Iniciei O Professor mais por conta do tamanho do que pela história em si, afinal eu não sabia nada sobre o que leria aqui. Ele me acompanhou por todo o mês de novembro, sempre me fazendo companhia quando havia um tempo aqui ou ali sobrando, entre uma aula e outra. Foi uma ótima companhia, devo dizer.

A história é curta, com uma leitura fluida e rápida, que faz com que você devore as páginas em poucas horas se quiser. Eu fui saboreando cada momento, pensando em cada reflexão que o autor nos traz, e isso fez com que a minha experiência de leitura fosse gratificante.

“(…)Sob esse axioma passei o dia pós assassinato em profundos pensamentos. “Eu matei um homem” era a frase mais recorrente. “Homem, humano? Há humanidade em todos os atos, até nos considerados mais vis?” era a pergunta que me fazia como um possível ponto de escape.”

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Justiceiro ou Assassino? Glorificação ou repulsa?

Um professor sem nome é encurralado em um beco enquanto está indo dar uma aula. Ao reconhecer o indivíduo dos jornais, ele decide agir por sobrevivência, mas também por vingança, ao tirar a vida daquele que fez tão mal às mulheres. Talvez, no fundo, também por desejo.

A partir disso, o que era uma faísca, torna-se um fogaréu de desejo que cresce cada vez mais dentro do professor: exterminar do mundo esse tipo de pessoa. Mas, na realidade, quem é o verdadeiro culpado e até onde pode ir a sua culpa? E esses atos o tornam o herói ou o vilão?

Com uma escrita imersiva e um fluxo de consciência que nos coloca dentro da mente do narrador-personagem justiceiro, a obra nos traz muitas reflexões e debate a questão da culpa, da vingança e da realidade escancarada e brutal vivida pelas mulheres.

TW: o tema do estupro é bastante presente no livro, então cuidado com as descrições.

“E digo-lhe: meu prazer tornou-se dominar pela força aqueles que dominam mulheres pelo mesmo meio. Mas não simplesmente dominar. A simbologia que surgiu em minha mente foi tão iluminada que não teria como negá-la. Deveria dominar o corpo por aquilo que o domina: a cabeça, destruindo-a. Deveria ser com o martelo, o símbolo do trabalho criativo e, ao mesmo tempo, do trabalho banal. Eu estava, naqueles momentos, finalmente criando algo para mim e a partir de mim.”

O Professor aborda debates morais e nos coloca na pele de um serial killer

A narrativa do autor é tão surreal e imersiva que eu temi pelo protagonista, pois se ele fosse pego quem faria tal serviço nas ruas? Mas, ao mesmo tempo, também queremos justiça igualmente, afinal ele é um serial killer e deve ser tratado como um. Dentro dessas reflexões, o Jéferson Alves faz com que duvidamos da nossa própria moral e bons costumes, nos colocando em cima do muro e contra a parede. Afinal, como devemos pensar nessa situação? De qual lado ficar?

Nisso, também entra a reflexão da culpa do personagem, que gera páginas longas de um fluxo de consciência feito para intensificar conversas mais árduas. Inclusive, até arrisco em dizer que esse livro deve ser ótimo para isso: ler e comentar com outras pessoas; observar as visões e comportamentos; perceber o pensamento dos outros ao seu redor.

Porém, esse fluxo de consciência também foi um empecilho na minha leitura, porque isso fazia com que a narrativa ficasse mais lenta, enquanto eu queria que fosse para os acontecimentos logo (eu precisava de respostas). Demorou um pouco para que eu engatasse na leitura muito por conta de acostumar com a narrativa e o estilo do livro.

Mesmo assim, foi uma leitura que me agradou e me trouxe reflexões precisas que ainda reverberam na minha mente, mesmo após meses da leitura finalizada. A escrita do autor nos envolve e nos deixa conectado a história, sempre desejando por mais detalhes, mais cenas, mais explicações. Por isso, O Professor se mostrou uma leitura valiosa, mais do que indicada para os fãs do gênero.

Como fica a sua moral quando há um serial killer matando homens que cometem abusos sexuais? Você o defende ou também o quer atrás das grades? 💬

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