“Qualquer tipo de peso sempre me angustiou. Eu buscava, fervorosamente, a leveza de todas as coisas, como naquelas manhãs ensolaradas de feriado, sem compromisso algum, sem tempo. Mas as coisas pesam. Sempre sentia o peso de tudo, principalmente o meu próprio.”
O livro é dividido em títulos e a ordem com que foram selecionados funcionam muito bem para manter uma linearidade de sentidos e sentimentos, sendo até mesmo perceptível uma evolução dos pensamentos do eu-lírico, um crescimento pessoal. É importante lembrar que os poemas são alternados entre textos em prosa e poesias, tomando assim a liberdade para explorar versos livres e extensões variadas, causando uma mescla que se tornou um ótimo resultado.
Mesmo sem explorar um certo número de personagens e uma história concisa, há um ser que inspira todas as poesias: o grande amor do eu-lírico, Clarissa. O eu-lírico é um homem apaixonado e que, de acordo com os acontecimentos da sua vida, altos e baixos, vai nos contando qual é o desenrolar desse amor. Ele explora as características físicas de Clarissa, o amor que sente por sua musa e a solidão que o prende em uma bolha sufocante e, ao mesmo tempo, reconfortante.
O eu-lírico utiliza de metáforas e referências, uma exclusivamente a Bukowski, para intensificar ainda mais os seus versos, que muitas vezes são repetitivos para causar uma reafirmação de ideias. Admito que esse ponto me confundiu um pouco durante a leitura, pois em algumas partes eu pensei que estava lendo o mesmo poema, tendo assim algo de errado com a versão em e-book que eu tenho do livro. Mas não. O eu-lírico utiliza dessa maneira de escrita justamente para dar ênfase em algo que o leitor pode não ter prestado tanta atenção anteriormente, mas que é de suma importância para entendê-lo e para compreender a sua poesia.
Embora a maior parte seja através da visão do eu-lírico, em alguns títulos também podemos conferir as palavras pessoais da Clarissa, uma resposta justa ao seu antigo amor. Os textos têm grande semelhanças a cartas, podendo também dar a impressão de que o eu-lírico escreveu justamente para ter uma resposta de Clarissa e para entregá-la, sendo totalmente plausível e encantador as partes onde a musa responde ao seu criador. Uma conversa encantadora de se acompanhar e inspiradora em certos momentos.
“O silêncio que parecia brusco, espantava,
é o mesmo que hoje busco
aliviada.”
O quanto o livro me tocou:
Como eu disse no ano passado, estou querendo ler mais poesia e ter mais contato com autores que exploram esse estilo de texto. Conheci o lado poético de Edgar Allan Poe, o motivo principal que despertou esse desejo em mim, e os poemas verdadeiros da Rupi Kaur. Por sorte encontrei a Isabella através de grupos literários no Facebook e fui empurrada, de uma maneira boa, a ter contato com a sua antologia, a qual se mostrou uma surpresa muito agradável.
A Isabella tem uma forma de escrita que encanta o leitor, pelo menos foi assim que eu me senti durante toda a leitura: encantada. Acredito que quando procuramos por poemas, já vamos com um conceito de beleza e ritmicidade na cabeça, mas nem sempre isso será entregue ao leitor, nem todos as poesias são, obrigatoriamente, rimadas ou com a presença de palavras difíceis. Para mim, isso não é necessário. Apenas procuro um texto que me toque positivamente e que me faça refletir sobre algo, seja sobre mim mesma ou sobre uma flor que acaba de florescer. O importante para mim está dentro da poesia, no sentimento que o texto passa e quer trazer para o leitor.
A autora soube explorar muito bem os sentimentos em sua antologia. Mesclando textos que falam sobre amor, solidão e até mesmo auto descobrimento, a autora traz poesias que tocam o fundo da alma e se fixam em nossa mente. Cada texto que eu lia fazia com que eu me sentisse mais próxima do eu-lírico, uma espécie de confidente ouvindo seus maiores segredos e compartilhando intimamente de seus pensamentos pessoais.
Por mais que eu não tenha o livro físico em mãos, pois li a versão em e-book, o livro em si é muito bonito. A edição do livro combina com a atmosfera dos textos e as imagens dispersas em alguns momentos traz uma experiência mais visual, fazendo com que assim a edição se encaixe com a mensagem que o eu-lírico quer passar, a mensagem mesclada com beleza.
A leitura me agradou do início ao fim. Mesmo achando alguns textos repetitivos, no geral a leitura foi agradável e apreciativa. Eu gostei de ter tido esse contato com a escrita da autora e pretendo continuar acompanhando-a em sua carreira de escritora, ainda mais por morar tão perto de mim já que nós duas somos de Brasília. Espero ter a oportunidade de adquirir pessoalmente o meu exemplar de Veracidade junto com um autógrafo e um abraço.
É um livro que deve ser lido por todos que gostam de poesia e por aqueles que não gostam, pois tem uma dinâmica diferente de outras antologias poéticas, podendo assim agradar até mesmo aqueles que não tem costume com essa leitura. Para aqueles que nunca tiveram contato com esse estilo literário e procuram uma via para começar, indico que deem uma chance para o livro da Isabella, pois além de ter uma escrita de fácil entendimento também fará com que você apoie a literatura nacional, que precisa o quanto antes de um número maior de leitores e apoiadores.
Para quem ainda não conferiu, na terça-feira saiu uma entrevista com a Isabella de Andrade, que reservou um tempinho para me responder e conversar mais sobre a sua história com a escrita. A entrevista pode ser lida aqui.
“Um dia a gente aprende a ser rio, e a passar fluindo pelas margens, rio só.”
Não costumo muito ler poemas, não que eu não goste, mas é mais por costume mesmo, este livro me pareceu uma bela opção para ler mais do gênero.
http://www.estante450.blogspot.com.br
Eu não gostava de poemas, mas depois que comecei a ter mais contato acabou virando um dos meus gêneros preferidos. Acredito que a falta de costume pode ser mudada aos poucos. Vai devagar, mas vai!