Literatura

Resenha: “Tudo que você não soube” – Fernanda Young

Tudo que você não soube foi o meu primeiro contato com a escrita de Fernanda Young, mesmo conhecendo ela de outros veículos. Por mim, ela era conhecida por ser uma feminista e falar sobre seus ideais de forma bastante aberta e sincera, algumas opiniões sendo até mesmo polêmicas.

Por outros, ela pode ter sido conhecida por Os Normais, no qual era roteirista e assinava diversas piadas, e Saia Justa, programa que estrelou ao lado de Rita Lee. Independentemente de por onde você a conheceu, se ainda não deu uma chance para a literatura de Fernanda Young, talvez esse momento tenha agora chegado.


“Ofereço-lhe, contudo, aquilo que tenho de melhor – as minhas mentiras. Bem mais agradáveis e gentis que as minhas verdades.”

Reprodução: Biblioteca Pessoal


Leia também: O Conto da Aia, de Margaret Atwood

Título: Tudo que você não soube
Autora: Fernanda Young
Quantidade de páginas: 130
Editora Rocco
Gênero: Ficção / Romance epistolar / Ficção Doméstica
Ano: 2012
Skoob: Clique Aqui
Compre: Amazon
Minha classificação: ★★★★ (4/5)

Uma carta para expurgar os demônios interiores

A narradora-personagem, sem nome, começa a escrever uma carta para o pai moribundo contando sobre a sua vida. Muito aconteceu ao longo dos anos, e descobrimos, então, que ela já usou drogas e já foi presa, que foi uma pessoa problemática e que, nos anos finais da adolescência, martelou a cabeça da própria mãe.

Com a falta de amor dos pais, tudo culmina em acessos de raiva. A protagonista traumatizada, perpetua o trauma para os outros ao seu redor, tornando tudo um ciclo sem fim. E mesmo com as aparências da vida adulta, percebe-se com o fluxo de consciência que os traumas continuam nela, fazem parte dela.

Por mais que tenha uma narrativa lenta, o enredo mostra que todas nós já passamos por algum tipo de rejeição ou desamor, mesmo que seja identificável de forma mínima com a vivência da protagonista. Mas também, contrapondo a isso, mostra que o amor pode ser de várias formas.


“Tente imaginar, pai, o susto que é ser uma garota. Na rua, somos cantadas, em casa, somos reprimidas. Querem-nos belas, mas nos agridem se tentamos. Somos violentadas sob a capa do afeto. Parece discurso feminista, eu sei. Mas não há como evitar: ser menina é um problema. Mais um. Principalmente, para as meninas que nascem aqui no Brasil, um país onde a mulher, além da obrigação de ser bonita, tem a obrigação de ser a dona da alegria. Aqui, a mulher tem que fazer comida e fazer charme. Tem que ter coragem e bunda. Tem que saber sambar e saber o seu lugar.”

Reprodução: Biblioteca Pessoal

Tudo que você não soube é dolorido e intenso, representando a semelhança nas vivências plurais femininas

Engraçado que passei uns 80% do livro sem saber se estava gostando ou não, mas o discurso do final me pegou demais, principalmente ao perceber que é uma história sobre as mulheres, qualquer uma delas. Porque você pode não ter m4rtelad0 a cabeça da sua mãe, como a protagonista fez, mas alguma coisinha na narrativa vai gerar identificação, isso é claro. Nossas vivências são diferentes e plurais, mas é incrível como a Fernanda Young conseguiu colocar um pouco de cada uma na narrativa.

No final, eu estava achando o livro incrível e potente. Acho que essa é uma das belezas da literatura, né? Esse diálogo íntimo entre personagem e leitor, quase como se contasse segredos, mas que foram vividos por ambos. Outra coisa que eu gosto muito também é quando autoras utilizam uma linguagem mais informal, inclusive com pensamentos e palavras que incomodam os mais “puritanos”. Gosto desse tipo de verdade, e admito que consigo me ver ainda mais próxima de personagens assim, sem papas na língua.

Aqui, a Fernanda Young soube bem como dosar o tema do amor e suas diferentes formas de afeto, incluindo coisas boas e ruins. A relação familiar da protagonista com os pais é o que dá rumo para as suas memórias, e é possível ver ali as várias nuances do amor (e da falta dele também). São cenas difíceis de digerir, principalmente quando nós já passamos por situações parecidas, mas acho que seja necessário também explorar esse lado problemático de uma família, afinal nem todas são perfeitas.

Fernanda Young me surpreendeu, o que me fez querer ler mais de suas obras (inclusive uma que tenho aqui há anos). O livro trás um fluxo de consciência às vezes repetitivo e cansativo, mas que no final nos faz entender cada pedaço dele. Não é um livro pra todo mundo, mas todos deveriam o ler.

Você já conhecia esse lado da escrita de ficção da Fernanda Young? 💬


✨ Se você gostou da resenha, compartilhe com alguém que você gostaria de ler esse livro junto.
💬 E deixe um comentário sobre o livro ou a resenha, dizendo o que mais te deixou curioso pela história.


💻 Me acompanhe nas redes sociais:
FanPage | Skoob | Instagram | Pinterest


Faça sua compra na Amazon através do nosso link (clique aqui) e ajude o blog a manter-se ativo. Sem taxas ou inclusão de valores, você estará nos ajudando a continuar trazendo conteúdo.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *