Literatura

Resenha: “A Floresta” – Daniel Gruber

A Floresta é uma obra folk horror, que tem a própria floresta sombria e sobrenatural como um personagem ativo da trama. Daniel Gruber, com uma escrita forte, nos leva para dentro de uma floresta que pode despertar o pior de cada um de nós, mesmo que nossas ações a princípio pareçam nobres e condizentes com nossos mais belos e esperançosos desejos.

A princípio A Floresta pode parecer um livro apenas sobre bruxaria e/ou amizade feminina, mas garanto que os temas abordados e a profundidade dos personagens vão muito além disso.


“Quando você entra na floresta e fica cara a cara com os demônios que vivem lá, é tarde demais para voltar.”

Reprodução: Biblioteca Pessoal

Leia também: Notívagas, de Juliana Cunha

Título: A Floresta
Autor: Daniel Gruber
Quantidade de páginas:
 185
O Grifo Editora
Gênero: Ficção / Horror / Literatura Brasileira / Terror
Ano: 2021
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Minha classificação: ★★★★ (4/5)
* Livro cedido pela editora

A ligação entre bruxaria e força feminina

Durante o fim do século XIX, no sul do Brasil, uma jovem chamada Anna é forçada a se casar com um homem bruto, Johannes, assim que completa a maioridade. Seu pai, o pastor do local, a vê sendo levada a força por seu futuro marido, sem mexer um dedo para impedi-lo ou ajudá-la. Afinal, o papel da mulher é esse, não é mesmo? Casar e servir ao seu marido.

O relacionamento de Anna e Johannes é marcado por agressões, impedimentos e um certo tipo de prisão, já que a nossa narradora-protagonista sofre tudo calada, fazendo o seu papel. Isso até conhecer Mathilde, uma mulher diferente – ou melhor, o seu completo oposto – que lhe desperta a curiosidade imediatamente.

Logo, as duas parecem criar uma espécie de amizade e cumplicidade proibidas, pois Mathilde aparenta usufruir de uma liberdade que Anna deseja e de que os homens reprovam. Mas depois que Anna tem um sonho estranho envolvendo Mathilde, mais duas mulheres conhecidas, a floresta misteriosa e o seu desejo de libertação, a sua vida começa a virar de cabeça para baixo tomando rumos que nem ela esperava.

A narração de Anna é potente e nos transporta para dentro do livro de forma fluida e natural. A edição está impecável, cheia de detalhes por dentro e em sua diagramação e com uma capa linda que combina perfeitamente com a história.

TW: violência física e sexual.


“Era tradição casar-se de preto, que lhe soou um tanto apropriado, já que a cerimônia parecia mais um funeral. Para uma moça, pelo menos, o casamento era a morte de algo importante.”

Reprodução: Biblioteca Pessoal

A Floresta é um livro sobre bruxaria ou liberdade?

Comecei a ler esse livro apenas sabendo que se tratava de uma história de bruxas e que era um folk horror. Nem me passava pela cabeça que a história ia muito além disso, muito mais profunda. Anna não é uma personagem comum e a bruxaria aqui pode ser vista de várias formas, com alguns significados que vão além do próprio ato de bruxaria.

Temos aqui uma mulher, assim como as demais da época, que não escolhe o seu destino; uma mulher vista como um mero objeto, algo que pode ser negociado, vendido. Há uma certa relação de vulnerabilidade feminina, onde os traumas e os abusos moldam quem cada personagem é. Há também uma certa sororidade, mesmo que mais velada e perigosa, afinal duas mulheres juntas podem ocasionar o início de uma revolução (ou matança) inesperada.

O livro também trata das nuances do que de fato é uma bruxa: bruxa é aquela velha decrépita que idolatra um ser demoníaco e sobrenatural ou é apenas uma mulher que busca tomar as rédeas da sua vida em um momento histórico onde isso era visto como uma barbaridade e sacrilégio? Ou, ainda, é aquela mulher que busca por justiça, por um corpo não violado, por respeito? Ou, pior, é apenas alguém que é visto como uma presa, uma vítima fácil?

Uma história de vingança, mas que, nas entrelinhas, disserta sobre como uma mulher pode recuperar sua força e liberdade, mesmo que para isso tenha que traçar um caminho cruel, sangrento, e se transformar em algo que nunca quis. A Floresta é, então, uma história de força feminina que transcende o teor da bruxaria.


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