Literatura

Resenha: Precisamos Falar Sobre o Kevin – Lionel Shriver

Reprodução: Google

Precisamos Falar Sobre o Kevin
Autora: Lionel Shriver
Editora: Intrínseca
Ano: 2012
Minha classificação: 
(5/5+favorito)
Kevin é um adolescente que está prestes a completar 16 anos, porém, três dias antes de seu aniversário ele decide matar oito colegas de classe, uma professora e um funcionário da escola. Após ser preso por esse ato, a sua mãe Eva Khatchadourian através de uma narrativa em primeira pessoa nos conta sobre a vida e convivência da sua família, desde a sua decisão em ser mãe pela primeira vez até o momento em que seu filho mais velho ficou conhecido como um sociopata.

Eva nunca quis ser mãe. Dona de uma empresa especializada em folhetos que buscavam divulgar os restaurantes e as hospedagens mais baratas ao redor do mundo, Eva era quem viajava para todos os países atrás de informações para o seu trabalho. Suas viagens pelo mundo e o marido Franklin eram o que havia de mais importante em sua vida, e só isso bastava para se sentir completa e feliz.


Porém, Franklin queria ser pai, e imaginava que com um filho em casa faria com que Eva desistisse de suas viagens e se dedicasse exclusivamente a família. Mesmo depois de muito relutar, ela acaba por concordar com a ideia de ser mãe e imagina que isso fará com que o marido não a abandone nunca, então fica grávida de seu primogênito, o complicado Kevin.


Kevin desde pequeno nunca se relacionou bem com a mãe, ao contrário de sua relação com o pai que sempre foi carinhosa e calorosa. Os dois não suportavam a presença um do outro e quase nunca conseguiam ter uma conversa onde Kevin não rebaixasse a mãe ou destorcesse suas palavras. Era como se Kevin pressentisse desde quando estava na barriga de que não era bem vindo para Eva. A relação entre mãe e filho ficava mais conturbada ao passo de que o menino ia crescendo e se tornando quase um homem.


Depois de alguns anos, Eva e Franklin acabam tendo um segundo filho, a pequena Celia, uma garota adorável e que nutre uma relação de muito afeto com a mãe. Um tipo de “experimento” que Eva faz para ter a certeza de que Kevin é diferente das demais crianças. Tanto antes como depois do nascimento de Celia, ocorrem acontecimentos desastrosos e trágicos, no qual o Kevin é visto como o culpado de todos aos olhos da mãe. Fica ao critério dos leitores decidirem se realmente foi culpa do Kevin ou apenas uma forma de implicância da parte de Eva.


A narração é em primeira pessoa e feita por Eva, que conta com detalhes cada etapa da vida do Kevin, desde o nascimento até o presente momento, no qual ele se encontra preso e prestes a completar 18 anos. A história é pesada, lenta e bastante descritiva. Se você já é mãe, vai sentir ainda mais o impacto das palavras de Eva, e digo isso de uma forma não tão positiva. A personagem deixa claro em todos os momentos que o filho não foi desejado por ela, e que por isso acaba por ver em Kevin todos os defeitos que talvez ele nem tenha.


Minha opinião
Que livro é esse, minha gente? Ufa! Quando terminei a leitura estava sem fôlego, sem reação, apenas querendo deitar no chão e chorar sem parar. Eu já havia assistido ao filme uns anos antes, mas não lembrava daquele final, e nossa, me impactou de uma maneira tão extrema que eu me senti mal até chegar na última página.
Uma história que divide tantas opiniões sobre a mente psicótica do Kevin, que acabei me enchendo de teorias. Será mesmo que o Kevin já nasceu com uma mente sociopata ou será que a mãe dele é a principal razão para isso? Seu pensamento psicopata resultou de uma mãe fria, desatenciosa e que dizia para ele desde que estava na barriga de que ele não era bem vindo por ela? A minha opinião é a seguinte (e pode ser diferente da sua): para mim, o Kevin já sentia quando estava na barriga que a mãe não queria tê-lo, e que aquele processo de gravidez era como algo obrigatório para ela, algo que não trazia felicidade e muito menos paz. Ao meu ver, o Kevin cresceu sem o amor da mãe e isso fez com que ele desenvolvesse uma mente fria e solitária. Queria deixar claro que não sou psicologa e nem faço esse curso, e muito menos entendo de mente humana ou serial killers, porém essa é a minha visão, e esses sentimentos da Eva só me deixaram mais insegura em relação a maternidade, e direi o porquê.
Eu tenho os mesmos pensamentos que a Eva tinha antes de engravidar pela primeira vez. Eu tenho medo de ter um bebê e não conseguir passar todo o carinho e amor que ele irá precisar. Quando eu digo que não gosto de crianças sempre tem alguém para dizer que esse meu pensamento irá mudar quando eu tiver a minha, e isso era o que a própria Eva escutava. Ser responsável por alguém, um ser tão pequeno e indefeso, eu me sinto tão insegura quanto a Eva se sentia. E assim como ela, eu também tenho medo de chegar a hora do nascimento e eu não sentir aquele grande amor que todos falam. Esses sentimentos me deixaram mais conectada com a história e me fizeram entrar de cabeça nos personagens. Eu me senti na pele da Eva e muitas vezes eu me colocava no seu lugar: e se isso fosse comigo?
Por mais que eu ache que essa falta de amor materno tenha influenciado o pessoal do Kevin, não acredito que a mãe tivesse alguma culpa no assassinato do filho. Afinal, como uma personagem diz em uma determinada parte da história, sempre culpam a mãe pelo ato do filho, nunca lembram que por trás de uma criança também existe um pai, e que nenhum dos dois é propriamente culpado pelas ações dos filhos. Foi algo também que tocou no meu interior e me fez refletir sobre certos pensamentos que eu nutria.
Provavelmente eu poderia falar sobre esse livro por horas a fio, mas vou me policiar a não descrever cada sentimento que tive durante a leitura, pois se não esse post irá se estender mais do que o habitual. Quero dizer que eu gostei muito da leitura, tanto que virou favorito, e que deixo-a como indicação para todos que gostam de um ótimo drama psicológico e de histórias mais profundas. Talvez não mude a sua opinião sobre determinado assunto ou não te toque como me tocou, mas acredito que fará a diferença entre as suas leituras, e que você jamais se esquecerá do Kevin.


Deixo também a adaptação como recomendação, tanto para aqueles que já leram o livro como também para aqueles que preferem se aventurar nas telas. Ezra Miller, assim como os atores miris, está ótimo no papel de Kevin e transmiti perfeitamente o olhar frio de sociopata do personagem. Tilda Swinton, uma das minhas atrizes preferidas, está maravilhosa como Eva, nos passando todo o sofrimento e agonia de uma mãe, tanto fisicamente como também mentalmente. É um filme espetacular, que mesmo tendo os seus defeitos (pois, assim como outras adaptações, “corta” algumas partes essenciais do livro) se ressalta através da sua fotografia e atuações.

10 thoughts on “Resenha: Precisamos Falar Sobre o Kevin – Lionel Shriver”

  1. Acredita que eu nunca li? Assisti e só consegui sentir revolta com a mãe dele, isso sim. Porém a história é perfeita para refletirmos a respeito. Eu ainda quero dar uma chance para a leitura.

  2. Eu acho que se ler vou achar a Eva muito implicante e culpada pelo jeito que o filho é. auahu Se não queria ter um filho porque aceitou? E ainda tem outra filha depois pra aceita-la mas continuar destratando o primeiro? uahuahuahau Enfim, não li nem vi, mas vou tentar ver para tentar pegar um gostinho para ver se vou querer pegar o livro.

    Bites!
    Tary Belmont

    1. Olha, eu te entendo! Aliás, em vários momentos a minha impressão foi de que a própria Eva transformou o filho em sociopata, principalmente por causa da maneira que ele era tratado desde que estava na barriga, por mais que ela não tenha culpa do massacre. É complicado julgar, mas, o interessante da leitura é que cada um tem a sua própria impressão, gerando assim uns ótimos debates. 😀

  3. Eu ainda não vi o filme e nem li o livro nem sei porque, mas história é super interessante, uma amiga tbm me indicou.
    Não sabia desse papel que a mãe dele tem, que coisa, seu questionamento é de se pensar, será que ela n tem culpa? Bom eu não sei, preciso ver a história tbm para tirar uma conclusão rs
    Beeijo

    1. É meio confuso, né? Na minha visão, ela tem culpa pela frieza do filho, porém, não tem culpa nos assassinatos que ele cometeu. É meio complicado, você tem que ler e tirar sua própria conclusão, até porque você deve ter visões de vida diferentes da minha. Deixo o livro como recomendação, caso se interesse em se arriscar na história.

  4. Eu assisti ao filme e ele se tornou um dos meus queridinhos. Eu gosto muito de obras que mexem com o psicológico e essa é com certeza, uma delas. Esse livro está na minha wishlist há algum tempo, mas sendo uma obra mais pesada, a gente precisa estar mais preparado, né?
    Beijos! ♡
    Colorindo Nuvens

    1. Verdade! Eu geralmente gosto de ler esse tipo de livro quando estou em algum momento muito feliz da minha vida, pois acredito que pode trazer muita coisa ruim se for lido no pior momento, inclusive pode até mesmo não se aproveitar da história da maneira certa. Por mais que seja forte, é um livro que vale muito a pena ser lido. Se você gostou do filme, garanto que vai gostar ainda mais da leitura. Pelo menos foi isso que aconteceu comigo, hahaha.

  5. Nunca li o livro, na verdade não sabia que tinha haha', vi i filme e fiquei, digamos que, perturbada. É tão profundo, me levou a tantas reflexões…
    Sua resenha ficou ótima!

    1. Eu tive a mesma reação quando vi o filme, mas também só descobri que era uma adaptação depois. Acredito que isso seja o melhor desse livro, exatamente as reflexões e dilemas que ele traz. É cada pancada no estômago, né?
      Muito obrigada! <3

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