pela vitória deles a todo o momento, principalmente por saber o perigo que correm e o real motivo por estarem fugindo do governo. Infelizmente, por mais que eu tenha adorado a Mariah, principalmente quando ela se descobre ao final do livro, eu não consegui me ver na personagem, me conectar por completo. Algumas vezes achei ela fraca e chata, mas, ao decorrer da história ficou claro que a autora fez isso por um propósito, o que foi explicado mais a frente, porém, nesses momentos acabei me irritando um pouco com ela ao mesmo tempo que queria cuidá-la e niná-la. Mesmo tendo alguns problemas com a personagem, eu me rendia e torcia por ela a cada capítulo, querendo que encontrasse logo a verdade sobre a sua história e fugisse para longe de tudo que lhe fazia mal. 
O crescimento que a Mariah tem ao decorrer do livro é incrível, como eu cheguei a dizer mais para cima, e isso foi um dos pontos que mais me cativaram ao final da história, ver a mulher que ela se transformou. Estou muito curiosa para acompanhar outras aventuras dessa personagem e com uma esperança no coração que venha novidades logo sobre livros posteriores. Os outros personagens também são ótimos, alguns eu me apeguei mais do que a outros, como é normal de se acontecer. 
Um ponto que eu gostaria de ressaltar é a diversidade que contém no livro. Você não verá apenas personagens brancos, jovens e magros. A autora soube explorar com maestria a diversidade entre os personagens e criar pessoas maravilhosas a quais o leitor irá querer conhecer pessoalmente e ter ao seu lado, seja como um amigo ou como um membro da família.
Também há muita referência aos filmes de ficção-científica, que os fãs desse gênero irão logo reconhecer. Uma delas que ficou martelando na minha cabeça foi a semelhança entre as partes onde o Dom é utilizado e onde ocorrem sonhos lúcidos com os personagens com as cenas do filme A Origem, um dos meus filmes preferidos da vida. Admito que adorei fazer essa relação entre os dois, logo imaginando como seria Incompletos em uma versão cinematográfica e, olha, fiquei animada.
Deixo Incompletos como recomendação tanto para o público mais jovem, que ainda não se aventurou em distopias e histórias de ficção-científica, como também para aqueles que já conhecem melhor esses gêneros literários. Acredito que este livro é uma ótima maneira de ingressar no mundo da distopia e no mundo da literatura brasileira de uma forma mais leve, mas, também que lhe trará ótimos frutos. Incompletos irá lhe mostrar o que há de melhor nas pessoas, mas, também fará você ver o quanto uma pessoa pode fazer mal ao seu próximo, sem se importar com os sentimentos alheios ou com a vida daquelas pessoas. Apenas fazer o mal em prol do seu próprio bem.
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