Literatura

Resenha: “Crônicas da Lua Cheia: A Maldição do Lobisomem” – Clecius Alexandre Duran



Assim como os protagonistas de O Médico e o Monstro, clássico da literatura de horror, em A Maldição do Lobisomem também encontramos a dualidade dentro de um mesmo ser humano cada um lutando para ganhar espaço integral naquele corpo. De um lado há Alexandre Scavarelli, o humano. Advogado, mas com nenhuma paciência e aptidão para convívio social, o homem divide seu tempo entre o emprego e o vídeo game, tentando ao máximo reprimir nas noites de lua cheia o selvagem que habita dentro de si. Contrapondo a isso há Solitário, o lobo. Sendo “solto” apenas em determinadas noites e tendo dificuldade em conviver com o seu humano, uma vontade de livrar-se daquela outra pele cresce no lobisomem.


As brigas entre Alexandre e Solitário se intensificam quando o humano conhece o moto clube Lobos do Asfalto, um bando que trará diversos pensamentos e sofrimentos para ambos. Ao se tornarem parte do grupo regras deverão ser seguidas. Laços afetivos externos são proibidos. Amores e amigos são deixados para trás, tendo o bando como único refúgio e obrigação. Ideais são colocados à prova, trazendo embates dentro do grupo. Com isso os interesses pessoais entre humano e lobo se distanciam ainda mais, e as consequências de atos inesperados surgem como uma bomba: destruidora e fatal.


Através de uma narração não-linear em 3º pessoa, o autor intercala entre lembranças anteriores ao encontro com o moto clube e o presente de Alexandre, onde uma visita a um antigo amor se torna necessária e urgente. As cenas são compostas por descrições intensas, inclusive nos momentos de violência e liberdade do lobo, contendo assim bastante sangue espirrando e ossos sendo quebrados.

“Seu amor é tão imenso que, se pudesse verter sua alma em sílabas, a força daquele sentimento reverberaria, sem esmorecer, pelos séculos vindouros.”



Como foi o meu primeiro contato com histórias de lobisomem?
Quando vi a oportunidade de participar do projeto Lobisomem Itinerante e ter a chance de ler um livro do autor Clecius Alexandre não pude recusar. Já o acompanho nas redes sociais há algum tempo e desde então venho o admirando de longe. Sempre carismático e divertido, isso fez com que minha curiosidade sobre seus livros crescessem ainda mais.


Enfim o livro chegou em minhas mãos. Demorei alguns dias para iniciar a leitura, mas quando o fiz senti que foi exatamente no momento certo. Por mais que a escrita do autor tenha me incomodado em certos aspectos, por conta da forma rebuscada que escreve, isso não fez com que a minha leitura fosse massante ou arrastada. Pois contrapondo a isso havia as descrições detalhadas que me enchiam os olhos. Eu adorei cada cena visceral, e por conta disso eu gostei ainda mais de poder acompanhar o lobo em suas caçadas noturnas, já que as partes que continham a sua alimentação eram bem descritas e me deixavam entusiasmada, fazendo até mesmo que eu torcesse para o animal e não para as vítimas. Mórbido, porém verdade.


Sendo o primeiro livro que li dentro do tema de lobisomem, acredito que comecei pelo jeito certo. Além de conhecer um novo autor nacional e apreciar seu trabalho, pude conhecer um pouco mais sobre a mitologia noturna dessas criaturas, o que me agradou imensamente. Sei que há um segundo livro de Crônicas da Lua Cheia e já me sinto na obrigação de lê-lo urgentemente, tanto para continuar a acompanhar a escrita e história criada pelo autor como também para poder expandir ainda mais o meu conhecimento dentro da fantasia nacional.


O final me surpreendeu e me encantou. Não esperava por tais ações e resultados, então apreciei o desfecho. Acredito que foi o final perfeito para a jornada de Alexandre e Solitário. Digno e libertador na medida certa. Fez com que eu concluísse a leitura com um quentinho no coração e uma pontada de esperança sobre um possível novo destino para os personagens. Queria morar nessa história e acompanhá-los para sempre.


O enredo brinca com a mitologia do lobisomem colocando-o em nossa atualidade, sendo quase impossível não haver citações e referências à cultura pop e gostos compartilhados com o leitor. Eu, por exemplo, me diverti bastante ao saber que Alexandre adorava se aventurar ao lado de Kratos (God Of War), assim como eu. São esses pequenos detalhes que fazem com que o leitor se aproxime ainda mais dos personagens, criando um laço e uma conexão inquebráveis.


É claro que diante dessas observações e gracejos a indicação se torna obrigatória, seja fã de fantasia ou não. A história é cativante e prende sua atenção, mesmo que Alexandre consiga tirar o leitor do sério em certos momentos. Além de estar dando atenção a leituras nacionais e prestigiando autores de sua região, de quebra você também adentrará em uma história surpreendente e inesperada. A Maldição do Lobisomem lhe espera de braços abertos e garras afiadas, pronto para lhe mostrar o melhor do bando da lua cheia.

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20 thoughts on “Resenha: “Crônicas da Lua Cheia: A Maldição do Lobisomem” – Clecius Alexandre Duran”

  1. Oi, Thainá! Não conhecia o livro e o autor, mas não me interessei muito. Eu não sou muito de narrativas sobrenaturais. Fiquei meio confusa sobre como os dois coabitam ao mesmo tempo, acho que só lendo pra descobrir hehe. Não é o tipo de história que procuro no momento, mas acho que quem gosta do gênero vai querer conhecê-la 🙂

    Love, Nina.
    http://www.ninaeuma.blogspot.com

    1. A maneira como eles coabitam no mesmo corpo é a mesma explorada em filmes de lobisomens, caso já tenha assistido a algum. Não fica muito distante da mitologia explorada geralmente, sabe? Mas te entendo, Nina. Obrigada por ler minha resenha e deixar seu comentário! ♥

  2. Olá, como vai?
    Eu ainda não conhecia o livro e achei a premissa dele interessante, embora já conhecida. Gostei bastante da sua resenha e adorei a dica, é o tipo de livro que eu leria cheia de expectativas.

  3. Olá Thainá, como vai?
    Faz bastante tempo que eu não leio nenhum livro sobre lobisomens, teve uma época na minha adolescência que eu lia muito sobre esses seres mitológicos mas, com o tempo as histórias foram ficando muito parecidas umas com as outras e, eu acabei perdendo o interesse nelas. Acredito que esse seja o principal motivo para eu não conhecer esse livro! Sua resenha ficou ótima, tenho certeza que se eu fosse lê-lo estarei cheia de expectativa e ansiedade para saber o final da história.

    Beijos e Abraços Vivi
    Resenhas da Viviane

    1. Oi, Vivi! Obrigada! ♥
      Tem algum livro de lobisomem para me indicar? Gostaria de explorar mais essa mitologia dentro da literatura, esse foi o primeiro que tive contato. Mas que legal que você costumava ler essas histórias quando mais nova. São seres mitológicos muito ricos que se utilizados de maneira certa dão ótimas histórias, né?

  4. Não conhecia o livro e se eu fosse me basear apenas na sinopse e capa, confesso que passaria batido. Não senti atração pelo enredo logo de cara, mas fui conquistada com a sua resenha. Pois ela deixou claro que há MUITO mais nessa história e gostei disso =)

    Sai da Minha Lente

    1. Obrigada, Clay! ♥
      Às vezes a sinopse e a capa não trazem o essencial da história, né? Fazendo com que não desperte nada em nós. Mas fico contente em saber que minha resenha trouxe sentimentos opostos. Espero que em breve você possa conhecer pessoalmente a história e se deliciar com cada parte.

    1. Não sei se ainda há vaga no projeto, mas caso tenha interesse tente falar com o autor. Às vezes pode surgir uma oportunidade e você ser encaixada entre os leitores. É o segundo book tour que participo esse ano e projetos assim só me trazem livros maravilhosos! É sempre uma experiência incrível.

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