Literatura

Resenha: “Evangelho de Sangue” – Clive Barker

Reprodução: Google


Evangelho de Sangue
Autor: Clive Barker
Editora: DarkSide
Ano: 2016
Minha classificação: ★★★★★ (5/5)
Harry D’Amour é um detetive, que já trabalhou na polícia de Nova York, mas que agora ajuda a amiga Norma, uma mulher velha e cega, a resolver os problemas que os mortos deixaram para trás. O objetivo de Norma é ajudar os fantasmas a chegarem até a “luz” e conseguirem o descanso eterno, mas para isso acontecer, ela recorre a ajuda de Harry para resolverem os assuntos que ficaram pendentes após essas mortes, ou até mesmo para problemas mais íntimos dos fantasmas, como ajudar a família a superar o luto ou a encontrar aquele tesouro que o morto deixou escondido e não quer que ninguém descubra sobre.

É atrás dessa ajuda que o recém falecido Carston Goode vai a procura de Norma. Como muitas pessoas, Carston não tinha a intenção de morrer tão cedo, mas por causa de um acidente foi levado para o outro mundo. Norma é uma pessoa famosa e seu nome é frequente entre as conversas dos fantasmas, ela é conhecida por sua ajuda e acolhimento com os falecidos, sempre estendendo a mão para aquelas almas confusas. Carston Goode vai até o apartamento de Norma e diz que precisa urgentemente de sua ajuda e dos serviços do detetive Harry D’Amour, pois há uma casa em seu nome que ninguém poderá descobrir o paradeiro e as coisas que ali aconteciam.

Harry D’Amour vai até a casa, e lá encontra evidências que faz jus a preocupação de Carston, caso a família do fantasma descobrisse o lugar. Quartos preenchidos com brinquedos sexuais, objetos de sadomasoquismo e camas com fins inimagináveis. Harry foi adentrando cada cômodo daquela casa, procurando objetos escondidos e lugares secretos, tudo que era necessário ser destruído. Enquanto entrava em cada um desses cômodos, ele encontrou um que lhe chamou atenção, não pelas janelas cobertas (afinal, todas as janelas da casa estavam assim) ou pela falta de mobília, mas ficou curioso com uma parte da parede que não parecia se completar com o resto dela ou ser da mesma cor. Como um detetive de muitos anos de trabalho, Harry sabia que aquilo só poderia significar uma coisa: uma entrada secreta.

Como um bom detetive, e curioso, Harry abriu a passagem secreta e viu o que havia dentro da pequena sala: estantes recheadas de livros pela parte de cima e embaixo com potes que continham resultados obscuros. No final de uma das estantes, bem lá no escuro e escondido, havia um pequeno cubo, que Harry logo reconheceu como a Caixa de Lemarchand. Com a sua curiosidade ainda aguçada, ele pegou-a em mãos e começou a tentar montá-la para decifrar o código das lendas. Até que não conseguindo mais se controlar e perdendo o próprio controle das mãos e da mente, Harry finalizou o quebra-cabeça que havia na caixa, e com uma queda ao chão a Caixa de Lemarchand abriu-se e trouxe consigo um mal antigo e perturbador: Pinhead estava de volta.

A história explora o terror psicológico e mexerá com a sua cabeça de uma forma inexplicável. Com muito gore e descrições explícitas de mortes e torturas, Clive Barker com a sua própria descrição do Inferno explora o outro mundo de uma forma magnífica e aterrorizante. A presença do Sacerdote do Inferno, o Pinhead, é muito frequente na obra, sendo ele o “vilão” da história, combatendo de frente até mesmo com o anjo caído e Rei do Inferno. 
Para quem espera um pouco mais sobre a Ordem e a presença de outros Cenobitas, como nos filmes, não querendo desanimar, mas já pode deixar essa esperança de lado, pois os Cenobitas só aparecem em uma cena e depois disso nunca mais (se é que me entendem).

“Tudo é morte, mulher. Tudo é dor. O amor gera a perda. O isolamento gera ressentimento. Não importa a direção que nos viramos, sempre somos feridos. Nossa única herança verdadeira é a morte. E nosso único legado, o pó.”

Reprodução: Pessoal
A edição
Gosto de destacar a edição em alguns livros, seja de forma positiva ou negativa, quando me chamam a atenção. Mesmo com alguns, mas poucos, erros na revisão, a DarkSide realiza um trabalho incrível e digno para expor na coleção. A edição de Evangelho de Sangue está maravilhosa e contém toda aquele cuidado que a editora demonstra em suas publicações. A diagramação é boa, as folhas são amareladas e a capa é dura, ainda contendo uma fita para marcar a página (aquelas que se encontramos em livros antigos, sabem? E que é frequente em quase todas as edições dessa editora). Eu me apaixonei pelo livro desde a divulgação da capa, pois além de linda também mostra a essência da história e faz jus com tudo que o Clive Barker escreveu. Aconselho a tirar um tempo, depois de finalizar a leitura, para contemplar a capa e perceber todas as referências e detalhes que ela tem e que fazem todo sentido com a história contida no livro. Além, é claro, de tirar esse tempo para maravilhar-se ainda mais com o trabalho da DarkSide.

Minha opinião
Eu estava bastante animada para essa leitura. Ainda não li Hellraiser, apenas assisti aos filmes, mas adoro as personagens, principalmente o Pinhead, que está na lista dos meus personagens de terror preferidos e na de vilões também. Pretendo ler ainda esse ano. Pesquisei e descobri que ler Evangelho de Sangue antes de ler Hellraiser não afetaria ambas as leituras, então, me aventurei logo no primeiro, e afirmo que não me arrependi.
Minhas expectativas estavam nas alturas, aliás, com o Pinhead na capa tudo que me passou pela cabeça foi que a história seria maravilhosa e teria a presença constante dele. E ao ler o prólogo tive a certeza que meus pensamentos estavam corretos e que minhas expetativas seriam alcançadas.
Eu assisti algumas vídeo-resenhas antes de iniciar a leitura, e o que mais ouvi foi sobre as descrições. Em uma das resenhas, a moça falava que o Clive Barker fazia uma descrição extensa e com muito gore a cada vez que o Pinhead entrava em cena, em partes isso é verdade, mas não achei que foi tão exagerado como ela supôs. Na verdade, eu até gosto de descrições exageradas, ainda mais quando engloba gore, tripas e cabeças, então, esse ponto se tornou positivo para mim. Realmente, o Clive Barker exagera em algumas descrições, mas acredito que complementem bem a história e que isso traz mais imagens e detalhes quando estamos visualizando tudo em nossa cabeça. Talvez algo que eu não tenha achado tão positivo assim foi o linguajar, admito que algumas palavras me assustaram um pouco. Por mais que a escrita do autor tenha me lembrado a do Stephen King em alguns aspectos, Clive Barker conseguiu me chocar ainda mais com a sua forma de escrever. Porém, os diálogos são recheados de inteligência, principalmente quando a discussão tem o Pinhead como centro.
A escrita do Clive Barker não é tão fluída como eu gostaria, talvez a história em si não seja tão fluída e rápida de se absorver. Eu demorava, em média, uma hora para ler 30 páginas, então, minha leitura era lenta e às vezes cansativa. Mas, nada disso me desanimou durante a semana que estava com o livro em mãos. Por mais que eu tenha encontrado esse ponto negativo durante a minha leitura, a ansiedade de ler mais um capítulo e de descobrir o que aconteceria com as personagens era sempre maior. A história te consome e te faz ficar fissurado e até mesmo viciado. Você quer ler mais, saber mais e chegar logo ao final para saber o desfecho de todas as merdas que estão acontecendo no momento. Porque, realmente, o que mais acontece com os coitados dos personagens é merda. E talvez toda essa confusão e adrenalina seja exatamente o clímax de toda a escrita.
Clive Barker também cria o seu próprio Inferno, e meu Deus, que Inferno foi aquele? Ele criou os demônios, os anjos e até mesmo a arquitetura do Inferno, tudo com muita maestria. Ao imaginar aquele lugar, eu tive vontade de estar ali, de ver tudo aquilo com os meus próprios olhos. Então, imagem a mágica que é um autor tirar essa sensação de dentro de você, a sensação de querer estar no próprio Inferno, isso não é “louco”?
Evangelho de Sangue é um livro de terror com muito gore e humor negro, que faz uma crítica pesada a humanidade, mesmo que seja em suas entrelinhas. Eu recomendo para você que é fã do gênero e/ou fã da franquia de filmes Hellraiser. Não aconselho que seja uma boa leitura para entrar nesse meio, mas caso você goste de detalhes sangrentos e explícitos, esse livro será perfeito para você. Pelo menos, se encaixou perfeitamente para mim.
Agora vou comentar sobre algo que me incomodou bastante, e acredito que será visto como spoilers para alguns, então, fiquem avisados, o próximo e último parágrafo terá SPOILER.

No prólogo somos apresentados ao nascimento de uma mulher, supostamente filha do Pinhead com uma humana, mas onde diabos essa filha se enfiou durante todo o livro? Em cada capítulo eu esperei que essa mulher se pronunciasse e fizesse o mundo cair aos seus pés, afinal, ela é filha do Sacerdote do Inferno, não teria como esperar menos dela. Mas, o Clive Barker não citou ela em mais nenhuma parte do livro, por quê? Há uma continuação? Ou ele citou-a de forma “secreta” e deixou para a nossa mente criar suposições? Nos capítulos finais vemos que Lúcifer encontra uma mulher na estrada e que eles começam um “relacionamento”, seria essa moça a filha do Pinhead, aquela que nasceu e cresceu no começo do livro? Ou o autor apenas esqueceu da personagem e chutou ela para escanteio? Se alguém souber de algo, por favor, me avise, pois estou com essa moça na cabeça e não consigo parar de pensar em qual foi o seu futuro.

6 thoughts on “Resenha: “Evangelho de Sangue” – Clive Barker”

  1. O livro é bom , mas confesso que como um hábil leitor de barker achei uma falta de profundidade na historia, tem todo o gore , profanação e a narrativa crua que consolideraram o nome do escritor inglês no universo do horror , mas aquela narrativa criativamente extraordinária saida apenas de um mente pertubada como a de Barker faltou mesmo, outro detalhe que "empobreceu" ao meu ver o decorrer linear da trama foi a juncão do inferno biblico com a mitologia dos cenobitas, em certos momentos tive a sensaçãovde estar lendo uma fanfic hehe, enfim nada que estrague a leitura, vi bastante elementos da obra de barker na narrativa mas ainda assim faltou algo, talvez pelo fato que o rascunho original tinha mais de 900 pgs algo ao meu ver ficou faltando , talvez aquela trama bem construida digna de uma mente fantastica como a de barker, de resto o horror, a bizarrice,um certo tom pervertido e erotico mesmo que em menor escala ainda estao presentes , parabens pela resenha, e leia mais Barker porque vale muito a pena .

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