Literatura

Resenha: “Rotas de Fuga” – Nina Spim

Hollin está quebrado. Algo em sua vida não se encaixa mais. O seu futuro não parece mais tão promissor. O seu destino não lhe aparenta trazer boas novidades e escolhas, principalmente por uma delas ser mudar de país. Ele mora na Espanha com a mãe, as avós, a tia e a prima, lugar que é seu lar desde quando completou o Ensino Médio e se mudou para lá. Porém, agora, depois de uma tragédia que abalou o seu emocional e o transformou em outra pessoa, ele precisa voltar para o Brasil para morar com o pai, a madrasta e a meia-irmã e para se restaurar novamente.


Não será nada fácil para Hollin “tocar” a vida para frente e ingressar em um curso de Cinema na faculdade, afinal a sua mente não é mais a mesma e os seus medos já começaram a lhe sufocar. Hollin sofre de depressão e ansiedade, muitas vezes tendo ataques de pânico, os quais são precisos respirações profundas, calmas e contadas para conseguir se acalmar e retomar o ar.


Nessa nova jornada que a vida lhe inqueriu, Hollin encontrará novos amigos pelo caminho e perceberá na trajetória a necessidade e importância de cada um para a sua recuperação: Nicolas, um cara meio andrógeno e comunicativo; Elisa, uma garota divertida e faladeira; Eleanor, que também está tentando juntar os seus pedaços; e Anita, sua vizinha que tem uma mãe hippie e uma avó sofrendo de Alzheimer. E também contará com o apoio dos familiares, principalmente de Celeste, sua prima mais velha que também veio para o Brasil com o intuito de estudar; Maria Luiza, a meia-irmã que sempre tem os melhores conselhos e frases filosóficas (mesmo sendo uma criança); Marcela, a madrasta que não é má, mas que se preocupa e o aconselha; e, mesmo de longe, sua família materna.


Sendo narrado em 1º pessoa, a história acaba por ter um teor mais íntimo e próximo do personagem. Nós, leitores, nos encontramos dentro da mente de Hollin: sabemos de perto e com detalhes sobre suas fraquezas, ânsias e perturbações. Temos contato com o que há de mais profundo do personagem e vivemos em sua pele e através de seus olhos. Sentimos quando ele está sufocado e com falta de ar. Queremos dar o primeiro passo quando ele se esconde e corre do mundo. Precisamos ajudá-lo quando ele se sente no limite e pensa que é o fim.


Além de transtornos psicológicos, a obra também trata de assuntos importantíssimos como a perda de alguém que amamos, a solidão que parece tão bela e asfixiante, a melancolia que transborda pelo ar e se torna a única amiga, a superação que se transforma em algo necessário e urgente. Dentro de todos esses assuntos, também é perceptível a forma que a autora trata sobre espiritualidade. Ela não explora nenhuma religião e nenhuma entidade divina, mas mostra a meditação e a reflexão como um ponto de partida para encontrar a si mesmo, para se conseguir a calma desejada e a paz interior.

“Aquela história de nascermos e morrermos sozinhos pode ser um conto de fadas mórbido muito bem elaborado. Até alguns dias atrás, eu era o cara que acreditava nisso.”

A escrita e as referências:
A escrita da Nina é poética e bastante descritiva. Há momentos em que a narração ultrapassa parágrafos descrevendo um sentimento, uma reação ou um espaço/lugar. Isso pode se tornar algo positivo ou negativo dependendo do leitor. Para mim, que gosto de descrições e detalhes, encontrei na escrita da autora um certo tipo de acolhimento e satisfação. Nada era deixado de lado ou passava batido. Porém, algo que me incomodou certas vezes foram alguns erros gramaticais, seja na escrita da palavra ou da colocação da vírgula. Não é algo que atrapalhe a leitura ou danifique a sua experiência com a história, mas é perceptível.


Por mais que alguns fatos demorem a serem explicados e explorados, a história flui muito bem e deixa o leitor com vontade de continuar a leitura horas à fio, sem parar. Eu, por exemplo, queria muito saber o que havia acontecido na vida de Hollin para tê-lo transformado tanto e por isso acabei não largando o livro. Acredito até que por conta disso eu tenha o lido de maneira bem rápida, já que sou meio lerda com as leituras.


Para aqueles que gostam de citações à cultura pop, também há espaço para vocês nessa obra. Em vários momentos da história, Hollin mescla a sua narração com partes de músicas, quotes que encaixam-se perfeitamente com as cenas e com o interior do personagem. Em alguns diálogos há também a citação de filmes e livros, principalmente à poesia. É uma ótima maneira de pegar várias indicações e conhecer todas!

“O amor alheio não é a cura para nada, nem para si mesmo.”



O que senti e aprendi com o livro:
Assim que terminei a leitura tive que escrever um e-mail para a autora contando tudo que senti (e ainda sinto) sobre o livro. Só ao finalizá-lo percebi que tinha gostado do livro mais do que imaginei, sendo assim a minha melhor leitura de fevereiro. Nunca havia feito isso de sentar e escrever um texto expondo todos os meus sentimentos e ensinamentos que uma leitura me trouxe, não da maneira que fiz com a Nina, mas achei necessário fazer isso dessa vez. Não sei se me senti na obrigação de falar sobre isso com a autora ou se apenas precisava dividir com alguém. Apenas sei que escrever esse tal e-mail foi um dos melhores momentos que tive de leitora com autora.

Eu tive diversas sensações durante a leitura e me vi em uma das personagens, Anita, que lutou contra a perda e a falta da sua avó que está sofrendo com Alzheimer. Talvez esse tenha sido o ponto chave da história para mim: me ver em um dos personagens. Não me ver no sentido de “esse personagem tomou uma atitude que eu também tomaria”, mas me identificar de uma maneira mais profunda, tanto através dos sentimentos como também do espírito pessoal. Eu sofri com a Anita, pois há alguns anos fui eu que estava na mesma situação. Então eu sei, realmente, como é se sentir perdida e até mesmo inútil perante à isso e a esse turbilhão de sentimentos e incapacidades.


É incrível a maneira que a autora fez para conectar todas as histórias dos personagens coadjuvantes com a de Hollin e mostrar que todos têm fraquezas, incertezas e tristezas. Todos têm problemas e lutam consigo mesmo. Todos têm dificuldade em se achar no mundo e se encontrar dentro de si. E todos precisam aprender a pedir ajuda. A dar um basta. A deixar os outros entrarem em sua vida e o acolherem. Que todos nós precisamos de alguém, seja uma amizade, um romance ou um familiar.


Algo que também aprendi com a história foi olhar o próximo de maneira diferente e mais empática. Não julgar alguém pelo o que se passa por sua cabeça ou emoções vividas. Não apontar o dedo para quem está passando por problemas pessoais e sofrendo com transtornos psicológicos. Depressão e ansiedade não devem ser tratados como drama, preguiça ou qualquer outros termos pejorativos. E as pessoas que sofrem desses maus não devem ser vistas com indiferença ou como coitadas, mas pelo contrário, devem ser vistas como corajosas, lutadoras e, o principal, devem ser apoiadas, receberem suporte. Aprendi muito com os personagens e suas vivencias, e acredito que isso foi crucial para ter uma experiência tão enriquecedora.


Também gostei das referências à livros, filmes e músicas. Principalmente no final quando Hollin recebe um exemplar de Outros Jeitos de Usar a Boca, algo que faz total sentido com a história e o interior do personagem. Foi ótimo saber que um dos meus livros favoritos da vida ajudou alguém, mesmo que fictício. Nenhuma referência é jogada ali de forma descuidada ou desleixada, tudo tem um porquê e um consenso com a história. Tudo faz sentido e se encaixa


Independente do seu estado de espírito de agora, indico que leia o livro e conheça mais sobre a autora. Acredito que se você passa por algum problema, seja íntimo, mental ou qualquer outro tipo, o livro irá lhe ajudar em diversos aspectos, inclusivo a se enxergar com outros olhos. Sendo assim, Rotas de Fuga é uma leitura mais do que recomendável! Não importa a sua idade ou a fase pela qual está passando, o livro pode ser lido e apreciado por todos, seja você jovem, adulto ou mais velho. O único requisito para adentrar nessa história é deixar-se levar pelos pensamentos de Hollin e absorver, o mínimo que for, aprendizado com todos os personagens.


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“Eu sei que a vida é atribulada e que muitas vezes cala nossas vozes, mas não é ela que nos controla, somos nós que a controlamos.”

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28 thoughts on “Resenha: “Rotas de Fuga” – Nina Spim”

  1. Olá!

    Para todos que conhecemos o blog da Nina, não poderíamos esperar um livro com uma mensagem diferente dessa, não é mesmo? Deve ser um livro bem intenso e emocionante. Já estou anotando a dica.

    Abraços

    1. Sim, Fernanda! Eu conheci o blog da Nina só depois de ter lido ao livro, mas mesmo assim em ambos há muito dela, e chega a ser fácil identifica-la nos dois. O livro é sim intenso e emocionante, trazendo para nós lições que devemos levar para toda a vida!

    1. Que linda! ♥
      Obrigada você pela oportunidade de parceria e por me proporcionar sentimentos tão bons e necessários. Obrigada também pela mensagem que você quis passar com a história e por ter colocado em minha mente vários pensamentos que eu já deveria ter posto em prática. Obrigada você por ter escrito esse livro, Nina!

  2. Ah, que incrível! Não sabia que a Nina tinha escrito um livro!! =O
    Achei a capa dele belíssima e apesar da história parecer simples, tenho certeza de que, como você mesma ressaltou, a Nina carregou nas alusões e reflexões filosóficas, é a marca registrada dela =)
    Fique feliz ao ler essa postagem, dica mais do que anotada!
    Bjs

    http://livrelendo.blogspot.com.br/

  3. Não conhecia o livro, mas a premissa dele é muito válida. A forma como aborda temas importantes é bem válida, eu vivo o problema de perto e sei que não é drama e só eu sei o quanto luto todos os dias para sair da cama. Enfim… também gosto de livros com referências, torna a leitura mais dinâmica e fluida. Vou anotar essa dica e quero muito fazer essa leitura.

    Abraços
    https://cabinedeleitura0.blogspot.com/

    1. Não posso afirmar com total certeza, mas acredito que por você passar por isso essa leitura acaba sendo ainda mais essencial e indicada para ti. Espero que fique bem e sempre tenha forças para levantar da cama. Aprecie a leitura e cada detalhe dela! ♥

    1. Olá! Estou bem e você?
      Adoro essa iniciativa de espalhar mais sobre livros nacionais na internet. Infelizmente não vejo essa ação com frequência, então acredito que cada pessoa que faça isso está transformando a literatura nacional de alguma forma. Espero que esse livro seja mais um que você indicará e adorará.

  4. Eu não sabia que a Nina era autora, na verdade eu acho que vi algo sobre contos dela, mas não sobre esse livro. Adorei a premissa e fiquei muito curiosa, parece ser um livro que nos leve a refletir e que aborda temas importantes. Eu não gosto muito quando o autor se estende demais em detalhes, salvo casos em que tais descrições sejam relevantes para o desenvolvimento da trama.

    1. A Nina, além desse romance, tem alguns contos disponíveis na Amazon. Inclusive pretendo lê-los em breve e trazê-los como indicação para cá. Os temas abordados nesse livro são extremamente importantes de serem debatidos e lidos, principalmente pelos jovens. Espero que a história alcance mais pessoas.

  5. Olá!
    Que resenha linda. Ja sabia que a Nina era autora também e acho os textos do blog dela bem tocantes e sempre conscientes. Esse livro deve ser de uma profundida incrível e fiquei com vontade de conhecê-lo.
    Dica anotada!
    Beijos!

    Camila de Moraes

    1. Obrigada, Camila!
      Espero que você tenha as mesmas sensações que eu tive durante a leitura, quem sabe ainda mais intensas. A Nina é uma pessoa incrível e que deve ser acompanhada sempre (e de perto!).

  6. Oi Thaina
    Que bacana ler seu post e descobrir este livro da Nina!
    Eu já tinha lido alguns textos dela, mas não sabia do livro
    Adorei sua resenha.
    A sinopse é muito interessante e a escrita da autora é ótima! Rapidinho já coloquei na minha lista
    Dica anotada
    Bjs

    1. Oi, Claudia! Obrigada pelos elogios! Fico imensamente feliz em saber que apreciou a resenha e que se sentiu curiosa para conferir a história pessoalmente. É uma leitura rápida, mas intensa. Garanto que sairá com o coração aquecido após conhecer o Hollin.

  7. Amei a capa, a sinopse, fiquei bastante surpresa em saber que a Nina Spim escreveu a história, é bem legal saber que alguém que a gente já acompanha através do blog conseguiu publicar uma história própria. Estou feliz por ela e aproveito para registrar que quero muito ler a história, mas em livro físico. Beijos

    Nara Dias
    http://www.viagensdepapel.com

    1. Não sei se dá para adquirir o livro físico com a Nina, mas vale a pena entrar em contato e perguntar sobre. Admito que eu também quero uma versão física, principalmente para reler os quotes preferidos e sempre que puder revisitar esses personagens que tanto me tocaram.

  8. Olá, acompanho o blog da Nina há um tempo e tenho muita vontade de ler esse livro, ainda mais depois de conferir sua resenha, onde a obra me pareceu ter uma boa história além de passar mensagens importantes.

  9. Heey! Tudo bem?

    Será estranho dizer que eu não conhecia a obra, tampouco a Nina? Haha
    Mas com sua resenha e os comentários estou achando que preciso mudar isso.
    Ótimo post!

    Beijão

    1. Nenhum pouco estranho, Mari. O importante agora é mudar isso urgentemente, hahaha. A Nina é aquele tipo de gente que é para se acompanhar em todas as redes sociais e sair lendo tudo que publica por aí. Garanto que não irá se arrepender. Ela apenas irá agregar na sua vida como leitora (e como pessoa também!).

    1. Hollin é um personagem que deve ser conhecido por todos, principalmente para irmos entendendo a sua mente aos poucos. Além do Hollin, também há outros personagens muito bem desenvolvidos e que podem entrar na sua lista de favoritos. Recomendo que faça a leitura assim que possível!

  10. Oii! Eu já tinha ouvido falar dessa história pelo blog da autora mesmo e desde então fiquei bastante curiosa para conferir. A sua resenha está ótima e a história parece ser muito emocionante, ainda mais por tratar de temas tão intensos como a depressão, ansiedade e luto. Espero conferir essa obra um dia, bjss!

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