Literatura

#12mesesdePoe: A Carta Roubada + Para Annie

Reprodução: Google
A Carta Roubada
Minha classificação: ★★★ (3/5)

Para Annie
Minha classificação: ★★★ (3/5)

Autor: Edgar Allan Poe
Conto A Carta Roubada
Estando em Paris, C. Augusto Dupin é convocado por Sr. G., o chefe de polícia local, a compartilhar a sua inteligência (ou “esquisitice”, como o próprio policial denomina) para descobrir o mistério que ronda uma carta com um conteúdo de cunho pessoal roubada dos aposentos reais


Mas diferente de outras histórias do Poe, e da maioria dos autores no geral, nesta teremos revelado logo no começo o nome do ladrão que está em posse da carta e como ele conseguiu efetuar o roubo: o culpado é o Ministro D. e foi visto pela própria dona do artefato quando executava o ato malicioso de trocar a carta por um papel que estava em seu bolso.


Diante disso não temos uma história que nos fará, ao lado dos personagens, descobrir quem é o culpado e/ou como foi executado o seu plano, mas sim acompanharemos como será realizado para pegar a carta de volta e devolvê-la ao seu dono, sem criar suspeitas e maiores conturbações. Por conta disso, à primeira vista pode parecer um conto monótono ou simples demais para uma história com o Dupin como protagonista, mas é nesse ponto que o autor engana o leitor e traz uma mescla de descrições, mistério e apreensão, resultando em algo incrível e intrigador.


A narração é em 1º pessoa feita pelo amigo de Dupin, o qual nos conta através de seus olhos tudo o que acontece e é conversado entre os três personagens investigadores dentro do quarto, local permanente da narrativa. Para aqueles que estão sentindo algo familiar na resenha e nos nomes citados, Dupin também aparece em Os Assassinatos na Rua Morgue e O Mistério de Marie Roget juntamente com o narrador, seu colega de quarto. Esses dois contos já têm resenha por aqui e foram lidos em meses anteriores no 12 meses de Poe.

Poema Para Annie
Nesse poema o eu-lírico expressa sua opinião sobre a morte, colocando-a como um refúgio e uma busca pela paz. Estando dentro de um caixão e agora em total estado de paz, ele narra o aspecto daquele espaço fechado e sufocante ressaltando-o como um caminho que o levará para a liberdade e a salvação. A sua amada Annie se mostra como uma inspiração para o eu-lírico, sendo assim a sua musa e uma espécie de “prêmio pós-vida”. A mulher é quem o está esperando no paraíso e por isso a morte se mostra como um fim digno e esperançoso, trazendo assim para o casal mais uma chance de ficarem juntos e agora para sempre. Também citará sobre as pessoas que o veem no caixão e de como é a reação desses entes e dele próprio.


O poema tem uma musicalidade belíssima e envolvente, que faz com que o leitor tenha uma imersão completa nos sentimentos profundos e verdadeiros do eu-lírico. Dá para sentir uma sinceridade e compaixão perante o ato de morrer através do toque melancólico e sobrenatural das palavras, podendo lhe causar ou não uma certa familiaridade e identificação com o momento dependendo de como está a sua paz de espírito e quais são os sentimentos que reinam e se conturbam dentro de você. O ideal é ler com calma e atenção, absorver cada detalhe e palavra, sentir verso e estrofe, conectar-se com o eu-lírico e com Annie.

O mal-estar, a náusea,
a impiedosa agonia,
tudo se foi, com a febre
que a mente enlouquecia:
febre chamada vida,
que em meu cérebro ardia.”


Minha opinião
Sobre o conto:
Essa foi a primeira vez que li esse conto e posso dizer que foi bastante intrigante (no melhor sentido da palavra). Estou adorando ter esse contato com o personagem Dupin e adentrar mais profundamente na veia de mistério do Poe, a qual conhecia através de poucos contos. 
Antes de conhecer um leque mais diverso dos textos do autor, sempre tive em mente que ele apenas escrevia horror: histórias para amedrontar o leitor e deixá-lo perplexo. Mas, felizmente, através do projeto estou conhecendo as suas histórias de forma mais completa e essa experiência está sendo gratificante. Esse ano eu li algumas obras voltadas para o suspense policial e descobri um grande amor por esse gênero, então acredito que ter contato com o Poe dentro desse estilo está alimentando ainda mais a minha curiosidade por histórias assim.
Dupin é um personagem que conquista logo de cara o leitor. O detetive é inteligente, sagaz e incrível, conseguindo enxergar detalhes que passam despercebidos pelo leitor e até pelos outros personagens que o cercam. Às vezes a curiosidade não fica em saber quem é o assassino ou em que fim levará o culpado, mas o foco está sempre em cima de Dupin e em como ele enxergou toda a cena. Para mim o mais interessante é exatamente isso: descobrir, junto com o narrador, como Dupin chegou a tal conclusão.
O conto se tornou uma leitura agradável para mim. Por ser pequeno, tendo em média umas 10 páginas, flui rápido e tem uma linguagem consideravelmente mediana, mas que dá para entender conforme o avanço do texto. Mesmo que algumas palavras pareçam desconhecidas e difíceis, não há problemas em deixá-las passar, pois mesmo assim dá para entender perfeitamente o que o autor quer dizer, sem dificuldade ou estresse.
Para aqueles que não conhecem a obra do Edgar Allan Poe, mas procuram por onde começar, acredito que A Carta Roubada seja uma ótima pedida, tanto pelo seu tamanho como também pela premissa. Mesmo tendo a “obrigação” comigo mesma de ler um conto por mês, não consigo enjoar da escrita ou da narração do autor. Fico cada vez mais intrigada e com mais vontade de adentrar em novas histórias. Espero continuar com essa meta em 2018 e alcançar ainda mais gratificação pessoal com os novos conhecimentos.

Sobre o poema:
Peguei esse poema para ler enquanto aguardava em uma sala a minha professora, como é curto e rápido li em alguns 10 minutos. No começo pareceu um poema simples: um homem falando sobre estar morto e as reações em seus entes diante dessa situação. Mas ao decorrer da leitura, o texto se mostra muito mais profundo e intenso do que apenas isso. O leitor sente a liberdade no eu-lírico e a despreocupação com aqueles que ficam, sente a felicidade no homem em encontrar o alívio e a escuridão, sente o seu desejo em reencontrar Annie e ficar para sempre ao lado da amada. 
O poema é mais extenso do que os demais do Poe, contendo duas páginas na versão que li, perdendo apenas para O Corvo e outros poucos títulos. Não sei se achei ser extenso por causa da intensidade da narrativa ou por qualquer outra razão, mas lendo senti uma obrigação de ter uma leitura devagar e pausada, apreciando cada palavra e gesto, cada sentimento e expressão.
Algo que eu notei, seja verdade ou não, foi que Annie me lembrou bastante a esposa falecida de Poe. Claro que não podemos comparar o eu-lírico com o autor, mas é sempre duro desvincilhar essa conexão. Quem conhece a história pessoal do Edgar Allan Poe sabe que sua mulher, Virginia, morreu e deixou para seu marido apenas uma profunda solidão e tristeza. Não consigo ler os contos e poemas do autor e não imaginar Virginia como principal inspiração para as suas personagens femininas, que em sua maioria acabam morrendo no final (uma grande semelhança, não?). Por isso, acabei por ver em Annie a personificação de Virginia, o seu amor perdido que enfim encontrará novamente e poderá viver ao seu lado eternamente. Pode apenas ser impressão da minha cabeça, mas acredito que Poe sempre escreveu para/sobre sua esposa, a tristeza que sentia por causa da morte da amada fica evidente em suas palavras.
Para aqueles que me conhece e/ou veem lendo minhas últimas resenhas de poemas do Poe, sabem que eu não sou uma verdadeira perita nesse gênero textual, mas que tento extrair o máximo que posso. Nesse não foi diferente. Consegui ter algumas ideias e sensações em minha cabeça, o que fez com que eu tivesse um ótimo contato com o poema e uma ótima experiência de leitura junto ao eu-lírico. Por se tratar de um tema mais mórbido, indico para aqueles que tenham um interesse maior por poemas nesse estilo, como por exemplo os fãs de Augusto dos Anjos. Espero que o poema não deixe ninguém na bad, mas pelo contrário, traga reflexões e sentimentos positivos, até quem sabe um pensamento mais profundo sobre a morte e as consequências da mesma.


Um aviso: por mais que essa resenha seja da leitura de novembro, não irei postar uma da que fizemos em dezembro. Até porque o mês já passou e quero dar prioridade para outros livros resenhados. Também não sei se irei continuar fazendo resenhas do projeto esse ano, ainda mais se forem leituras que já fiz antes. Posso fazer dos contos que tiver contato pela primeira vez e se eu achar que vale a pena, ao contrário as resenhas do 12 meses de Poe se encerrará aqui.

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