Literatura

Resenha: “Bluebird, Bluebird” – Attica Locke

Bluebird, Bluebird é uma obra importante em vários quesitos. Primeiro, traz a vivência da pessoa negra no Leste do Texas, provavelmente um dos lugares que eu ainda não havia tido contato através da Literatura. Em segundo, aborda temas como o racismo, a obsessão amorosa e os fatais crimes de ódio.

Attica Locke é uma mulher negra que vive no Texas, ou seja, ela sabe sobre o que está falando e suas palavras são concretas, verdadeiras. Ela, além de escritora, foi roteirista de um episódio da minissérie Olhos que condenam, da Netflix, que, particularmente, me envolveu demais, inclusive recomendo para todo mundo, e também é roteirista e produtora da série Empire: fama e poder. A autora tem outros livros publicados que, com toda a certeza, farão parte da minha lista de desejados.

Reprodução: Biblioteca Pessoal

Leia também: Penitência, de Kanae Minato

Título: Bluebird, Bluebird
Autora: Attica Locke
Quantidade de páginas: 304
Editora Vestígio
Gênero:
 Ficção / Romance policial / Thriller
Ano: 2020
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Minha classificação: ★★★★★ (5/5)
* Livro cedido pela editora

O ódio racial e a obsessão romântica nos dias atuais

Nascido e criado no Leste do Texas, o local que adora chamar de lar, por influência de seu tio e por também desejar trazer a justiça que as pessoas negras merecem Darren Mathews tornou-se um Texas Rangers, sendo um dos poucos homens negros com tamanha autoridade. Entretanto o seu distintivo é retirado e Darren é suspenso da polícia quando tenta ajudar e acalmar um amigo que tem a propriedade invadida, resultando em um assassinato inesperado.

Enquanto tenta clarear a mente e não surtar com a decisão futura sobre o possível destino do amigo e o seu próprio, Darren fica sabendo de um assassinato que ocorreu em Lark, uma cidade próxima: um homem negro, residente de Chicago, e uma mulher branca, residente local da cidadezinha, foram mortos e seus corpos encontrados em um rio. A autoridade de Lark não vê uma ligação entre os dois assassinatos e afirma a possibilidade de que o homem desconhecido foi morto em um assalto, dando assim mais atenção a morte da mulher branca.

Darren, curioso com o ocorrido e desejoso por respostas, adentrará em um jogo de poder muito perigoso para pessoas de sua raça, tendo assim que lidar com o desdenho e má investigação da polícia local como também com a própria IAT, a Irmandade Ariana do Texas.

Quanto mais o Texas Rangers cava, mais problemas e menos soluções ele encontra. Os dois crimes estão mesmo relacionados? Um deles é um crime de ódio contra a raça do homem negro ou Darren está vendo apenas o que deseja ver? E a justiça? Ela realmente acolhe a todos ou apenas aqueles que a convém?


“Por gerações, mulheres negras no Texas levantavam quatro paredes, preparavam uma boa receita e faziam algum dinheiro com os negros que vinham de todos os cantos, pelo simples fato de que ali era um lugar onde eram bem-vindos.”

Reprodução: Biblioteca Pessoal

O racismo atual e fatal do Texas

Iniciei esse livro sem me lembrar nada da sinopse, esperando que assim a história me surpreendesse de alguma forma. A única coisa que lembrava era de se tratar de um suspense. E, bom, consegui ser surpreendida.

A autora tem uma escrita única – lenta, mas repleta de detalhes – que nos deixa instigados a saber o que está acontecendo de verdade naquela cidade. O que não estamos vendo? Ela trata de crimes raciais, racismo e ódio, de maneiras tocantes, sufocantes e incômodas. É impossível ler e não se sentir incomodado com tais nomes, tais termos.

A atmosfera pesada da história nos faz perceber que há algo de errado e isso vai nos corroendo ao mesmo tempo que corroe o protagonista. Há segredos, assassinatos e uma forte descrença com a justiça, como se entre o povo negro não houvesse mais esperança. Mas será que, no fundo, ainda resta um pensamento de que tudo pode ser resolvido e de que a justiça prevalecerá?

É um suspense lento, que não tem grandes plot twists ou reviravoltas a cada capítulo, mas que traz dosagens certeiras de surpresas que deixarão o leitor de queixo caído. Eu não adivinhei o desfecho e fui arrebatada por ele, principalmente pelo “epílogo”, um capítulo final, que deixa um gostinho amargo na nossa garganta.

O livro se passa em 2016, mas o racismo ainda é tão vivo no Leste do Texas (como em outros lugares) que, muitas vezes, temos a impressão de estarmos lendo uma história do século passado. E isso nos mostra como as barreiras raciais ainda permanecem intactas através dos anos, e isso talvez seja a parte mais aterrorizante da obra.

Bluebird, Bluebird é um livro enriquecedor, tanto por conta dos temas abordados como também pela obra em si, pelo seu significado. A leitura nos faz abrir os olhos para a realidade de agora que, mais do que nunca, precisa ser transformada, mudada. Por isso recomendo demais esse livro, principalmente pelo forte tema racial e de intrigas familiares ambientadas no Texas.


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2 thoughts on “Resenha: “Bluebird, Bluebird” – Attica Locke”

  1. Eu fiquei sabendo desse livro recentemente e já tô muito curiosa com ele porque eu assisti Olhos Que Condenam e fio uma série que me pegou de um jeito que eu fiquei com muita raiva e achei que foi uma série incrivel.
    Eu tô muito curiosa com essa história, parece ser muito incrivel, já coloquei na wishlist e sua resenha me deixou ainda mais animada pra isso, adorei!!

  2. Olá, não conhecia o livro e acho a temática importante, as pessoas ainda romantizam um ‘amor’ obsessivo e o racismo ainda é algo pungente na sociedade, sobre a escrita ser lenta, não me incomoda quando a ideia é bem construída, quando há lealdade do parte do escritor com a literatura. Espero ter a oportunidadede ser surpreendida como você ^^

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