Literatura

Resenha: “O Diário de Anne Frank” – Anne Frank

“O melhor remédio para os amedrontados, solitários ou infelizes é sair, ir a um local em que possam ficar a sós, com o céu, a natureza e Deus. Só então você pode sentir que tudo é como deveria ser, e que Deus deseja a felicidade das pessoas em meio à beleza e à simplicidade da natureza.”


O livro O Diário de Anne Frank é um dos relatos autobiográficos mais conhecidos que encontramos quando buscamos informações verídicas sobre a Segunda Guerra Mundial.

Afinal, quem nunca ouviu esse nome, Anne Frank? Ou quem nunca escutou a história de uma menina que aos 13 anos enfrentou as tragédias da Segunda Guerra e contou sobre o seu dia-a-dia em um diário? Anne Frank não era apenas uma criança entre várias, ela pode ser vista como inspiração, determinação e alguém para se aprender junto. O seu diário não foi escrito apenas para retratar os terrores da guerra e/ou para mostrar os problemas pessoais que ocorriam no Anexo, mas nele conseguimos perceber que Anne foi além dessas questões, retratando em seus textos pessoais assuntos como o primeiro amor, solidão e questões da mulher dentro da sociedade.


Para aqueles que não conhecem o livro ou não sabem mais profundamente sobre o que se trata, nele iremos ter acesso ao diário de uma garota judia de 13 anos chamada Anne Frank que enfrentou os horrores da Segunda Guerra Mundial ao lado de sua família, pai, mãe e irmã mais velha, na Holanda. Conheceremos o momento exato de partida da família Frank para o Anexo, lugar onde viveram durante 2 anos, ao lado da família van Daan, escondidos dos alemães e sobrevivendo com a ajuda de amigos.


A ambientação da guerra fica por conta das notícias que chegam as pessoas do Anexo através do rádio. Ou seja, grande parte do diário, em torno de 90%, relatará a vivência dentro do Anexo, a convivência entre as duas famílias, as dificuldades em arranjar mantimentos através do mercado negro e o medo de serem descobertos pelos vizinhos ou pessoas que trabalham no prédio em que estão escondidos. O único momento que temos uma visão direta dos acontecimentos da guerra e dos campos de concentração é no final do livro, onde vemos o destino de cada integrante do Anexo, incluindo a família Frank.


Através de seu diário Anne nos mostra a necessidade que teve em sua vida de crescer mais rápido do que as outras crianças. A necessidade de deixar a infância e brincadeiras para trás para se transformar em um adulto com responsabilidades aos 13 anos, sendo tirado de si os sonhos e a liberdade. A guerra não tira apenas sua moradia e amigos, mas tira seu sossego, sua chance de ter uma vida “normal” e de ser uma criança.


Ao decorrer dos pensamentos de Anne somos levados diretamente a sua mente e vivência no Anexo, descobrindo como é solitário e triste para ela enfrentar todas as tragédias impostas aos judeus, mesmo que em menor escala. As indagações da garota fazem com que o leitor repense em vários momentos da sua infância e mude algumas ideias cravadas em sua cabeça quando adulto. Anne consegue ser mais auto suficiente e evoluída mentalmente do que muitos adultos.

“Enquanto ela e eu estávamos sentadas no quarto, Margot falou que a notificação não era para papai, e, sim, para ela. Com esse segundo choque, comecei a chorar. Margot tem 16 anos – parece que eles querem mandar as garotas da idade dela para longe, sozinhas.”


Meus profundos sentimentos com o relato de Anne Frank:

Eu tive uma surpresa bastante positiva com essa leitura. Não que eu esperasse que fosse um livro ruim, isso não, mas eu já havia ouvido alguns comentários que dizia que o livro era monótono e que tratava de problemas banais de uma adolescente, como sofrer por um amor não correspondido ou se apaixonar perdidamente por alguém. Ao contrário, o livro não trata-se apenas disso, o diário vai além desses assuntos e explora o interior da Anne, deixando o leitor na posição do melhor amigo que ela não teve.


O diário irá retratar sobre problemas mais pessoais da Anne e acredito que foi exatamente esse ponto que me conectou com ela: não saber apenas sobre os problemas que a família Frank estava enfrentando por causa da guerra e do tratamento com o povo judeu, mas saber sobre os sentimentos mais íntimos da pequena Frank foi o que realmente me conquistou. Quando ela, ao lado da família, fugiu para o Anexo estava no auge dos seus 13 anos de idade, uma criança indo para a adolescência. Nós já sabemos o quanto a adolescência é uma época difícil de ser superada e o quanto essa época é importante para nos formamos como cidadão, porém Anne não pode crescer como os outros, pois não havia tempo para passar de uma evolução para outra. Ela teve que pular a infância e adolescência para se tornar imediatamente uma adulta, e isso afetou muito a sua personalidade e o seu interior. 


Acompanhar o dia-a-dia dela e ver o quanto a depressão estava ficando maior em sua vida foi agoniante e revelador ao mesmo tempo. É aquele tipo de leitura que te faz pensar na sua própria vida e nos seus próprios atos, te faz crescer e refletir sobre o que você está fazendo com a sua vida e se realmente isso está valendo a pena. Afinal, do que adianta viver sem aproveitar a felicidade ou a natureza, como a própria Anne diz?


Ver o crescimento da Anne em tão pouco tempo e pensar que ela poderia ter agregado ainda mais na história do mundo se tivesse sobrevivido ao final da guerra me deixou completamente comovida. Ela tinha pensamentos evoluídos, principalmente em relação as mulheres, já dizendo que não queria apenas se casar e ter filhos, mas queria investir em uma carreira profissional, achando até que nos próximos anos as mulheres seriam vistas com mais valor. São pensamentos que ainda não eram comuns em 1943, e esse é um dos pontos que a fazem ser diferente das outras crianças, sem menosprezar as demais, claro.


A leitura fluiu muito bem para mim, mesmo tendo um ritmo ainda mais lento quando se trata de relatos reais. Acredito que as primeiras 100 páginas foram as mais difíceis para manter um ritmo bom de leitura, mas depois a leitura fluiu rápido e a curiosidade se tornou cada vez maior. Eu precisava finalizar o livro e saber qual o caminho o destino escolheu para a Anne – mesmo já sabendo o que me aguardaria ao final. 


Eu me emocionei, ri e me conectei com a história, senti todos os pontos positivos que uma história deve trazer para mim como leitora, tanto em termos de ensinamentos como também de emoções. É um livro que eu indico para todos os públicos, principalmente para os mais jovens. É uma leitura essencial, tanto para os amantes da literatura como também para aqueles que ainda não se aventuram no mundo dos livros, sendo assim uma ótima forma de incentivo para o hábito de leitura. Se você ainda não leu, por favor, leia. De uma forma ou de outra a Anne Frank irá mudar a sua visão de mundo, nem que seja através de pequenos detalhes.


“Estou tomando valeriana todos os dias para controlar a ansiedade e a depressão, mas isso não impede que me sinta ainda mais infeliz no dia seguinte. Uma boa gargalhada ajudaria mais do que dez gotas de valeriana, mas quase esquecemos aqui como se gargalha.”

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