Literatura

Resenha: “Onde Habitam as Trevas – Contos Obscuros #1” – Ge Benjamim

Onde Habitam as Trevas é o primeiro volume de Contos Obscuros, uma antologia escrita pela autora nacional Ge Benjamim, que causará muitos arrepios e noites mal dormidas nos leitores. Composto por sete histórias, em sua maioria narradas em 3º pessoa, a atmosfera sombria e agonizante que permeia em cada personagem traz para o leitor um ar sufocante e temido


Sendo histórias pequenas, com no máximo 3 páginas cada uma, me atentarei a dizer o mínimo possível de cada conto, apenas com o intuito de aguçar a curiosidade e interesse de vocês. Acredito que ao final dessa resenha vocês estarão envolvidos em cada pedacinho de trama e se sentirão incumbidos à procurar o exemplar mais próximo.


A dama: aqui entramos em contato com a história de Jonathan, que ao encontrar uma mulher perdida no meio da rodovia e quase atropelá-la decide então dar uma carona para a desconhecida, uma forma de desculpas pelo incidente. Mas todos nós sabemos que em histórias de terror caronas nunca terminam com um “obrigado”.


Nunca duvide dos avisos: um homem que há pouco tempo começou a trabalhar em um circo fica curioso por um local específico, o qual é proibido adentrar.  Porém, curioso, não imagina que as lendas possam ser verdadeiras e para provar isso a si mesmo decide explorá-lo sem ninguém saber. Como eu odeio circos, constatei de imediato que essa decisão seria burra e estúpida, mas o personagem não me escutou e insistiu para continuar por esse caminho, então bastou para mim acompanhá-lo e descobrir em conjunto sobre as barbaridades que ali ocorreram.


Entre mães: Lucilene perdeu o filho durante a gestação e para suprir a necessidade de ser mãe, com a ajuda do marido, começa a se aproximar e vigiar sua nova vizinha grávida. Não sei se o mais bizarro nessa história é a mente doentia de Luci ou a parceria entre a mesma e o marido. Nesse caso, casais que fazem travessuras juntos continuam juntos. 

O livro maldito e Sina: ambos abordam a temática de bruxaria e trazem, como um “prato cheio”, bruxas para admirarmos e temermos ao mesmo tempo. No primeiro conhecemos Bess, uma garotinha que ao lado de seu bode preto encontra um grimório perdido na floresta. Enquanto no segundo há uma mulher que está sendo acusada de praticar bruxaria e por conta disso toda a cidade a quer morta. As duas foram minhas preferidas, já que tenho um amor por histórias que envolvam bruxas, principalmente da maneira que a autora as retratou: frias e sanguinárias.


Terror a meia-noite: nesse conto temos o típico indagamento: “O que faríamos se recebêssemos uma corrente estranha e sombria no celular? Repassaríamos ou apenas ignoraríamos?”. No caso da personagem, que decidiu ignorar o vídeo misterioso e apenas o deletou do celular, coisas boas não ocorreram depois de tal ato. Pelo contrário, alguns barulhos e sentimentos estranhos começaram a surgir dentro da casa desde então, e cabe à ela não olhar para trás quando o relógio bater meia-noite. Acredito que esse seja uma das histórias mais assustadoras, por conta do teor assustador de ter algo a espreita nos observando. Depois de lê-lo levo comigo a convicção de nunca olhar para trás à meia-noite.


Se…: sendo um mini conto, constituído por poucas linhas e o único com narração em 1º pessoa, prefiro me atentar a apenas comentar que nessa história há uma viúva sofrendo pela ausência do marido (ou seria pela presença inesperada dele?). Tão pequeno, mas tão devastador. Dá para sentir a garganta seca ao final da leitura.

Livro pequeno em tamanho, mas que pode gerar grande desconforto, loucura e uma vontade enorme de sair lendo tudo que a autora escreve. A leitura é bastante fluida e por conta disso dá para lê-lo em “uma tacada só”, ou se preferir apreciar um conto por dia antes de dormir. Histórias que intercalam entre bruxas, espíritos amaldiçoados e perturbações humanas, um conjunto perfeito para abalar cabeças e enlouquecer até os mais fortes.

“(…) será que merecia tanto ódio e repulsa pelo que era? Sabia a resposta. Soube desde sempre. Na verdade, desde que, aos cinco anos, quando ainda mal se entendia por gente, descobriu seu fardo e sua verdadeira natureza.”

O quanto a autora me agradou?
Li o livro em apenas um dia e mesmo assim me “peguei” relembrando as histórias ainda depois, me colocando no lugar dos personagens e pensando como seria minha reação em seus lugares, se eu realmente conseguiria sobreviver à tantas maldições e desespero. Porém, há um ponto que eu preciso ressaltar: algumas histórias me pareceram um pouco clichês e com desfechos previsíveis. Não sei se o motivo para isso está ligado a minha experiência com o gênero em suas diversas mídias, já que conheço muitas obras e filmes que abordam exatamente o mesmo tema, ou se foi algo que surgiu inconscientemente da minha parte. 


Dando um exemplo rápido, o conto O Livro Maldito me lembrou bastante o filme A Bruxa e A Dama me remeteu à lendas urbanas conhecidas sobre mulheres de branco na estrada. Não digo de forma negativa, pois gosto de ambos os temas citados e de histórias clichês que me surpreendam de alguma forma, mas às vezes pode parecer cansativo para os leitores mais acostumados e embasados no gênero


Mas, independente disso, minha experiência de leitura foi positiva, tanto que gostei de todos os contos e não tive nenhum problema negativo com algum, mas tive preferência pelos dois que abordaram sobre bruxas, um dos meus temas preferidos dentro do terror e qual não tenho tanto costume de ler como deveria. Alguns até conseguiram despertar calafrios e olhares desconfiados ao redor. Uma leitura que me agradou e me deixou inspirada ao mesmo tempo, com uma vontade imensa de continuar lendo mais contos da autora.


Conhecer o trabalho da autora me abriu os olhos para procurar mais a fundo por escritoras nacionais dentro do terror, pois agora eu sei que há espaço para nós dentro do gênero. Chega a ser vergonhoso para mim, uma fã de terror e leitora ativa na busca da valorização de escritoras, não ter contato com mais obras de mulheres. Quero, além de continuar acompanhando os trabalhos da Ge, procurar mais histórias que me abram a mente e me deixem admiradas por suas criadoras. Inclusive, estou aberta para indicações, tanto nacionais quanto também de outros países.


Por conta do teor das histórias e da maneira fluida e fácil de que são contadas, acredito que a antologia seja um ótimo caminho para adentrar em livros de terror, principalmente para aqueles leitores mais jovens que não sabem por onde começar ou que tem medo de iniciar por uma obra mais extensa e mais pesada, como um Stephen King ou Mary Shelley. Porém, mesmo sendo uma ótima indicação para o público jovem, também é uma ótima pedida para qualquer admirador de histórias de terror, sendo assim “agradável” e recomendável para todos. Apenas aviso que após a leitura não haverá volta para uma vida cotidiana e menos perturbada.

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“Ninguém estará seguro e a morte colherá o próximo corpo quente daqui a 7 dias. Quando sua hora chegar, lembre-se bem e apenas obedeça. Jamais olhe para trás quando o relógio bater a meia-noite.”


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8 thoughts on “Resenha: “Onde Habitam as Trevas – Contos Obscuros #1” – Ge Benjamim”

  1. Que resenha incrível!!! Obrigada pela sua opinião quanto aos contos e fico feliz que tenha gostado. Eu também uma devoradora assídua do terror e talvez por isso minhas histórias tenham um toque meio "clichê", afinal, já vi, li e ouvi de tudo nesse universo, contudo vou procurar me atentar a isso e melhorar. Espero que os leitores possam curtir assim como você. <3

    1. Oi, Ge!
      Obrigada por compreender a minha opinião e gostar tanto da resenha! O meu toque quanto ao clichê não foi em nenhum momento agressivo ou exposto de forma negativa, eu até gosto disso em certas histórias. Fico feliz que tenha compreendido o meu lado e que tenha visto a crítica como uma maneira de mudar para melhor. Espero ler mais histórias suas e, quem sabe, na próxima vez um romance completo com muito terror para desfrutar. Sucesso!

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