Literatura

Resenha: “Rudamon III” – Demetrio Alexandre Guimarães


Essa resenha poderá conter spoilers dos livros anteriores da saga Rudamon. Leiam à sua vontade e gosto.



Hor está desaparecido, e com isso o mundo se encontra vulnerável perante a maldade e suscetível a horrores de assassinatos, roubos e doenças. O mundo está sem Rudamon e sente falta do herói. Aproveitando essa deixa Francisco Araújo, o mais novo advogado criminalista considerado como o melhor em seu ramo, se apossa da fragilidade do mundo e decide se tornar o líder do OSCM, tendo como plano inicial libertar os outros membros da facção criminosa, Putonghua, Amedéo, Hashim e Abbas, os piores criminosos do mundo, com a ajuda do Maníaco do Ácido, Homem Rato, Senhor das Bombas e Urubu Matador, assassinos impiedosos e conhecidos por suas táticas singulares.


Enquanto isso a Capoeirista Mascarada tenta combater o crime na medida do possível, mas não consegue repor a falta que Rudamon faz. Para mudar essa situação de total desespero e tentar trazer “à força” o herói de volta, Sahator, o mestre dos Waja-Hur, com o auxílio da Capoeirista Mascarada e de Dr. Carlos, coloca em prática um ritual para trazer Rudamon de volta, porém esse ato tem consequências: se Hor estiver perdido ou inconsciente em algum lugar do planeta Terra seu corpo é mandado exatamente para o local do Egito onde o ritual está sendo realizado, caso contrário, se estiver morto quem volta para salvar a população é Osorkon, pai de Hor e segundo Rudamon.


O mundo também se encontra em estado de alerta e choque com o tamanho da expansão do câncer entre os cidadãos. Para tentar reverter e dar um ar de esperança para a população doente e que gasta grande parte de seu pouco salário em remédios, a bióloga e pesquisadora Amanda Souza está em busca da cura, estando bem perto de descobri-la. Mas, é claro, que isso não será tão fácil quanto aparenta, pois os mafiosos lucram com os remédios vendidos e não podem deixar que uma possível cura se espalhe. Amanda se vê dividida entre dar atenção total ao seu trabalho, que se mantém com a doação de verba do governo, e acompanhar de perto a vida do filho, Antônio Carlos, já que ela leva em seu peito uma grande preocupação com o preconceito e os riscos que seu filho pode receber na rua por ser homossexual.


Embora a OSCM seja uma grande ameaça ao mundo e ao novo herói que ressurgirá, outros vilões também aparecerão para dificultar a paz mundial, sendo Apóphis e Seth (personagens já conhecidos dos livros anteriores) o centro de toda a maldade, agora com uma nova marionete: Asru, uma metamorfo ambiciosa que está sempre na companhia de seu fiel sagui de estimação, Sabef.


Através de uma narração em 3º pessoa e não-linear, a trama mescla o presente com lembranças e trechos das obras anteriores, este último sendo um ótimo mecanismo para aqueles que, assim como eu, não tem uma memória tão boa. É perceptível uma melhora na escrita do autor durante a trilogia, uma evolução, e isso é ótimo pois mostra o comprometimento que o autor tem com a sua história e sua motivação para sempre melhorar.


Assim como os demais livros do Demetrio, neste também há as famosas imagens representando os personagens, tornando a imaginação mais fluída e até mesmo mais fácil. Além da história principal, será explorado também outros arcos, como a infância de Osorkon e um pouco mais sobre o seu passado e relação em família. Não apenas Osorkon, mas também alguns vilões que são apresentados em livros anteriores voltam e revisitam a mente do leitor, trazendo várias referências.


O livro ainda explora em sua história:
– Os signos do zodíaco: acredito que houve por parte do autor uma pesquisa envolvendo os signos e suas características, pois é muito presente os traços dentro da personalidade dos personagens. Os signos fazem parte de cada personalidade, não sendo apenas citações superficiais, mas tendo embasamento na formação do personagem, e isso faz total sentido quando colocado em prática para causar certos atritos na história. Por exemplo, sabemos que Nadila é leonina e por isso ela tem um ego inflável e inesgotável, e isso causa uma grande confusão em determinada parte do livro. Para quem gosta de mapa astral e coisas do gênero, vai adorar o desenvolvimento do tema nesta história.


– Diversidade em seus personagens: neste terceiro livro da saga podemos perceber que o autor se preocupou em englobar mais diversidade. Entre os personagens, tanto principais como também aqueles mais secundários, temos uma mulher negra, uma mulher trans asiática e um grupo de amigos homossexuais, onde pertencem homens gays, mulheres lésbicas, pessoas trans e travestis. Senti falta de personagens gordos e ainda acho que o número de representatividade pode ser aumentado, mas acredito que a mudança está vindo e sendo acrescentada em seus livros. Além, é claro, de já ter implantado outras culturas no segundo livro da trilogia, o qual se dedicou a explorar a cultura cigana.


Mas, tem algumas coisas que não me agradaram no livro, como:
– Os termos repetitivos: há muitas palavras, termos e nomes repetidos durante a leitura, o que acaba atrapalhando ao invés de auxiliar. Uma repetição que poderia ser utilizada para dar ênfase, acaba por se transformar em uma maneira de entregar tudo mastigado ao leitor, e isso muitas vezes se torna irritante e desnecessário. Porém é algo que pode ser observado com mais cuidado e melhorado na revisão.


– O instalove: os romances que acontecem ao longa da saga em sua maioria são rápidos e precoces. Os personagens se apaixonam no primeiro olhar, nas primeiras palavras trocadas e logo estão morrendo de amores um pelo outro. Às vezes isso pode funcionar, mas nem sempre. Em alguns momentos isso começa a se tornar repetitivo e meio difícil de se acreditar. É um amor tão forte, intenso e que ninguém pode separar, que acaba se mostrando um pouco artificial. Em alguns momentos seria mais prudente levar mais tempo desenvolvendo o romance do casal, dando mais espaço e atenção, e não correr com a relação, dando como um casal de almas gêmeas. Esse detalhe pode não incomodar a todos, já que há leitores que gostam desse artifício de escrita. 


Minhas impressões finais
Lá para os dez últimos capítulos eu senti um avanço na escrita do autor, uma seriedade mais forte na maneira que abordou certos assuntos e finalizou a história. Por mais que eu ainda siga achando que seus livros sejam mais voltados ao público infantil e jovem, isso não impede de ser uma boa leitura para qualquer idade, seja adulto ou mais velho. Também sigo acreditando que é uma ótima fantasia nacional, que todos podem se identificar com algum personagem e apreciar a leitura.


Esse terceiro livro, assim como a característica presente do autor, traz muitos acontecimentos ao mesmo tempo e ao final deixa várias pontas em abertas, os possíveis ganchos para as próximas continuações. Eu gostei dos novos super-heróis que apareceram e também pude me identificar bastante com a Nadila, a identidade secreta da Capoeirista Mascarada, que com certeza é a minha personagem preferida. 


Outro ponto que também me chamou atenção foi o tamanho de diversidade que há no livro. Há personagens negros, homossexuais, asiáticos, trans e nada disso fica com a impressão de ser forçado ou inserido por obrigação. Infelizmente em alguns momentos e diálogos a impressão que fica é a presença de estereótipos gays, algo que poderá ser evitado na futura revisão e em uma leitura mais atenta do livro pelo próprio autor. Eu conversei com o Demetrio sobre isso e ele me explicou que a intenção dele em nenhum momento foi deixar os personagens estereotipados, mas seria uma maneira de mostrar que certas ações não devem ser mal vistas. Eu entendi o ponto que o autor quis ressaltar, mas mesmo assim ainda indiquei que certos pontos sejam reavaliados e, quem sabe, mudados. 


As ressalvas que eu tive já passei para o autor e, possivelmente, serão analisadas e repensadas, e eu fico muito feliz por ter esse contato com o Demetrio e sempre ser ouvida com atenção e carinho. Eu pretendo continuar acompanhando a saga dos Rudamon’s e dos outros personagens, que possivelmente ganharão livros solos. Ainda mais porque um grupo de heróis foi criado ao final desse livro e eu preciso saber como serão as próximas aventuras e vilões. Estou bastante curiosa para ver os futuros desfechos para cada um deles. 


Rudamon III é uma fantasia nacional de super-heróis que deve ser lida e passada para os novos leitores. O livro é uma ótima maneira de prestigiar a Literatura Brasileira e incentivar os mais jovens a terem gosto pelo ato de ler. Deixo a saga de Rudamon como recomendação para todos.


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Este é um publipost, porém as opiniões acima continuam sinceras e verdadeiras, assim como as demais resenhas encontradas no blog.



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