Resenha: “Cartas para minha avó” – Djamila Ribeiro

O livro Cartas para minha avó, acima de tudo, foi um lembrete pra mim de como a vida passa em segundos e que só sentimos falta das pequenas coisas quando não as temos mais. Neste livro, a Djamila conta sobre a sua jornada e sua vida para a avó que já faleceu, dona Antônia. Fala de momentos em que sofreu racismo e das conquistas ao longo dos anos, entrelaçando a sua vida com a de sua mãe e a da avó.

Nisso, ela se utilizará de cartas para manter uma conversa íntima com a avó – conversa essa que somos presenteados ao observá-la. São palavras calorosas, mas também doloridas.

Por isso, essa resenha terá um toque ainda mais especial e pessoal.

“Essa imagem da mulher negra forte é muito cruel. As pessoas se esquecem de que não somos naturalmente fortes. Precisamos ser porque o Estado é omisso e violento. Restituir a humanidade também é assumir fragilidades e dores próprias da condição humana. Somos subalternizadas ou somos deusas. E pergunto: quando seremos humanas?”

Leia também: Quem Tem Medo do Feminismo Negro?, de Djamila Ribeiro

Uma carta também para a minha avó

Vó, Iaci.

Assim como a Djamila e a avó falecida dela, eu também gostaria de ter tido mais tempo com a senhora. Gostaria de ter ouvido as suas histórias, os seus pesos e as suas conquistas. Gostaria de entender como foi a sua jornada, a sua vida.

Assim como a Djamila e a avó falecida dela, a senhora também era uma mulher negra, com seus costumes, suas manias, suas batalhas internas. Gostaria de ter tido conversas particulares, olho a olho, mãos entrelaçadas, sem vergonhas ou constrangimentos. Eu queria ter te escutado.

Queria até ter te recomendado este livro, Cartas para minha avó, pois lembrei de ti durante toda a leitura. Além de te escutar, também gostaria de falar de mim, dos meus percalços, das minhas batalhas, da minha vida. Dividir momentos tristes, mas também os de alegria, os sonhos realizados, os caminhos que já percorri, as minhas pequenas, mas gratificantes conquistas.

Queria tanto mais.

“Passamos a vida culpando as mulheres que nos criam, assim como muitas vezes culpei minha mãe, sem olhar para quem nos tira o chão, a casa, as oportunidades. Acabamos sempre onerando outras mulheres pela falta de escolhas que nos é imposta. São sempre elas que precisam abrir mão do pouco que têm para alimentar toda a aldeia.”

Cartas para minha avó me emocionou e se tornou um livro pessoal

Ler Cartas para minha avó me trouxe sentimentos que não imaginava. Lembrar da minha própria avó paterna foi um deles, e isso me desequilibrou em grande parte da leitura, pois as dúvidas que Djamila sentia em torno da vida de sua avó são as mesmas que eu comecei a sentir após a leitura.

Mas, diferente da Djamila, nunca conversei diretamente com a minha avó, nunca criei um laço com ela antes de perdê-la, e isso fez com que o livro se tornasse ainda mais um peso; um peso daqueles que machuca o peito e nos deixa sem respirar, sufocados demais até para falar. Talvez também por causa disso esse tenha se tornado o meu livro preferido da autora e um dos favoritos da minha vida. Gostaria muito de ler trechos dele para minha avó, de mostrar que ciclos podem ser quebrados e que sua vivência ficará marcada em todos nós.

Djamila usou de palavras intensas e momentos íntimos, cartas que ferem e cartas que emocionam e alegram. Ela soube me deixar ávida pela próxima página, pela próxima carta. Me fez interessada em sua jornada, em sua vivência. Sei que minha avó não poderá ler esse livro, mas mantenho a esperança de que vocês irão. Independentemente da sua relação com livros de não-ficção, esse se torna obrigatório para qualquer leitor que deseja se conectar com suas raízes e consigo mesmo.

Agora me diz, qual foi o último livro que te conectou ou te aproximou de suas raízes? 💬

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