Literatura

Resenha: “Cigano Lobo” – Demetrio Alexandre Guimarães

Reprodução: Google
Cigano Lobo

Autor: Demetrio Alexandre Guimarães
Editora: Clube de Autores
Ano: 2015
Minha classificação: ★★★ (3/5)
* Livro cedido pelo autor
Essa resenha não tem spoilers dos livros anteriores que compõem o mesmo universo da história, porém para ler a obra e entender alguns pontos cruciais do enredo você precisará ter lido Rudamon II.

Hiago é cigano e trabalha no circo que pertence ao seu povo. Para espalhar as atrações ao redor do país, o circo se desloca a cada mês para uma cidade diferente, levando assim o espetáculo para novas pessoas e um novo público. O evento é bastante conhecido pelo povo brasileiro, mesmo aqueles que nunca tiveram a oportunidade de assistir a um show, pois nele há uma atração especial e única que não é encontrada nos demais lugares: uma apresentação com Hiago, o cigano com poder telepático.


Mas o que ninguém sabe é que Hiago, depois das suas apresentações, escapa utilizando uma máscara em formato de lobo e sai junto de seu Lobo Guará de estimação, denominado carinhosamente como Lobo, para fazer pequenos roubos pelas moradas mais ricas das cidades. Esse ato criminoso deve-se ao ódio que o cigano nutre por aqueles que desprezam o seu povo e o chamam de mentiroso quando indagado sobre sua habilidade especial.


Em uma dessas escapadas um acontecimento envolvendo o herói Rudamon muda por completo as suas ações, incluindo até mesmo o abandono dos roubos. A partir daí, Hiago terá os seus próprios problemas para enfrentar: um casamento armado com Sulamita, sua prometida desde a infância; o maníaco do ácido Lúcio; o assassino Afonso que se denomina como Homem Rato, o qual prometeu se vingar de farmacêuticos e babás; perdas irreparáveis de entes queridos e um novo amor avassalador que não estava previsto.


Embora a história seja narrada na maioria dos capítulos em 3º pessoa, em momentos de introdução de novos personagens, como a recapitulação sobre o Hiago e a apresentação dos vilões, a narração se passa em 1º pessoa, entregando para o leitor todas as informações necessárias e essenciais para um entendimento completo de cada personagem importante para a trama.


Para aqueles que leram os dois primeiros livros do Rudamon esse será um “prato cheio” de referências ao segundo e que trará alguns esclarecimentos que podem ter ficado em aberto na mente de cada um. O livro também conta com a participação de muitos personagens, me deixando confusa em certos momentos. São muitos vilões, muitas histórias pessoais e muitos nomes para se ater. Esse foi um ponto que, a princípio, havia achado negativo, porém conversando com o próprio autor, que me afirmou fazer isso para ter no futuro um leque maior de personagens para se trabalhar, acredito que essa mescla pode ser trazida para um lado positivo. Eu senti falta dessa profundida a qual ele me prometeu explorar mais para frente. Fiquei curiosa para saber o que esperar dos próximos volumes e dos personagens que ficaram em aberto, como o Thiago, namorado da policial Katarina.


Por mais que pareça que eu tenha passado muita informação sobre o enredo e tenha entregado as surpresas principais, não contei nem a metade do que você pode esperar ao iniciar essa leitura (e estamos falando sobre um livro com menos de 300 páginas). Além de Lúcio e Afonso, teremos um outro vilão que será ainda mais difícil de ser enfrentado, alguém que usará sua inveja para atingir aquele que mais odeia, o cigano Hiago. Na obra há uma mescla de ação, através das lutas e momentos onde o leitor fica ofegante, e romance, onde um triângulo amoroso é formado.


Um dos pontos que mais me ganhou foi a maneira que o autor explorou a cultura cigana. Não sei vocês, mas eu, particularmente, não conhecia quase nada dessa cultura, por isso fiquei muito feliz em saber mais detalhes e que é algo tão rico e grandioso, já que a maioria das retratações ciganas que vi em filmes eram pejorativas. Inclusive é importante citar que há algumas imagens no livro de certos personagens que contribuem para aguçar ainda mais a imaginação.


O que eu não gostei?
Embora eu tenha gostado do livro, algumas ressalvas precisam ser feitas. Inclusive comentei todas com o autor e ele acatou cada uma, me explicando a sua visão e compreendendo o meu lado como leitora. Esse é o ponto mais legal de se ter uma parceria com um autor independente, pois ele escuta as suas observações e conversa de maneira amigável sobre cada uma delas. Esse contato é o ato primordial da parceria para mim. Já trabalhei com o Demetrio duas vezes no ano passado e talvez por isso eu tenha mais liberdade para conversar abertamente com ele. Mas não se preocupem, ele trata de maneira igualitária todos os leitores. Então, sintam-se a vontade para encher a inbox do facebook dele e comentar sobre o livro!
Agora voltando aos pontos negativos da obra, a linguagem repetitiva me incomodou em alguns momentos. Certas vezes o narrador repetia o mesmo termo ou nome, algo desnecessário e cansativo, ficando a impressão de que o leitor não teria prestado atenção suficiente para entender o contexto da cena e quem estava inserido. Mas, assim como possíveis outros detalhes técnicos, este pode ser resolvido em uma nova revisão.
O próprio Hiago também me incomodou. Ele, em determinadas partes, era egocêntrico e machista, se achando o centro do mundo e detentor da verdade. Tentei relevar isso ao máximo, até porque o personagem em si é bastante carismático, mas às vezes era preciso parar a leitura e respirar fundo, se não eu era capaz de entrar na história e dar um tapinha na cara do cigano para fazer com que ele acordasse para a realidade. 
E nisso podemos incluir o amor que nutre em Katarina por Hiago. Eu gosto de romances, principalmente aqueles mais clichês, porém essa mulher também conseguiu me tirar do sério em alguns momentos. Toda hora ela falava sobre quanto o cigano é bonito, forte e corajoso. Às vezes eu tinha vontade de sacudir a moça e dizer “olha amiga, eu entendi que ele é o homem da sua vida, mas agora para, por favor”. Entendo que o autor quis dar uma carga emocional mais forte para o romance e acredito que nos próximos livros ele terá tempo para explorar melhor o casal, mas espero que futuramente o romance seja mais espontâneo por parte dos dois.


O próprio Demetrio define a obra dele como uma novela mexicana e eu acho que esse termo se encaixa perfeitamente, tanto por causa da quantidade de personagens como também por causa da carga dramática e de romance que envolve a história. Mas esse termo não está sendo usado por ele, ou por mim, de forma pejorativa. Acredito que isso seja uma maneira de estimular os leitores que gostam desse tipo de aventura para procurarem a obra. Afinal, apesar desses pontos eu me diverti lendo o livro e gostaria que mais pessoas tivessem a mesma experiência.



Minha opinião
Já faz mais de um ano que eu li os dois primeiros livros do Rudamon e como não tenho uma memória muito boa admito que muitos detalhes já se perderam na minha mente, sendo difíceis de relembrar. Para ler Cigano Lobo é preciso que o leitor tenha Rudamon II fresco na cabeça, pois os acontecimentos desse novo livro se darão justamente por causa da trama do segundo Rudamon. Confesso que no começo foi difícil engatar na leitura, pois muitos detalhes eu não conseguia conectar com a história do outro herói, mas com o decorrer da leitura tudo foi ficando mais esclarecido e mais fácil de se assimilar.
Eu gosto da escrita do Demetrio, pois é fácil de se entender e flui com naturalidade, se tornando acessível principalmente para os mais jovens. Acredito que suas obras abrangem todo tipo de público, seja do mais novo ao mais velho, a única coisa que basta é você gostar de fantasia e super heróis, ainda mais sendo o herói uma pessoa brasileira. E isso é um dos pontos que faz com que a obra seja tão necessária e importante de ser espalhada: uma história que se passa em território nacional e que explora heróis do nosso país.
Dentro de Cigano Lobo não teremos apenas ação e romance, dois pontos chaves que comentei mais acima. Em determinados momentos o autor encaixa na história pontos certeiros e necessários de serem discutidos, como prostituição de menores de idade, vendas ilegais de filhos e violência contra a mulher. Infelizmente esses assuntos não são abordados com profundidade e eu senti falta disso, pois são apenas citados em determinadas cenas. Em determinado capítulo há uma luta de Hiago contra a venda de crianças para o meio da prostituição e esse foi um ponto que eu queria ter visto mais, algo além. Nessas partes o autor perdeu uma grande oportunidade de falar sobre assuntos mais pesados de uma maneira que conscientizasse o leitor e o fisgasse ainda mais para dentro da história, principalmente os mais jovens que precisam desse contato dentro da literatura.
O livro, apesar dos momentos mais sérios, tem uma história leve e agradável. Ótimo para tirar os leitores das famosas ressacas literárias, Cigano Lobo traz para a literatura nacional contemporânea mais um marco dos novos heróis brasileiros e uma encantadora fantasia para nos fisgar.

Este é um publipost, porém as opiniões acima continuam sinceras e verdadeiras, assim como as demais resenhas encontradas no blog.

20 thoughts on “Resenha: “Cigano Lobo” – Demetrio Alexandre Guimarães”

  1. Eu não conhecia os livros e achei bem interesse a premissa.
    Porém eu entendo quando vc diz sobre repetição. Não gosto quando identifico e tenho a sensação de que aquilo não precisava ser citado mais de uma vez =/
    Mas eu me interessei pelos assuntos que ele aborda na história =D

    Beijos

  2. Olá!
    Acho que no começo do ano passado ou no final de 2015, não me lembro muito bem, li os dois livros de Rudamon e confesso que não gostei muito, por isso não tenho interesse de ler Cigano Lobo, mas achei muito legal você trazer uma opinião crítica e sincera ao blog e principalmente, ter falado com o autor a respeito. Parabéns! =)

    1. Poxa, Andrea! Que pena. Mas literatura é isso, né? Às vezes você leu apenas no momento errado da sua vida, mas obrigada por ler a resenha e comentar. Fico feliz que tenha tirado um tempo para interagir por aqui.
      Volte sempre!

    1. Os livros do autor também estão longe do que costumo ler, acaba sendo uma maneira de sair da minha zona de conforto e isso às vezes é bom. Espero que você goste da leitura! Depois me diz o que achou. 🙂

  3. Oiee
    Adorei seu blog, já tô seguindo. Sobre a resenha, eu amei a premissa do livro, amo livros assim, então acredito que posso gostar bastante desse. Infelizmente vou demorar um pouco pra ler por ter outros livros na frente pra ler kkk mas um dia lerei, tomara. Amei a resenha.
    Bjos, Bya! 💋

  4. Adorei a indicação. Poder conhecer mais sobre ciganos e sua cultura é enriquecedor. Como nenhum livro é perfeito, vou dar uma chanse pro livro, que culpa ele tem não?

  5. Eu ainda não conhecia o livro e não me senti muito interessada em realizar a leitura. Linguagem repetitiva me cansa muito e personagem machista é péssimo, mas parece ter alguns pontos positivos que valem a pena para quem se interessar pela leitura da obra. Achei legal o contato com o autor e eles ter entendido o seu ponto de vista.

    1. Sim, principalmente para aqueles que gostam de aventura e fantasia. Espero que a obra consiga alcançar o seu público alvo e que tenha algumas mudanças em relação ao machismo e repetição. Ao menos entendi que terá.

  6. já ouvi falar do autor e dos livros anteriores, mas nunca li. e soube agora que havia essa continuação… legal a ambientação e abordar personagens ciganos… quem sabe alguma hora eu me aventure a ler, mesmo com a repetição de termos e nomes…
    bjs…

    1. Estou adorando ler os comentários e saber que muita gente já conhecia o autor. Dá uma chance sim! Aproveita para intercalar entre leituras mais intensas e pesadas, assim dá aquele balanceamento e a ressaca literária não cai em você.

    1. Oi, Mari!
      Acredito que essa repetição sairá na nova revisão, já que eu li uma versão antiguinha. Acredito que explorar a cultura cigana tenha sido o ponto forte do livro, além de bastante informativo nesse quesito.

  7. Eu gosto muito da cultura cigana, apesar de conhecer bem pouco. Se o livro não fizesse parte de uma série eu me interessaria em ler. Tem postos que você destacou que chamou minha atenção. Acho que os ciganos sofrem muito preconceito. Que bom que o autor está aberto a críticas construtivas. Ah, tenho que falar que eu achei a capa feia.

    Beijos

    1. Te entendo! Eu também resisto bastante na hora de escolher séries para ler, sempre procuro pelos livros únicos. E quanto a capa, essa da resenha é a antiga. Acredito que quando uma nova versão do livro sair a capa também será alterada.

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