Literatura

Resenha: “Menina Mitacuña” – Paulo Stucchi

“E, fosse como fosse, escravo ou liberto, seria sempre o mesmo: um maldito negro vivendo numa sociedade que não o desejava.”

Agosto de 1869, Guerra do Paraguai. Nesse cenário de caos, violência e morte, há Negro João, um homem negro, escravo e, posteriormente, soldado brasileiro. Mudo desde a adolescência, o negro é obrigado pelo senhorio a lutar em solo paraguaio em prol da vitória de seu país. Em meio a devastação e se tornando um assassino para conseguir sobreviver em uma guerra, ele se vê num empasse quando faz uma promessa para um garoto paraguaio: levar a irmã, Maria, até Assunção.


Maria ainda é uma criança. Uma indiazinha que precisa se manter forte e de cabeça erguida dentro de um território caótico e banhado de sangue. No começo há medo e insegurança perante ao homem desconhecido, mas ao decorrer da caminhada até a capital paraguaia uma amizade e um laço de companheirismo, cuidado e preocupação entre o adulto e a criança florescem. Um lindo ato que é cultivado mesmo sem a necessidade das palavras, afinal o negro é mudo e a menina só sabe falar uma língua desconhecida para o homem.


Dentre as dificuldades em ser um desertor do exército e ao mesmo tempo proteger uma criança, há também a perseguição de Cabo Filipe dos Reis que necessita de sua vingança contra Negro João. Entretanto, não é só de inimigos que se faz a história. Ao longo da jornada o homem e a menina irão conhecer o argentino Giacomo e o seu cachorro Nico, que se tornarão ótimos aliados e futuramente grande amigos da dupla.


Será através de uma narração não-linear em 3º pessoa e com base em muita pesquisa que o leitor mergulhará em uma história completamente tocante e comovente. Com um fundo histórico e utilizando detalhes da realidade, o autor Paulo Stucchi constrói uma narrativa que engloba o racismo, o ódio e as consequências de uma guerra. Um discurso embasado em séculos atrás, mas que, infelizmente, continua tão atual e presente nos dias atuais.

Aprendiam nos livros uma história escrita e impressa, sendo que a verdadeira história estava gravada com sangue em cada milímetro de sua pele e de sua alma.”



Saindo da minha zona de conforto:
No mês passado fui convidada para participar de uma leitura coletiva da obra Menina – Mitacuña e hoje me sinto realizada e feliz por ter aceitado em adentrar nessa aventura, mesmo que com a curiosidade sendo o único estopim. Inclusive aproveito para agradecer ao autor e a LC – Agência de Comunicação pelo convite e saudá-los pela iniciativa em espalhar entre Blogueiros e Ig’s literários a oportunidade de conhecerem essa obra magnífica.


Eu adoro quando uma leitura se torna uma boa surpresa. E  gosto mais ainda de conhecer um autor que logo de cara me conquista através da escrita e da maneira única de contar uma história. Foi assim com Paulo Stucchi. Confesso que não imaginava que iria gostar tanto da história a ponto de sentir saudade dos personagens e, de vez em quando, me “pegar” pensando novamente no enredo da história. Eu torci por Negro João e Maria. Sofri com os grilhões e submissões impostos pelos senhorios do escravo. Me emocionei nas cenas que embalavam cuidado, carinho e proteção.

O cuidado de Negro João com a criança me tirou do chão. A vontade de querer cumprir a promessa e levar a pequena índia até Assunção me partiu por inteira, mas ao mesmo tempo também reuniu todos os meus pedaços em um só. Terminei o livro sem saber como continuar, como prosseguir. Em muitos momentos quis gritar, em outros quis chorar. Mas em um todo: a leitura me trouxe muito mais do que eu esperava. Me encheu de esperança e de alegria. Me deixou com o coração quentinho e querendo mais. Me fez querer acompanhar a criança pelo resto da sua vida. 


O autor é descritivo e não mede palavras para narrar um cenário sangrento, a assolação da pobreza, a injúria perante a população. Um livro que é necessário, se tornando assim imprescindível que seja recomendado para todos os públicos que tenham uma mente crítica e que estejam aptos a saírem da zona de conforto. Uma leitura que incomoda, mas que também traz reflexões e ensinamentos profundos. Paulo está de parabéns em todos os quesitos possíveis. E quão grata eu sou por ter tido a oportunidade de ler essa obra.


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“Várias foram as vezes em que Negro João se questionara como era possível haver guerra e sangue sob um céu tão lindo.”

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3 thoughts on “Resenha: “Menina Mitacuña” – Paulo Stucchi”

  1. Nossa, sem palavras para descrever o quanto amei sua resenha. Eu tenho lido muitos livros com essa pegada ultimamente, e esse é um que sem dúvida alguma eu vou querer ler.
    Vou logo comprar esse livro e já ir me preparando para as fortes emoções que parecem estar por toda a trama. Mesmo sendo uma leitura que incomoda, como você disse, acho muito importante toda essa parte da reflexão e dos ensinamentos. Livros como esse abrem nossos olhos para coisas muito importantes, são super relevantes.
    Valeu a dica!!
    Beijinhos!!

  2. Olá,
    Nossa parece realmente impactante, o tema e por tudo que o personagem passa.
    Leituras que te trás toda uma reflexão creio que sempre são importante para nós.

    Debyh
    Eu Insisto

  3. é estranho sair da nossa zona de conforto né? porque as vezes pode ser beeem ruim e as vzes nos surpreendemos muito com a obra, nesse caso a leitura tbm seria fora da minha zona, mas acho que também seria boa pela reflexão e pelo peso da história.

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