Resenha: “Breu” – Iza Artagão

Breu é o segundo contato que tenho com as histórias da Iza e, mais uma vez, não me decepcionei. Ela sabe muito bem como criar um clima mais sombrio, tenso e repleto de suspense, que nos faz roer as unhas por mais informações. Talvez por isso a leitura seja tão rápida, pois ficamos ansiosas para saber sobre o passado dos personagens e desejosas por mais informações.

Outro ponto que também adoro nas obras da autora é que ela sabe muito bem mesclar a ficção sobrenatural, através de criaturas e superstições do gênero, com temas atuais que precisam ser debatidos. Dessa vez a Iza trouxe assuntos difíceis de serem engolidos e lidados, como o abuso psicológico e sexual e as consequências de tais traumas.

“Laura não acreditava em assombrações, mas conhecia bem a ausência provocada pela morte. Uma ausência tão brutal, que deixa a presença daqueles que se foram impregnada até nas paredes embolotadas.”

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Dois passados que juntos se tornam mais obscuros do que o mais denso breu

Por causa de um acontecimento, Laura precisa se afastar do ex noivo. Para isso, ela aceita um emprego em um chalé que fica no meio do nada, distante até mesmo da cidadezinha – já pequena – do local. O trabalho consiste em ser acompanhante de Dona Carmen, uma idosa que sofreu um AVC há alguns meses e se encontra debilitada na cama.

O problema é que a família de Dona Carmen e a mansão são cercadas de mistérios e acontecimentos sobrenaturais, escondendo um passado sombrio que Laura irá desenterrar junto com os seus próprios problemas pessoais. Seus traumas voltarão para assombrá-la e para testar a sua saúde mental.

Breu é uma novela com apenas 90 páginas, tendo uma leitura rápida, principalmente por ser instigadora e fazer com que você – e a Laura – fique curiosa para saber mais. A atmosfera é sombria e cercada por suspense, ainda explorando um pouco da Síndrome de Asperger em uma das personagens.

TW: muitas coisas ficam nas entrelinhas, deixadas para o leitor imaginar da maneira que quiser, mas o abuso psicológico e sexual são temas que, ao meu ver, serão absorvidos por todos. Então, cuidado!

“O medo tinha cheiro, tinha tato, tinha vida e apoderava-se dela, como se dezenas de mãos, com seus dedos frios e invisíveis, agarrassem seu calcanhar e fossem subindo pelas panturrilhas até chegar à boca, enfiando-se na goela, ocupando toda a cavidade… a sufocando!”

Breu é uma história intensa que assusta, muitas vezes, por conta da sua aproximação com a realidade

É doloroso ver como a Laura é quebrada por dentro e como sua saúde mental precisa urgentemente de cuidados, esses que nunca deveriam ter sido pausados ou colocados em segundo plano. É assustador ter contato com o passado dela e com o da Marina, outra personagem que sofreu torturas psicológicas intensas e sempre foi rebaixada por conta de sua situação com a Síndrome de Asperger.

Porém, o desfecho não me deixou amar a história em sua totalidade. Eu esperei por respostas que tivessem um pé a mais no sobrenatural, então o que foi me dado não me agradou por completo, tendo até mesmo quebrado um pouco a minha expectativa pelas respostas. Isso, de nenhuma forma, tira a beleza do resto da história e da experiência ótima que tive durante a leitura. Mas confesso que queria uma coisinha ou outra diferente.

Independente disso, Breu me conquistou ao longo de toda a leitura. Eu temi por Laura, me assustei com ela e torci para que conseguisse escapar dessa prisão mental. Eu me surpreendi com vários detalhes que foram jogados em minha cara, como revelações que eu nem imaginei, e vibrei por não ter pensado nessas respostas.

A novela é curta, ótima para um fim de noite em que tudo que precisamos é uma boa história de terror e uma bela taça de vinho para acompanhar. Só não deixe que os medos de Laura se tornem os seus, pois se isso acontecer teremos que temer também pela sua saúde mental.

Vocês já leram algo da Iza? Ficaram com vontade? Super recomendo começar por Breu. 💬

“Laura tinha mais medo do escuro do que das obras kingnianas. Nenhum livro de terror era páreo para o seu passado.”

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