Tem que fazer uma cruz pra ela é um livro real e cru sobre como os mais pobres são inviabilizados, tratados com descaso e esquecidos pela resto da população. Sempre há um jeito de domar os que não são bem vindos, os que mais precisam de ajuda. Sempre há um jeito de tirar toda a humanidade, a razão e a consciência de luta desse povo.
Admito que eu sou uma pessoa que consome bastante a história dos campos de concentração nazistas, mas não imaginava que isso ocorreu antes na nossa história. Fiquei devastada e me senti uma impostora. Afinal, realmente damos atenção apenas ao que vem de fora e esquecemos dos nossos.
“Uma vida que já nasce pra morrer. E não há nem tempo de chorar defunto porque quem ainda vive precisa mesmo é trabalhar e sobreviver, pensava Josué.”
Título: Tem que fazer uma cruz pra ela Autora: Ana Baldo Quantidade de páginas: 192 O Grifo Editora Gênero: Ficção / Literatura Brasileira / Romance Ano: 2023 Skoob: Clique Aqui Compre:Amazon | O Grifo Use o cupom OSONHAR10 e ganhe desconto no site da editora! Minha classificação: ★★★★★ (5/5) * Livro cedido pela editora
Uma jornada pela seca, pela fome e pela dor
Em meio a uma devastadora seca na década de 30, no sertão no Ceará, Josué deixa a casa da família e segue um rumo em busca de uma vida melhor. Cansado pela obediência cega do pai ao patrão, ação que ocasiona ainda mais fome em um tempo em que precisam sobreviver e cuidar uns dos outros.
Nesse caminho, nosso querido Josué encontrará uma família, também retirante. Ali, crescerá uma amizade e cuidado mútuos, seguindo juntos com o sonho de chegar em Fortaleza. O que nenhum deles imaginava era que, antes do destino final, um meio de trabalho se mostraria como uma pequena salvação, mas sendo, no final, um engano ainda mais doloroso.
Doloroso: acho que essa é a palavra perfeita para descrever esse livro. Baseado em um momento cruel (e esquecido) da história brasileira, a autora traça linhas e paralelos com as vivências dessas pessoas que tentarem sobreviver aos campos de concentração no Ceará. Cada página nos sufoca, nos alerta. Espreme o nosso coração. Sem dó, sem rodeios. A pura verdade com as palavras mais doces e poéticas que poderiam ter.
“Ninguém se importa, disse a mulher que chorava. E ninguém se importava. Ninguém os via. Não como gente. Nesse instante, Josué se viu também como um estorvo, uma vida que precisava ser escondida, excluída, quem sabe até findada.”
Reprodução: Biblioteca Pessoal
Tem que fazer uma cruz pra ela é um livro obrigatório para todo leitor e não leitor
Adoro quando um livro me tira da minha zona de conforto e fica encravado na minha cabeça por dias a fio. Qualquer coisa me faz pensar nele, nos personagens e na mensagem que se fixaram em mim. Esse livro é um desses.
Quando comecei a ler, por conta de seu número de páginas, pensei que seria uma leitura rápida e tranquila. Engano meu. As palavras da autora nos machucam, então, mesmo tendo poucas páginas, os sentimentos são aflorados e fazem com que nosso ritmo seja mais devagar.
Isso também se faz porque tentamos entender a história, a vivência do protagonista e aonde iremos chegar com a tal caminhada. Temos uma busca por liberdade, mas, no fim, encontramos um aprisionamento que transformará o protagonista (e a gente também) em nada.
Fazia tempo que eu não me emocionava tanto com um livro. Me peguei aos prantos na última página, depois de ler as últimas linhas. Eu me afeiçoei a Josué e não queria deixa-lo. Dar um fim a isso foi muito difícil e melancólico.
Por isso, Tem que fazer uma cruz pra ela é um livro para nos lembrar e não nos deixar esquecer. É doloroso, mas necessário. Arranca um grande pedaço da gente, mas esse é seu dever. É leitura obrigatória. Pra todo mundo.
Você já conhecia a história dos campos de concentração no Ceará? 💬
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