Literatura

Resenha: “Transtorn” – Pedro Maciel

Quando vemos uma história com super heróis, é normal esperarmos duas coisas distintas: ou será aquele tipo de histórias com super heróis convencionais, onde o bem e o mal estão divididos em lados opostos; ou será um tipo de narrativa mais parecida com The Boys, que explora o lado podre de cada super herói, nos mostrando que a bondade não faz parte de nenhum deles.

Em ambos os casos existem suas particularidades, e acredito que Transtorn consegue misturar bem isso, não se tornando uma cópia de nenhum.

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Título: Transtorn
Autor: Pedro Maciel
Quantidade de páginas: 242
Astrolábio Edições
Gênero:
 Ficção / Fantasia / Ficção científica
Ano: 2022
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Compre: Amazon | Astrolábio Edições
Minha classificação: ★★★★ (4/5)
* E-book cedido pelo autor

Em um mundo que há uma guerra entre superpoderosos, de qual lado você ficará?

Equidade é o super herói considerado como o mais forte entre as pessoas com super poderes e o mais famoso – e querido – entre a população. Porém, essa fama irá mudar ao tomar uma ação drástica que envolve assassinato à sangue frio, sem pudor ou vergonha, ato com que condiz com seus novos ideais. Logo, ele será levado a julgamento, onde um desfecho trágico mudará o futuro de todos.

Com isso, um homem denominado Ghzuis começa a reunir pessoas que não conseguem controlar os seus super poderes, com o pretexto de ajudá-las a se tornarem mais fortes e, no futuro, conseguirem combater uma guerra iminente que está se formando entre as pessoas com poderes.

Mesclado a tudo isso, um discurso sobre tirania, liberdade e força é exposto nas quase 250 páginas que se seguem fluidas e rápidas. Essa guerra racial causa medo, ódio e preconceito, trazendo uma narração sangrenta que instiga a curiosidade do leitor e o faz repensar seus próprios ideais.

Transtorn é uma distopia ambientada em São Paulo que desfruta de muitos elementos da nossa realidade e do que estamos vivendo nos últimos anos, acrescentando a fantasia e a ficção científica. Com um linguajar desbocado e cenas pesadas, o livro também retrata a obrigação que as pessoas com poderes têm de escolherem ser o herói ou o vilão.


“Se Jesus foi o primeiro super-herói anarquista da história, e ainda assim morreu, Pietro faria com que as pessoas esquecessem dele; pois diferentemente do Deus que todos colocavam pendurado em uma cruz na parede, ele fazia água virar sangue e enfiava cruzes em quem considerasse lixo.”

Reprodução: Biblioteca Pessoal

Transtorn e seus diversos temas necessários

Aqui, encontramos um grupo disfuncional de pessoas que não conseguem controlar os seus super poderes, assim afetando negativamente os que estão ao seu redor e, com isso, criando uma bolha de solidão e desconfiança que é difícil de ser rompida, mesmo com novos possíveis amigos.

Não é fácil ser um superpoderoso nesse mundo fantasioso, até porque nem todo mundo quer se tornar um herói ou um vilão, às vezes eles só querem viver a sua vida normalmente e é nisso que se encontra o real problema: eles nunca serão normais.

O livro traz debates interessantes e que têm muita ligação com o que vivemos em nossa politica, inclusive a do início da pandemia. Há o descaso com o povo, com o diferente, e a tirania mascarada de discurso de liberdade. Gostei muito de como isso foi colocado na história, apesar de, às vezes, eu achar meio repetitivo. Nisso, o que era pra ser reforçado virou uma repetição desnecessária.

Mesmo assim, são temas importantes que conseguem se interligar com outros mais, esses pincelados de forma mais pontual, por exemplo, a falta de julgamento necessário de alguns presidiários. Equidade dá um discurso que desestabiliza até o leitor mais convicto de seus ideais, pois nos faz pensar como o governo utiliza de sua autoridade para prender aqueles que só tentam sobreviver, colocando-os em um lugar que pode cobrá-los a vida.


“Estou falando de um novo ditador, o Equidade morreu, ele se tornou uma ideia. E quando uma ideia é colocada em prática, ela tem consequências.”

Transtorn traz personagens com poderes, mas, na realidade, retrata a vivência de muitos de nós

Ademais, os personagens em si são fáceis de serem cativantes, principalmente por serem cinzas. Não há um herói ou um vilão, mas há apenas pessoas desestabilizadas, com traumas, que não conseguem dar rumo a sua vida, e isso se torna muito real para quem está passando pela vida adulta. Além, é claro, dos poderes terem certo paralelo com assuntos mais intensos em suas entrelinhas, e isso fica claro quando vemos as cenas de preconceitos perante essas pessoas.

Com isso, acredito que meus problemas com o livro se devem mais à parte técnica do que com a história. Eu gostei dos personagens e de como a narrativa se desenvolveu para o puro caos. Gostei da escrita do Pedro e de como ele usou de linguagens mais desbocadas para criar a interação entre os personagens, além da quantidade enorme de sangue que muito me agradou. Isso só se contrapõe a má revisão que a editora fez, que me pareceu um trabalho desleixado da parte deles. Há a promessa de que isso será mudado e eu espero, realmente, que seja logo, pois o livro merece ser reconhecido e lido sem esses defeitos.

Por ser uma leitura rápida, é mais do que recomendado para incluir em TBRs apressadas e que precisam de um respiro entre as leituras. Eu posso dizer que ri, que fiquei chocada e que senti o sangue espirrar em minha cara, ou seja, que tive uma experiência digna de uma ótima leitura.

Vocês gostam de distopias que nos fazem refletir sobre nossos ideais? 💬


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