Literatura

Resenha: “O ar que me falta” – Luiz Schwarcz

O ar que me falta é um dos lançamentos mais recentes da Companhia das Letras. Como boa – e admiradora – leitora de biografias, não pude deixar de nutrir grande interesse pelo título assim que foi anunciado aos parceiros, colocando-o imediatamente na lista de desejos.

É um livro pequeno, com apenas 200 páginas e uma diagramação confortável e fácil de ler, mas, mesmo assim, é uma obra que eu tive que ler mais devagar para poder sentir o peso de cada página, de cada palavra, de cada relato. Sendo assim um relato importantíssimo para se conhecer e compreender.


“Nunca imaginei que o luto por sua morte fosse ocupar tanto tempo na minha vida. Passaram-se catorze anos, e não sei dizer se o meu luto acabou ou quando isso aconteceu.”

Leia também: Resenha Longe de Casa, de vários autores

Título: O ar que me falta
Autor: Luiz Schwarcz
Quantidade de páginas: 200
Editora Companhia das Letras
Gênero:
 Não-Ficção / Biografia, Autobiografia, Memórias
Ano: 2021
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Minha classificação: ★★★★★ (5/5)
* Livro cedido pela editora

História de uma curta infância e de uma longa depressão

Luiz Schwarcz é o fundador da Companhia das Letras, mas em sua autobiografia O ar que me falta este assunto fica longe de ser o foco. Neste livro a sua carreira profissional e as suas conquistas no meio literário, seja como escritor ou editor, não fazem parte das páginas e da essência da obra.

Em O ar que me falta teremos contato com a depressão e a bipolaridade de Luiz, com a possível (e sem comprovação) ligação das doenças com o seu pai e seu avô paterno, e com a pressão como filho único para ser o centro da felicidade dos pais e o elo para o casamento deles, o que ocasionou um peso enorme nas costas de Luiz.

Tendo um pai húngaro e uma mãe croata, o autor também disserta sobre a vida por trás de seus genitores e em como eles tiveram que fugir de seus países natais para escapar do governo nazista. Com isso o tema da religião judaica acaba tornando-se frequente ao mesmo tempo em que também é citado naturalmente sobre as relações familiares (entre eles, seus avôs paternos e maternos, e seus pais), a pressão, a culpa e as expectativas caídas sobre si.

Dessa forma, O ar que me falta resulta em relatos fortes, intensos e até mesmo cruéis, que trazem uma forma de compressão sobre o assunto e as doenças citadas, como também causa empatia nos leitores sobre o que Luiz viveu. Ele resgata a preciosidade das histórias de seus pais e avôs, mas também resgata as nuances da sua própria história ao se entender como uma pessoa depressiva e bipolar.

TW: é bom alertar que o Luiz disserta sobre a depressão e a bipolaridade de forma real, ou seja, com momentos de suas crises. Então caso você seja diagnóstico com uma dessas doenças – ou com ambas – e não se sinta à vontade com esse tipo de descrição, talvez o livro não seja indicado para você.


“Foi meu primeiro grande susto, ao intuir que não daria conta dos meus deveres de filho único. Naquela ocasião percebi, mesmo sendo bem pequeno, que não conseguiria garantir a felicidade do meu pai, já ciente de que esta seria, para sempre, a mais importante missão da minha vida. Missão em que fracassei por completo.”

Reprodução: Biblioteca Pessoal

O ar que me falta é um relato singelo e tocante que deve ser lido por todos

O ar que me falta é um livro que me fez sentir tudo intensamente desde a primeira página até a última, finalizando meus sentimentos apenas após os agradecimentos. O Luiz tem uma escrita forte que gruda em nosso inconsciente e que nos faz pensar em sua história mesmo dias depois de tê-la lido. Esse é o poder dos detalhes de sua vida.

Eu posso dizer que muitas vezes me vi engasgada com os relatos perante a Segunda Guerra Mundial e me vi desolada quando era hora de falar sobre a sua depressão e a sua bipolaridade; também me vi preocupada com ele e com sua família, desejando a cada página que tudo ficasse no mínimo bem. Os paralelos que o autor faz entre a sua depressão e a possível doença em seu pai e avô são de formas belíssimas, cheias de respeito e compreensão, ainda que com um grande toque de curiosidade pelo próprio Luiz que ansiava por saber mais.

As relações familiares têm seus problemas, assim como qualquer outra, e em nenhum momento Luiz tenta esconder isso ou as situações financeiras, verdades que dão base para toda a sua história e a deixa ainda mais verdadeira, mais perto de nós.

Eu gostei muito do livro e adorei que o Luiz tenha tido esse desejo de compartilhar conosco um pouco de sua trajetória e de seus entes queridos. Eu queria lê-lo desde que assisti a um evento on-line da Companhia das Letras em que o Luiz falou sobre o livro e leu um trecho muito impactante (um dos meus preferidos do livro!), então me senti muito grata, escolhida e acolhida em receber esse exemplar.

É um livro indicado para todos, independente se são leitores de biografias ou não, assim como é aquele tipo de leitura que, mesmo curta, deve ser sentida aos poucos. Esse é um relato importantíssimo que deve – e precisa – ser ouvido e conhecido, o qual me fez sentir demais.


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2 thoughts on “Resenha: “O ar que me falta” – Luiz Schwarcz”

    1. Entendo e já quero saber qual é o nome desse livro aí que você leu. E sim, é um livro denso, cheio de reflexões, que vale muito a pena ser lido e entendido. Acredito que o autor fez um ótimo trabalho em escrever sobre si próprio e sua família e devemos ficar felizes por ele ter aberto essa porta de sua vida para nós. Então nos resta ler, entender e extrair toda empatia possível.

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