“Maria Angélica de Andrade tinha sessenta anos. E um amante, Alexandre, de dezenove anos.”
Maria Angélica de Andrade é uma mulher rica. Tem o poder de desfrutar das melhores coisas materiais da vida, porém vive sozinha em uma grande e solitária casa. Em um dia ao fazer um pedido em uma farmácia e pedir para que lhe entreguem na própria residência, a idosa tem o seu primeiro contato com o entregador, Alexandre, um jovem bonito e que logo “rouba” o seu coração.
No começo não é fácil conquistar o jovem, principalmente por conta da grande diferença de idade. Mas, sendo o rapaz muito ambicioso, extrai da mulher tudo que o dinheiro possa lhe garantir e em troca finge nutrir uma espécie de relação com Maria. Alexandre não faz questão de mentir ou de fingir amor, deixando claro que as relações sexuais são frutos dos presentes que recebe. Mesmo assim a mulher continua amando-o e satisfazendo as suas vontades.
Porém por ser tão jovem e se forçar a ter uma relação por obrigação, Alexandre acaba desenvolvendo alguns problemas pessoais que o perseguirão pelo resto da vida. Mesmo assim, o rapaz continua com Maria, mas há momentos em que faz questão de mostrar para ela que outras mulheres também entram em sua vida e que, inclusive, algumas têm mais valor do que aquela que não lhe deixa faltar nada.
Esse convívio que se intercala em uma relação de amor e ódio, traz um resultado inesperado para a vida de Maria, fazendo com que a idosa abra pela primeira vez os olhos e enxergue a verdade que a vida sempre quis lhe mostrar. A decisão final poderá não ser uma surpresa para o leitor, mas trará reflexões que poderão ir muito além do esperado.
Através de uma narração em 3º pessoa, Clarice traz uma narradora que se passa por expectadora e que julga, mesmo nas entrelinhas, as atitudes solitárias e desesperadas da personagem principal. Fica claro a mensagem de desespero, solidão e carência que o conto traz enfezado dentro de Maria, sendo a personagem como a personificação de todos esses sentimentos. Uma história que falará sobre isso e muito mais, englobando também um ar de manipulação, melancolia e, ao fim, alívio.
Falando sobre a história em si, acredito que a personagem principal, a idosa, apenas queria ser amada, assim como todos nós, e que tentou em vão procurar esse amor no jovem manipulador. Sem querer entrar em detalhes ou entregar o ouro, o final me pareceu um tipo de alívio, de certa forma. Encarei que a chuva e a última frase poderiam estar relacionadas com os sentimentos internos de Maria, como se fosse uma metáfora.
Um conto que poderá parecer simples aos olhos desatentos como os meus, mas que trará uma grande experiência de leitura e indagações pessoais para todos. Para aqueles que já conhecem a escrita da Clarice, talvez seja mais fácil identificar significados e profundidade em temas tão simples, algo que ainda gera uma certa dificuldade para mim. Mas espero que todos aqueles que lerem consigam extrair algo de bom e uma mensagem que fique com você, seja motivacional ou apenas como uma lembrança boa. Recomendo que leiam o conto e sintam a Maria na pele (e dentro de você).
Mas Vai Chover pode ser encontrado no livro Clarice Lispector – Todos os Contos, que é uma antologia maravilhosa da escritora, e também no livro A Via Crucis Do Corpo, ambos da editora Rocco. Não esqueçam de entrar no grupo para participar do debate dos próximos contos. Conto com a presença de vocês nesse final de ano e para começar 2018 recheados de Clarice!
Participe do grupo! |
Oii.
Algumas vezes eu ouvi falar que a Clarice trata em suas obras de assuntos pesados, que ela é bem impactante. Ainda não li nenhum livro/conto dela, mas gosto de ler as críticas e as coisas que os leitores absorvem.
Pelo o que você contou, a história é angustiante, e trata sobre a solidão e o que as pessoas estão dispostas a fazer para ter um pouco de companhia, até mendigar amor. O que me chamou atenção também foi a idade da protagonista, acho que significa que não são apenas os jovens que caem na solidão e se doam de forma errada, esse deve ter sido o objetivo da autora ao escolher a idade da personagem.
Gostei muito do projeto ^^
Beijos,
Cupcakeland
Oi, Karol!
Não havia pensado nessa questão da idade, ótima observação! Esse conto traz muitas reflexões sobre solidão e a maneira que damos/recebemos amor. Até mesmo sobre aqueles relacionamentos tóxicos onde apenas uma pessoa se dá por completo e só exige amor em troca.
Esse ano o projeto continuará, caso se interesse em participar! ♥
Confesso que nunca tinha visto resenha desse livro e nunca cheguei a parar pra saber do que se tratava. Achei bem interessante, um livro com uma historia bem atual, afinal não faltam casos assim hoje em dia. Uma pena a leitura não ter fluido tanto pra vc.
Beijos
Blog: http://naturezaliteraria.blogspot.com.br/?m=1
Na verdade é um conto, mas antes de lê-lo também não havia tido contato com resenhas. E a leitura fluiu sim, até porque a quantidade de páginas é pouca, então a leitura acaba sendo rápida. No meu caso, não tive problema com a fluidez do texto, e sim com as interpretações, que para mim não foram tão profundas como de outras pessoas.
Olá, tudo bem? Nossa, que bacana este livro! Já tinha visto por aí, mas não sabia que era de vários contos da autora. Adorei tua resenha e fiquei curiosa pra ler este, apesar de não ter sido uma leitura incrível.
Beijos,
Duas Livreiras
Acredito que esse conto, assim como os demais textos da autora, seja para todos, pois dessa maneira abri-se um leque ainda maior de discussão e pensamentos. De qualquer forma, é uma leitura que vale a pena.
Amo a escrita que a autora escreve e desenvolve seus contos. Seus livros então não tem outra, sou apaixonado. Ela escrevia de uma forma totalmente entregue.
Concordo plenamente e totalmente! A escrita da Clarice é única. Cheia de emoção, divagações e críticas. São ótimos textos para se desenvolver um pensamento crítico e mais profundo.
Oiie
Nunca tinha ouvido falar dessa obra específica da Clarice, já li outro livro dela e também dei 3 estrelas, porque não me familiarizei muito com a leitura, mas realmente foi um livro muito bom e que também tem profundidade em temas simples, acho que essa era uma marca registrada da autora. Adorei a resenha e adorei saber um pouco mais sobre esse livro, já adicionei ele a lista porque tenho vontade de ler outros livros da autora.
Bjos, Bya! 💙
Olá!
Lembrando que a resenha é exclusiva de um conto e os livros citados ao final são antologias, coletânea de contos. Estou dizendo isso apenas para não confundi-la na hora da compra e criar uma certa frustração quando receber o pacote.
E sim, as histórias da Clarice tem essa marca de profundidade e reflexão, algo sempre presente na autora. Por mais que o livro possa não ter lhe agradado tanto à primeira vista, indico que depois o releia novamente, pois assim através de suas novas experiências pessoais o livro poderá lhe trazer uma absorção totalmente diferente e mais significativa. O importante é não desistir de suas obras e continuar lendo-as e interpretando-as da maneira que fluir para você.
Confesso que não conheço os livros da Clarice, conheço apenas o nome dela e algumas frases que encontramos aqui e acolá pela internet. Esse conto me pareceu bem triste, se você for ver pelo ângulo de que a velha senhora é um tanto solitária e busca de meios nada saudáveis para ter um pouco de "atenção". Quem sabe um dia eu dê uma chance a suas obras e leia algum!
Um beijo, Pri :*
Por Amor aos Livros
Ao meu ver, todos devem dar uma chance para Clarice em um momento de suas vidas. A autora vive mesmo após sua morte e acredito que isso se deva a grandiosidade de seus textos, tão cheios de significados e devaneios. Em qualquer texto que você pegar para ler haverá uma crítica ou algo por trás da possível simplicidade da história. Indico que comece por um conto ou se arrisque em A Hora da Estrela. De qualquer forma, espero que você um dia dê uma chance.
Interessante. Não me lembro se já li algo da Clarice, fora aqueles textos obrigatórios no colegial. Mas acredito que a leitura de suas obras deva ser enriquecedora.
Beijos
Mari
Pequenos Retalhos
E são! Se tiver algum tempo (ou vontade), se aventure em suas histórias. Garanto que em algum momento ou em algum texto específico haverá um estalo em sua mente, te tirando da sua zona de conforto e trazendo indagações preciosas e necessárias.
Clarice! Tão intensa. Eu só conheci Clarice na universidade. O primeiro livro que li foi A hora da estrela. Macabéa é uma das minhas personagens favoritas. Esse conto é maravilhoso, a começar pelo título. Eu queria ter escrito ao com esse título. Para mim, o que mais ficou da leitura desse conto é que nele se destaca os obstáculos que uma mulher tem de superar em uma sociedade patriarcal.
Beijos
Eu também conheci Clarice na faculdade e através de A Hora da Estrela. Foi amor à primeira vista. Macabéa me ganhou de um jeito intenso e magnífico. Uma sensação que venho buscado desde então em outras personagens e que encontrei em Capitu, por exemplo. Quanto a sua visão sobre sociedade patriarcal, eu não havia pensado por esse lado. Ótima perspectiva! Tentarei ter essa visão quando for reler, para assim perceber outros pontos do conto.
Oi, tudo bem?
Confesso que nunca li nada da Clarice Lispector e que ainda não senti curiosidade. Acredito que leitura é muito uma questão de momento e, atualmente, a obra dela não me desperta curiosidade. Porém, pretendo ler futuramente.
De qualquer forma, fico feliz que, mesmo não tendo tirado conclusões profundas da leitura, você ainda gostou e recomenda o conto. Quem sabe se for fazer uma releitura mais para frente poderá encontrar novos significados, né? Mas, de qualquer forma, o importante é você ter achado a leitura válida.
Beijos!
Oi, Maria!
Entendo o seu ponto sobre ter um momento específico para cada leitura. Às vezes é melhor esperar esse momento chegar do que se arriscar e ter uma péssima experiência de leitura, né? Mas espero que essa curiosidade chegue logo!
OIii tudo bom?
Eu tenho uma grande dificuldade com contos, demoro pra embarcar de vez em uma história e a coisa com contos é que quando começa a me prender acaba… Nunca li nada da Clarice, gostaria de conhecer a escrita dela futuramente, quem sabe fica pra 2018…
Beijos
http://www.derepentenoultimolivro.com
Sério? Que pena. Talvez seja falta de costume ou você apenas não teve contato ainda com um conto que lhe chame a atenção. Mas já que você não gosta de contos, pode conhecer a Clarice através de algum romance dela. Eu indico A Hora da Estrela para começar.
Olá!
Tenho até vergonha de falar, mas tem tantos anos que não leio nada da Clarice. Lembro que sua histórias são lindas e envolventes, esse conto me deixou animada. Talvez era o que precisava para adicionar essa autora novamente na minha lista de leituras e por ser pequeno a leitura será rapidinha.
Beijos!
Camila de Moraes
Oi!
Fico feliz em saber que retornará para as histórias da Clarice. Se quiser, participe do projeto conosco! As leituras são rápidas e sempre deixam um gostinho de quero mais ao final. Além disso, ainda temos os debates, que são o ponto forte do nosso grupo.
Eu quero muito ler esse livro. Eu ainda não li nada da Clarice Lispector e acredito que essa obra seja muito boa. Achei interessante ver a tua opinião sobre o conto, mas como não conheço a escrita dela eu não sei falar sobre os pontos que você mencionou.
Entendo, Beatriz. Mas obrigada, mesmo assim! Espero que um dia você tenha a oportunidade de ler os contos da Clarice e volte aqui para discutirmos sobre.
Oi, tudo bem?
Eu ainda não li nada da Clarice e tenho certa curiosidade, mas como não é o tipo de histórias que leio, eu acabo sempre deixando pra depois, sabe? Sobre esse conto, eu achei muito bacana a premissa dele e fiquei curiosa para saber mais sobre o desenrolar, por isso vou marcar a dica e quem sabe não será meu primeiro contato com a autora?
beijos :*
Oi, Larissa! Estou bem e você? 🙂
Antes de ler A Hora da Estrela eu também pensava que Clarice não era o estilo de livro que eu lia e gostava, porém esse pensamento logo mudou quando favoritei o livro em questão. Acredito que se você não der uma oportunidade não saberá se faz o seu estilo ou não. É sempre bom arriscar em leituras novas e sair da zona de conforto. Garanto que fará bem para você e para suas próximas experiências literárias.
Olá!
Eu gosto muito das obras da Clarice, mas essa eu ainda não conhecia. Achei interessante você enfatizar que no grupo as pessoas tiveram interpretações diferentes do conto, mas mesmo assim a mensagem ficou gravada com você.
Beijos.
Obrigada, Carol!
É sempre bom ter contato com outras opiniões, né? Isso faz com que abramos os olhos para interpretações que não imaginávamos. Porém a nossa visão sempre é a mais forte e a que fica dentro de nós. Acredito que foi isso que aconteceu.