Literatura

Resenha: “Pessoas normais” – Sally Rooney

Eu vinha vendo muitas opiniões divididas sobre Pessoas Normais, sendo assim aquele livro 8 ou 80, ou você o ama ou o odeia. E esse era um dos fatores o qual eu não o queria ler, além, é claro, de ser um livro hypado e eu fugir de qualquer obra que surfe nesse movimento e também da história por si só não me chamar lá tanta atenção.

Quando a Companhia das Letras disponibilizou a versão digital no site Netgalley há alguns meses eu vi ali uma oportunidade, mas, mesmo assim, adiei o momento da leitura por medo de odiá-la. Mas, mais uma vez, a Companhia das Letras me deu outra oportunidade de lê-lo, convidando os parceiros para uma leitura conjunta com debate online. Eu fui uma das 30 pessoas selecionadas e finalmente me permiti lê-lo, e o quão grande foi a minha surpresa quando me vi presa àquela história.

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Título: Pessoas Normais
Autora: Sally Rooney
Quantidade de páginas: 264
Editora Companhia das Letras
Gênero:
 Ficção / Romance
Ano: 2019
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Compre: Amazon
Minha classificação: ★★★★ (4/5)
*E-book cedido pela editora

O que é ser uma pessoa normal?

Os adolescentes Marianne e Connell são exatamente o oposto. A garota vem de uma família rica e solitária, não cultiva nenhuma amizade dentro ou fora da escola e ainda é considerada estranha pelos colegas de turma; já o garoto, na escola ele é alguém popular e que joga no time de futebol, e em casa, em uma residência e bairro mais humildes, mora apenas com a mãe.

Entretanto, muito além dos muros do colégio algo interliga a vida dos dois: Lorraine, mãe de Connell, é faxineira na casa de Marianne, o que acaba resultando em uma comunicação singular entre os dois e posteriormente um romance, romance esse que é escondido de todos, principalmente dos colegas de escola. E romance esse que tem como base apenas o sexo, e nada mais – ao menos à princípio.

As coisas começarão a mudar de verdade quando ambos decidem ir para a mesma faculdade, mudando-se da pequena cidade de Carricklea para Dublin. Lá, experimentarão e presenciarão um momento de suas vidas completamente diferente de como era na cidade natal.

Em Pessoas Normais, Sally Rooney desenvolve um romance real, cru e repleto de altos e baixos. Aqui você não encontrará uma história romântica que irá te fazer suspirar, mas que, ao contrário, lhe fará repensar sobre o verdadeiro significado de amar alguém. Afinal, amar alguém é o suficiente para te fazer ficar?

Além disso, a autora também trabalha temas que fazem toda a diferença para a trama e para o desenvolvimento dos personagens, como a diferença entre classes sociais e a aceitação social; o efeito de traumas familiares e psicológicos na vida de alguém; a importância da terapia; e a solidão, ansiedade, depressão, submissão e dependência do outro.

Por isso, existe, sim, alguns gatilhos de violência doméstica e incitação ao suicídio.


“Até nas lembranças ela achará este momento insuportavelmente intenso, e tem consciência disso agora, enquanto ele acontece. Nunca se achou digna de ser amada por alguém. Mas agora tem uma vida nova, da qual este é o momento, e mesmo depois que muitos anos se passarem, ela ainda vai pensar: Sim, foi aí o começo da minha vida.”

Reprodução: Biblioteca Pessoal

Uma experiência desconfortável e que trouxe sentimentos conflitantes.

Terminei esse livro na terça-feira passada, mas ainda não sei como redigir uma opinião coesa sobre ele. O livro traz temas importantes em sua narrativa, como as diferenças e dificuldades entre classes sociais, doenças mentais e psicológicas, traumas, e outras mais, e por isso torna-se um excelente livro, pois aborda temas importantes e necessários e faz isso de forma crua, verdadeira.

O romance é outra parte do livro que também traz muita verdade em si, pois os próprios personagens são críveis. Eles erram, eles se submetem aos erros e depois erram de novo. O envolvimento romântico do casal principal é cheio de altos e baixos, idas e voltas, mas nisso é possível observar o quanto um é tóxico ao outro e apenas eles não percebem isso, um fato bastante perceptível nos romances dos dias atuais.

Porém muita coisa também me incomodou no livro, principalmente o Connell, um dos protagonistas, que aproveita da submissão de Marianne para usá-la e escondê-la. Achei-o abusivo em várias partes e isso criou uma barreira entre mim e ele. Contrapondo a isso, eu adorei a Marianne, mesmo que às vezes ela tenha me irritado demais; ela lembrou-me de mim mais nova, a garota estranha, que não fala com ninguém e que se fecha em si mesma, porém com problemas pessoais totalmente diferentes dos meus.

O desenvolvimento, seja para o bem ou para o mal, dos protagonistas é perceptível. Eles crescem ao decorrer dos meses que se passam, mas sendo isso nem sempre uma coisa boa. A narração é bem diferente de tudo que eu já tinha lido, mas não me atrapalhou, pelo contrário, eu gostei. Foi fácil para mim adaptar-me a ela, o que pode não acontecer com outras pessoas, mas que deve ser dado mais de uma chance e um tempo para se acostumar.

Ainda tenho sentimentos muito conflitantes com o livro, os personagens e a história, muitas críticas, mas também muitos elogios. Ainda sinto-me dividida, partida. Eu senti todas as dores de Marianne, quis abraçá-la e apoiá-la de uma forma como só outra mulher faria; quis sacudi-la e tirá-la daquele sufoco, daquela submissão, pois, para mim, era inacreditável que uma mulher feminista, cheia de opiniões políticas tão fortes, poderia se submeter a um amor tão passivo. Estranhei, mas tentei entendê-la, e no final eu só queria que os dois não ficassem juntos, que se encontrassem separadamente.

Foi um livro que me trouxe muitas reflexões e que ainda me faz pensar um pouco, de vez em quando me pego pensando sobre ele e sobre seu final. Não sei se indico para todo mundo, mas para quem der uma chance eu espero que a história toque o seu coração, assim como, agora eu percebo, tocou o meu.


“De certo modo, gosto da ideia de algo tão drástico acontecer comigo. Eu gostaria de frustrar as expectativas dos outros.”


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2 thoughts on “Resenha: “Pessoas normais” – Sally Rooney”

  1. Ai, eu tenho esse livro aqui e eu quero muito ler! Uma amiga minha leu esse livro e disse que é incrivel, mas ao mesmo tempo tudo seria resolvido se as pessoas fizessem terapia KKKKKKKKKK
    Gostei muito dos seus comentários, parece mesmo ser o tipo de livro que conquista a gente e nos faz pensar bastante, já vou passar ele na frente!

  2. Olá, tudo bem? Eu li esse livro também para o clube de leitura, e concordo com quase tudo que disse. Eu acho que é um livro feito pra incomodar, feito pra tirar da zona de conforto e mostrar o que é real. Talvez por isso tenha gostado tanto! Muitas pessoas falam que se o casal fizesse terapia muita coisa não tinha acontecido e bla bla bla, mas me diz atualmente se muitas pessoas levam isso a sério e/ou fazem terapia para isso. Não né? A vida corrida não deixa, ainda tem tabus com questões de problemas psicológicos e por isso faço um paralelo enorme com o crível. Eu gostei demais, só não favoritei porque o final me deixa bem frustrada. Mas fora isso, acho excelente HAHAH adorei a sua resenha sobre e ver a opinião acerca!
    Beijos

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