Sempre reforço o quanto antologias nacionais são importantes para que possamos conhecer autores novos e prestigiar os seus trabalhos. Isso, pra mim, é o melhor das antologias, pois através delas consigo ter contato com autores que antes desconhecia e que poderiam ficar fora do meu radar por meses, ou até anos, e admito que gosto de acompanhar autores desde o início de suas carreiras.

Por isso, Anatomia das Sombras me trouxe nomes novos e que adorei ter contato, pois cada um tem uma escrita única, com elementos particulares, dentro de um gênero que eu já amo.

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Uma anatomia sobre o pior em cada um de nós

Anatomia das Sombras é uma antologia composta por 10 autores nacionais. Dentre essas histórias encontramos os mais diversos subgêneros do nosso querido terror, como descrições recheadas de gore, o body horror em sua melhor performance e o suspense psicológico de mexer com a cabeça e a sanidade de todos os leitores.

É incrível perceber em como há certa variedade dentro de um mesmo gênero, pois alguns contos são mais descritivos enquanto outros pendem para o poético; intercalam entre narrações mais curtas e outras mais longas; os temas sociais são presentes em todos, mas a escrita única de cada autor faz com que cada história tenha sua particularidade e seja uma experiência à parte.

Como eu disse, há uma variedade entre os temas sociais explorados e entre as criaturas humanas cheias de maldade (ou medo), mas algo em comum predomina em todos contos: a sensação ruim, de impotência e de frieza humana; a sensação de nunca estar em segurança perante aos outros, ao desconhecido; a sensação de que tudo pode ser bem pior do que imaginamos.

Não tem o que repetir, porém mais uma vez a editora O Grifo conseguiu se superar nessa edição. Além de ser menor, cabendo fácil na bolsa e sendo leve para levar para todos os lugares, a diagramação ajuda positivamente na leitura, fazendo até com que seja rápida.

“Quanto desespero, desvio de caráter e precarização das relações de trabalho são necessários para encher um caminhão com más escolhas?”

Em Anatomia das Sombras há medo, assombro e arrepios através de 10 contos que surpreendem e chocam

É claro que como em toda antologia, aqui eu também tive contos que gostei mais do que outros, o que é normal. Os meus preferidos foram: Inquilino indesejável, da Gabm Lessa, que narra um exorcismo de forma crua e arrepiante; No rádio a música toca, da Clarissa Moura, que, apesar de curto, traz uma insanidade frenética e assustadora; Para encher um caminhão, do Leo Peccatu, que trata de forma sobrenatural sobre uma possível vingança de cadáveres indígenas; e Poucos amigos, da Maikele Homrich, que fala sobre o trauma e a culpa causada pelo medo, em nós mulheres, em situações do dia a dia.

Alguns me pareceram um pouco confusos, mas, mesmo assim, no geral, eu tive uma experiência bastante positiva, principalmente por conta dessa diversidade na escrita e nos temas, o que me deixou a vontade para conhecer histórias diferentes umas das outras e apreciar cada uma de forma isolada, única. Os temas pesados, com as descrições incisivas, também me conquistaram, já que sou apreciadora desses dois elementos.

Gostei das cenas mais pesadas, como também adorei a forma que certos assuntos importantes foram tratados. Os autores souberam trabalhar muito bem a crítica social com os elementos sobrenaturais do terror, o que, confesso, me deixou ainda mais assustada com a nossa realidade e com as pessoas ao nosso redor.

Com isso, Anatomia das Sombras se fez uma leitura bastante agradável, apesar do seu teor intenso e indigesto, pois o li em dois dias enquanto o levei para salas de espera e metrôs (uma ótima companhia, por sinal). Uma ótima dica para quem gosta desse misto de histórias diferentes e para quem quer ter contato com algo mais fora da caixinha, para assim apreciar outros lados do nosso terror nacional.

Vocês gostam de antologias? Têm o costume de lê-las para conhecer novos autores? 💬

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