Literatura

Resenha: “Confissões” – Kanae Minato

Título: Confissões
Autora: Kanae Minato
Quantidade de páginas: 192
Editora Gutenberg
Gênero:
Crime / Suspense e Mistério
Ano: 2019
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Compre: Amazon
Minha classificação: ★★★★★ (5/5)

Se os seus queridos alunos matassem a sua preciosa filha, como você se vingaria?

A professora Yuko Moriguchi perdeu sua filha Manami, uma menina preciosa de apenas cinco anos, quando a criança se afogou na piscina da escola em que Yuko trabalha. Sendo mãe solteira, nem sempre o seu horário de trabalho conciliava com o horário da creche, e por isso às vezes era preciso que Manami acompanhasse a mãe no trabalho por algumas horas.

Entretanto, ao contrário do que os policiais falam, Yuko tem a certeza de que o afogamento da filha não foi um acidente, mas, sim, um assassinato causado por dois de seus alunos. Por conta disso – e de toda a tristeza que está passando – a professora decide se aposentar, mas antes, no último dia de aula, ela desabafa verdades cruas e obscuras sobre os assassinos de sua filha e se vinga de ambos.

Falando do enredo dessa maneira pode até parecer que eu entreguei o clímax da história, mas, muito pelo contrário, eu apenas disse sobre o começo. O livro é dividido em seis capítulos e mostra cinco visões diferentes do mesmo acontecimento: as consequências da vingança de Yuko. Por isso cada capítulo se torna necessário e essencial, abordando assim os indícios de um psicopata e o desenvolvimento da psicopatia nos mais jovens.

A dor de Yuko é perceptível e transmitida para o leitor de forma intensa. A professora se vê no embate entre cuidar sozinha de sua filha pequena e auxiliar atentamente seus alunos, que tem por volta de treze anos de idade, mas ainda nutrem uma mente infantil e boba, culpando os outros por seus próprios problemas e vendo o desrespeito e abandono como motivos de ações brutais.

Porém acima do sangue derramado e do sofrimento está a vontade de punir; punir adolescentes que, ainda em menor idade, não se responsabilizam por seus atos; punir essas crianças que nunca levam a culpa. Yuko deixa bem claro que em seu país os jovens infratores não sofrem as consequências de seus assassinatos, sendo os adultos ao seu redor os culpados. Até mesmo professores são vistos assim, enquanto esses jovens servem de referência e idolatração para outras crianças.

O bullying também é um tema recorrente na história, mostrando o quanto a maldade humana chega ao extremo e a loucura, apenas pelo simples fato de se satisfazer com o sofrimento alheio. E também aborda a matança em forma de reconhecimento, uma maneira para ganhar fama e se provar suficiente.

“Por que não mostrar exatamente o que se parece esse tipo de ser humano? Se em vez disso optamos por mimá-los e paparicá-los, não estamos apenas alimentando seu narcisismo?”

A maneira como “Confissões” me sufocou:

Fazia algum tempo que eu não lia um suspense que me intrigava tanto e me mantinha tão conectada com a história. Logo no final do primeiro capítulo o choque já me invadiu e me deixou com vontade de ler o livro sem parar; choque esse que se repetiu ao longo dos desfechos de todos os capítulos.

A cada revelação eu ficava mais ansiosa pelo desenrolar da história e mais surpresa com as atitudes doentias dos personagens (que, pasmem, eram crianças de 13 anos!). Porém, por ter cinco visões alternativas das consequências do mesmo acontecimento isso fazia com que algumas partes se tornassem repetitivas e cansativas, pois, mesmo que o livro seja relativamente pequeno em questão de páginas, a leitura não flui de maneira rápida, sendo assim lenta, pesada e até enjoativa em alguns momentos.

Outro ponto que eu gostaria de acrescentar é que eu sinto que a história me tocou tanto dessa forma justamente por eu também ser professora de Ensino Fundamental II, o que me deixou com medo de encarar os meus próprios alunos. A psicopatia infantil me deixou assustada e com medo, me deixando apavorada por não saber o que se passa na cabeça dos mais jovens.

Terminei a leitura na semana passada e ainda não sei nem o que dizer, sendo difícil formular em palavras o que eu senti durante a leitura. Sinto que eu precisava de um livro assim que me tirasse de minha zona de conforto e me mostrasse de uma maneira crua a maldade humana. Apenas digo que, sendo fã ou não de suspense, você precisa lê-lo urgentemente!


Reprodução: Google
Pequena nota sobre a adaptação para o cinema:

“Confissões” ganhou uma adaptação para o cinema japonês em 2010 e, apesar de ser uma adaptação bastante fiel, não acho que mereça um post somente para ele. Não porque seja ruim, longe disso. Mas, sim, porque, sendo a mesma história, ficará repetitivo para vocês.

Há muitos diálogos que são idênticos com os do livro e a essência do tema central não foi perdida na adaptação. Porém a trilha sonora foi o que mais me incomodou, pois trouxe um ritmo e uma sensação de drama para a história, deixando assim o suspense (e até mesmo o terror) de lado.

Por ser uma boa adaptação, acredito que seja uma ótima adição para quem já teve contato com o livro e para aqueles que, mesmo sem lê-lo, gostam de uma história mais intrigante. Só deixo como alerta para que não esperem um suspense frenético e que irá te deixar sem ar, mas assistam com o pensamento de que a história vai além do que mostra e aproveitem cada minuto do filme, pois, assim como o livro, ele também irá te sufocar.


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16 thoughts on “Resenha: “Confissões” – Kanae Minato”

  1. Nossa, só de ler a resenha já dá pra sentir o sufoco! Eu gosto muito de suspense e sua resenha me deixou muito curiosa com esse livro.

    abobrinhacomchocolate.com.br

    1. Para quem gosta de suspense esse livro é um prato cheio de sensações! É angustiante e incrível ao mesmo tempo, tendo um final de quebrar o seu coração.

  2. Só consigo pensar que preciso ler esse livro.
    Sou professora também e acho que em muitos momentos posso me identificar com a personagem principal, mesmo não sendo mãe ainda.
    Sem contar que esse ar misterioso que tem no livro, deve fazer a gente comer o livro, adorei essa dica e já tô procurando ele pra comprar!

    1. Eu também não sou mãe, por isso não me identifiquei nessa parte, mas mesmo assim entendemos o ponto de vista dela, o que faz com que fiquemos de luto junto com ela. Tenho certeza de que você não irá se arrepender! Tenha uma ótima leitura. 🙂

  3. Olá, a editora Gutenberg tem excelentes livros deste gênero. Gostei muito da trama deste e tua resenha ficou ótima, com certeza quero ler. E adoro este jogo de contar a mesma estória por diferentes pontos de vista. Dica anotada.
    Bjos
    Vivi
    Blog Duas Livreiras

    1. Espero que goste da leitura! Obrigada pela dica, irei procurar outros títulos da editora, quem sabe não me surpreendo tanto quanto me surpreendi com esse.

    1. Eu vi pessoas que leram super rápido, mas acho que para alguns o melhor é ter uma leitura mais lenta e absorver com cuidado os detalhes. Porém, sabe como são os suspenses, né? Dá vontade de devorá-los de uma vez só, hahahaha.

  4. Sou professora e gostei da história, me fez lembrar de um caso em Petrolina-PE que também mataram a filha de um professor e até hoje não prenderam o ou os assassinos, escola de rico… sei que ficaria chocada com essa leitura e vou me aventurar.

    1. Nossa, acho que não conheço esse caso. Que horrível! E que descuido da polícia, isso é extremamente triste. No caso do livro acontece uma situação parecida e por isso a vingança se torna algo pessoal da professora, pois as autoridades não incriminam jovens infratores/assassinos, o que não é tão diferente daqui.

  5. Oi, tudo bem? Gente que indagação mais importante. É difícil ter uma resposta pronta na ponta da língua. Alguns com certeza se vingariam sem nem pensar. Mas outros com certeza iriam ponderar sobre o que realmente aconteceu. Mas a questão é que se conhecemos mesmo as pessoas com as quais convivemos sabemos se elas seriam capazes ou não de atos tão cruéis ainda mais quando o assunto é bullying. Alguns alunos ainda acham isso divertido. Já fiquei curiosa para assistir o filme e ler o livro. Beijos, Érika =^.^=

    1. No livro explica melhor o porque dos alunos terem matado a filha da professora, e fica claro que é por puro prazer, o que é doentio e triste. Infelizmente a professora viu na vingança a única chance de superar o luto, e isso desencadeia situações ainda mais gritantes e desesperadas.

  6. Eu adorei esse livro, ele mexeu bastante comigo e o final eu achei sensacional. Eu não fazia ideia de que o liro tem uma adaptação e com certeza vou assistir ao filme. Adorei o seu post.

    1. Oi, obrigada! É quase impossível lê-lo e não sentir algo, não é? Aquele final com toda a certeza é chocante e inesperado, achei um desfecho incrível – na medida de ser uma ficção.

  7. Olá, tudo bem?

    Confesso que não sou muito de ler livros policiais, ainda mais que trate de psicopatia infantil. Mas é um tema necessário, né? Mas é um tema que me deixa exatamente como você mencionou, apesar de eu não ser professora, como mãe e tia, esses assuntos me interessam e preocupam. Enfim, dica anotada, apesar de ter ficado com um receio enorme de encarar uma leitura assim, acho que eu ficaria bem impressionada…

    Beijo.
    Ana.

    1. Acredito que o livro aborda um tema pesado e delicado, e por isso você pode sim ficar impressionada com os acontecimentos. Indico que se você se sentir mal logo no início ou no final do primeiro capítulo não continue. É uma história forte e as situações só pioram com o desenrolar do livro, o que pode te deixar muito mal depois. Leia com cuidado e não se force a terminá-lo caso isso lhe faça mal.

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