“Vivemos entre pessoas que vagam fantasiadas de luz, enquanto suas almas pertencem às trevas.”
A desconstrução da vida perfeita.
Casada com Tomás, a quem nutre um grande desprezo, sofre com a miséria e pobreza da pacata vidinha, já que o marido gasta mais da metade do salário com bebidas e mulheres. Mas, não se enganem. Tomás não é o vilão da história, e vocês logo saberão o porquê. Além das rezas, Antônia também consegue ganhar um dinheiro trabalhando na casa da velha Eugênia, uma mulher que há pouco se mudou para a periferia e que conta estranhas histórias sobre seu passado. Tão estranhas que mais parecem devaneios de uma mente cansada.
Ao ser encarregada de cumprir um simples favor para a sua patroa, Antônia se vê encurralada por um demônio e empurrada para dentro de um pacto inquebrável. Em troca de riqueza e uma vida melhor, a mulher aceita sacrificar inocentes para o Mal, dando início a destruição e decadência do seu próprio destino.
Há uma mescla de loucura com luxúria, resultando em cenas perturbadoramente sexuais e fortes; também há uma mescla entre esse terror cru – cheio de descrições e sangue – e o teor de investigação policial, casando os dois gêneros em uma única história.
“Quando alguém abre espaço para que as trevas façam morada, elas tomam posse da alma, da vida e de tudo em que conseguirem se incrustar. O pacto com a escuridão é para a eternidade. O sangue corrompido pelas mentiras do demônio sempre será ímpio. Mesmo que a inocência esteja presente, o mal tratará de pegar o que lhe foi prometido. O demônio engana, mente, todavia não pode ser enganado.“
Loucura, luxúria e a falta de amor.
Em um modo geral, eu gostei da história. Os personagens me convenceram de suas crenças perante ao Mal me passando um ar assustador, demonstrando aquele tipo de pessoa que você não gostaria de ter por perto (e nem de passar ao lado na rua). A história é bem desenvolvida, em vários momentos me senti sufocada com as descrições.
Mas a parte da investigação não me fisgou. Em certos pontos achei a investigação corrida demais, acelerada. Para mim, teria sido melhor se o foco fosse nos rituais e em como eram feitos. Pode parecer um pouco macabro, mas eu queria mais dos sacrifícios e das cenas de tortura. O meu terror preferido é aquele cheio de gore e de cenas perturbadoras, então esperei um pouco mais disso. Entretanto, nada disso desmerece ou desvaloriza a obra em si, pois é um conto extremamente macabro e assustador.
O conto merece a sua atenção e leitura, principalmente se você gosta de conhecer e apreciar as autoras nacionais do terror. É uma leitura rápida e fluida, perfeita para aqueles momentos em que buscamos uma história mais curta, mas ainda assim com um grande impacto. A Herança aborda as consequências da luxúria e da ganância, mas ao mesmo tempo também ensina que ser uma família não é apenas ter o mesmo tipo sanguíneo.
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“Às vezes, as verdades são mais duras do que nossos frágeis corações podem aguentar.”