Literatura

Resenha: “Cinderelas” – Várias autoras

Cresci ouvindo que precisamos casar, ter família e um homem para amarmos. Poucas vezes me falaram que este homem devia me amar também e, o mais importante, que devia me respeitar.

Uma antologia de contos escritos por mulheres e sobre mulheres.

A antologia Cinderelas não é sobre contos de fadas, donzelas apaixonadas ou príncipes encantados. Nessas histórias não há amor que salve, cuide ou mantenha acolhido. Afinal, não são histórias de amor. Mas, sim, abordam de forma real e crua as várias nuances da violência contra a mulher, seja física, psicológica ou emocional.


Os temas explorados pelas autoras intercalam entre relacionamento abusivo, tentativas e atos de estupro, maternidade, abandono, autoridade imposta pelo homem, entre outros casos de abuso e suas respectivas consequências. Há traumas, coragem e superação. Há finais felizes que simbolizam um novo recomeço e uma nova auto confiança perante a si mesmo, mas também há finais devastadores, em aberto, onde sabemos exatamente o que aconteceu sem termos a necessidade da comprovação em palavras.


As histórias são feitas para conscientizar e abrir os olhos e a mente de todos, mostrar que a vítima não é a culpada e que não pode ser tratada como tal, nem por terceiros e nem por ela mesma. Mônica, Clara, Maria Luísa, Giovana, Julia, Bruna, Maria, Joanna, Alice, Nadia, Betina, Esther, Isabella, Marina, Ana, Vanessa, são apenas algumas personagens nomeadas desse livro, mas sabemos da existência dessas mulheres mundo à fora e precisamos demonstrar para cada uma delas – e para as demais – que não estão sozinhas. Grite, peça por socorro, mas não se cale.


Cada conto tem sua maneira de gerar incômodo e choque no leitor. São histórias fortes que nos fazem pensar na vivência dessas mulheres fictícias – mas tão reais – e que não saem de nossas cabeças com facilidade. Por conta disso é importante alertar que caso você se sinta desconfortável ou seja sensível perante esse assunto, não leia a antologia, pois poderá lhe trazer o efeito oposto do proposto. 

“O passado nos traz feridas que talvez nunca esqueceremos. Só não podemos deixar que elas interfiram no nosso presente e afetem o nosso futuro.”

Um livro impactante e necessário.

Com um discurso feminista e demonstrando apoio às vítimas, a antologia me conquistou logo de cara. O conto de abertura me “pegou” desprevenida, já me mostrando qual seria o intuito da antologia e o tamanho de sua força. Arrisco em dizer que a própria é um manifesto sobre empatia e sororidade, sentimentos que devem ser compartilhados com mais afinco nos dias de hoje. 


São tantas cicatrizes, momentos de desespero e sentimento de culpa que não há como não se emocionar ou não se sentir impactado com as histórias. Eu me emocionei, vibrei com as mulheres fortes que conseguiram denunciar ou sair daquele sufoco e até mesmo chorei. Isso se deve muito porque ao lermos suas histórias nos tornamos uma só, e com isso fica difícil não se identificar ao menos com uma das personagens, mesmo que você não tenha passado por nenhuma daquelas situações. A identificação vem com o íntimo das personagens, seus pensamentos e sentimentos, seja de não se sentir suficiente ou de ter medo em andar sozinha na rua.


Além das histórias, a antologia também é recheada de informações importantes e frases impactantes, como dados de pesquisas e frases de artistas. Logo no início há uma playlist montada pelas autoras e, acredite, é de se emocionar ao escutar. Você pode escolher uma música para lhe acompanhar em determinada história ou escutá-la ao final da leitura, pois de qualquer forma e em qualquer ordem você estará complementando a sua experiência de leitura, e isso será ainda mais enriquecedor.


Não consigo explicar o quanto esse livro é importante para a formação de leitores jovens e o quanto será necessário também para os mais velhos. Não importa o gênero, idade ou posicionamento, Cinderelas é uma antologia obrigatória para todos, tornando-se assim uma leitura indispensável.

Vou me permitindo viver. Vou aprendendo a me amar. Não tenho mais pressa. Não tenho mais medo de ficar sozinha. Eu sou minha melhor companhia.



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6 thoughts on “Resenha: “Cinderelas” – Várias autoras”

  1. Eu tenho refletido bastante sobre os livros e filmes que fizeram parte da minha infância. Não que estou deixando de gostar, pois foram importantes de alguma forma, mas tenho prestado atenção nas coisas que não enxergava quando criança; Por isso estou amando essas releituras feministas e reais. Acredito que ficaria angustiada com essa leitura, já vivi relacionamento abusviso, mas ao mesmo tempo quero dar uma chance por ser algo tão necessário para ser discutido.
    Gostei da resenha e indicação.

    Beijos
    Sai da Minha Lente

    1. São contos fortes e tocantes, então caso você tenha gatilhos é melhor ler com cuidado. Eu também estou adorando essas releituras, pois é meio decepcionante ver histórias antigas, que são tão importantes para nós, perpetuarem discursos machistas e misóginos. Acredito que essas releituras também são ótimas para as mais jovens, pois assim elas tem contato com isso desde cedo e já podem saber o quanto situações assim são erradas e alarmantes.

  2. Olá,
    Interessante a relação entre o conceito que ela passou e o conto de fadas. Creio que as mensagens são bem importantes ainda mais para as pessoas que não conhecem este tipo de história.

    Debyh
    Eu insisto

    1. Sim, são histórias importantes e que irão gerar grandes aprendizados para as leitoras, independente da idade ou bagagem pessoal. Acredito que por isso seja uma antologia tão importante e necessária nos dias de hoje e para todos e todas.

  3. Como eu gostei de ver a sua resenha sobre esse livro, eu estou louca pela leitura. Adoro livros de contos e ainda mais por esse tratar de temas tão atuais e importantes. Eu quero muito ler esse ano ainda e espero ter a oportunidade de comprar.

    1. Já adianto que a edição física está linda e cheia de cuidados, o que faz ter um orgulho ainda maior de tê-la na estante, caso se interesse em comprar essa versão. Você não irá se arrepender da leitura, tenho certeza!

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