Literatura

Resenha: “Não tão branca” – Jessie R. Fauset

Não tão branca foi publicado pela primeira vez em 1928, mas só trazido para o Brasil em 2021. Mesmo quase se passando 100 anos de escrito, a obra ainda se mantém tão assustadoramente real.

Com uma escrita potente, reflexiva e repleta de detalhes, Jessie Fauset consegue tecer um retrato de uma época que ainda traz os seus traços para a atualidade.


“— Oh, negra! Bem, é claro que você a chamaria de estadunidense, embora eu nunca pense em negros como tais. Negra, sim… isso explicaria a infelicidade em seu rosto. Suponho que todos eles odeiam isso.”


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Título: Não tão branca
Autora: Jessie R. Fauset
Quantidade de páginas:
 320
Editora Escureceu
Gênero:
 Ficção / Literatura Estrangeira / Romance
Ano: 2021
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Minha classificação: ★★★★★ (5/5)

Uma jornada de autoconhecimento

Angela Murray é uma jovem negra, de pele clara, que cresceu na Filadélfia. A sua família sempre batalhou para dar o melhor para as duas filhas, ensinando valores religiosos e sociais que se desvincularam de Angela no caminho de seu crescimento.

Nisso entra a atitude tomada por Angela desde nova. Para não sofrer racismo e ser aceita em lugares segregados (e por pessoas brancas), ela começou a fazer proveito de sua cor mais clara, não dizendo que tinha pai e irmã negros retintos.

Como cresceu em Filadélfia, era fácil encontrar e saber sobre a família de Angela. Isso a fez se mudar para Nova York para seguir a carreira artística e construir uma nova vida embasada em seus (maus) princípios.

Não tão branca é uma obra tocante e reflexiva que trata sobre a questão de negar a sua origem, a sua família, mas também trata sobre como é sobreviver em um mundo cercado pelo preconceito e pela exclusão, um mundo que não aceita os seus. Angela vive de perto a solidão, principalmente por não pertencer a nenhum dos lados das raças. Mas ela também se desenvolve e cresce internamente ao estar sujeita a passar por tudo que a indiferença e o apagamento trazem.


“A cor – ou a falta dela – parecia o único pré-requisito absoluto para a vida com a qual ela sonhava. Alguém poderia se livrar de um senso de dever muito forte; a pobreza poderia ser superada; médicos resolviam a falta de saúde; mas cor, o mero tom negro ou branco da pele, era claramente um daqueles dotes fortuitos dos deuses.”

Reprodução: Biblioteca Pessoal

Não tão branca começa lento, mas nos cativa com os detalhes

É engraçado quando estamos lendo um livro, mas, mesmo sendo agradados, pensamos não estar tão conectados com a história. Só no fim, nas últimas páginas/linhas, percebemos que o livro estava mais intrínseco em nós do que imaginamos. Não tão branca teve esse efeito em mim.

Desde o início eu estava gostando da leitura, aproveitando-a. E quando eu não lia, me sentia curiosa e com vontade de retornar ao livro. Mas, mesmo assim, pensei que seria um livro que ficaria ali no gostar. Só percebi que tinha o amado quando, nas últimas linhas, eu chorei. Aqui não há foco no romance, há apenas algumas migalhas, mas eu me apeguei profundamente a elas e por isso chorei no final.

O livro, escrito em 1928, traz questões sociais e raciais que são relevantes até os dias atuais. O debate sobre colorismo, racismo, pobreza; sobre como a sociedade enxergava (e ainda enxerga) as pessoas negras, sobre como as pessoas ao redor são julgadas, sobre o papel da mulher.

Por conta dos detalhes, o livro é meio lento, pois a autora pesa a mão nas descrições, mas isso não prejudicou minha leitura. Eu realmente queria saber mais das pessoas, das situações, das paisagens, das vivências. É tudo muito vívido, parecendo que estamos acompanhando de perto a Angela. Tive raiva dela em muitos momentos, mas ver de perto a sua evolução, principalmente no quesito social, é emocionante e satisfatório.

No fim, foi uma leitura maravilhosa que tomou grande tempo de mim, mas que me deixou satisfeita ao virar as últimas páginas. Um clássico que perpassa o tempo. Um clássico que continua atual e forte, como sinônimo de resistência e de vivência.

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