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O humor ácido e crítico de Hannah Gadsby

Já faz um tempo que eu queria falar sobre Hannah Gadsby por aqui. Na verdade, desde que lançou na Netflix, lá em 2018, o seu stand-up chamado Nanette, o qual eu assisti pela primeira vez naquele ano e me senti chocada com tamanha carga emocional, de tensão e veracidade.

A Hannah Gadsby é uma mulher comediante, na faixa etária dos 40 anos, e lésbica. Inclusive ser uma mulher comediante e ser lésbica são temas recorrentes em suas piadas, nos mostrando que esse é o seu real diferencial entre os comediantes homens brancos héteros, tais que também englobam com frequência as suas falas.

Conhecer a Hannah através de Nanette, para mim, foi uma experiência incrível e diferenciada. Eu não costumo acompanhar stand-up, independente do gênero do comediante, eu apenas não tenho o hábito e acho que, muitas vezes, o humor entregue ali não bate com o meu. Mas a Hannah… Meu Deus. O quanto essa mulher me fez rir e chorar em pouco mais de uma hora é quase inexplicável, mas abaixo, ao apresentar os dois stand-ups dela, tentarei compartilhar a experiência.

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Tradução livre: Você precisa aprender o que é essa sensação, porque… essa tensão é o que as pessoas não-normais carregam dentro de si todo o tempo, porque é perigoso ser diferente!

Hannah Gadsby – Nanette

Lançado em 2018 na Netflix, Nanette grita ao mundo como a comédia é embasada em piadas autodepreciativas e como ela está cansada de fazer parte disso. É um stand-up corajoso e que me encheu de orgulho dessa mulher que está na carreira de comédia há mais de 10 anos e que, desde então, usou de piadas autodepreciativas para fazer fama. Ela brincava com a maneira que se assumiu lésbica para a família, brincava com a vez em que quase apanhou por ser uma mulher “masculina” e brincava com o orgulho LGBT, às vezes sendo até mesmo homofóbica consigo mesma e com os seus iguais.

Por isso Nanette é um grito de basta, um grito de raiva. Hannah diz-se estar cansada de criar toda essa tensão em volta de situações que, na realidade, foram muito mais dolorosas do que a piada pôde transpassar. Eu chorei na primeira vez que assisti, e agora reassistindo eu chorei novamente.

Acima disso tudo ela deixa a mensagem de como a sua história de vida é importante para outras pessoas que possam se identificar e que, também por isso, ela precisa rever e parar com esse tipo de comédia. Ela sabe que histórias como a sua poderiam ter lhe ajudado quando era mais nova, principalmente a não crescer odiando a sua própria sexualidade, e vê o quanto essa verdade será necessária para outras meninas. Que mulher, gente!

Porém ela também aborda outros assuntos, como quando critica a passividade do homem branco hétero em relação a atos de homofobia, machismo e misoginia, três temas também recorrentes em Nanette, e como quando fala sobre doenças mentais vistas como artes e homens famosos que são abusadores, pedófilos, mas ainda exaltados pelo público.

Em Nanette você irá rir, gargalhar e também chorar. Mas é preciso que tome cuidado, pois há relatos fortes de homofobia e preconceito de gênero, além de gatilhos para abuso e estupro.

Reprodução: Google

Hannah Gadsby – Douglas

Lançado esse ano, também pela Netflix, Douglas mantém o teor íntimo, ácido e crítico de Nanette, repetindo algumas nuances anteriores, mas tornando-se original ao revelar a sua relação e descoberta do espectro autista. Hannah diz como tudo agora parece fazer sentido após ser diagnosticada como uma pessoa autista e que ela tem muito orgulho da maneira diferente como pensa.

Mesclando situações da infância, para exemplificar que o autismo sempre esteve lá, com mais piadas que envolvem a arte, o machismo, a misoginia e até mesmo o movimento antivacina, Hannah consegue, mais uma vez, fazer um stand-up de comédia curto, rápido e muito engraçado. Como eu havia adorado o primeiro, eu estava bastante ansiosa por esse desde quando foi anunciado, e posso dizer que não me decepcionei.

Um ponto importante, e que adorei, foi o modo como Hannah fala sobre os homens terem nomeado tudo e como ela pode provar isso, o que é muito engraçado e que faz total sentido. Ela também fala sobre conversas desconfortáveis em que se vê inserida e de como partes desse show é dedicado aos haters. Novamente ela critica o homem branco hétero e a sociedade patriarcal, que, ao meu ver, nunca perde a graça e a veracidade.

Hannah Gadsby tornou-se uma mulher que acompanho e admiro muito. Suas performances e piadas me cativaram, me tocaram e me fizeram refletir. Por mais que ela foque na realidade da mulher branca, acredito que muitas situações serão comuns para todas nós, o que pode causar um certo desconforto, mas também muitas risadas.

Se você está procurando no catálogo da Netflix por algo que seja curto, mas que mesmo assim cause impacto, Nanette e Douglas são ótimas indicações para você nessa sexta-feira.


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8 thoughts on “O humor ácido e crítico de Hannah Gadsby”

  1. Oi Thainá, que demais! Esse também não é o tipo de conteúdo que acompanho,mas achei muito interessante os temas que ela aborda, gostei muito da parte sobre ela denunciar o conteúdo depreciativo de piadas.

    1. Eu também adorei essa parte! Adorei como ela aborda piadas depreciativas no início, nos fazendo rir com ela, mas depois virando o jogo e nos dando um soco no estômago, revelando o quanto isso é errado e ruim. O stand-up dela, principalmente o Nanette, vai além de um simples humor, mas traz também reflexões muito importantes. Vale a pena dar uma chance, ao menos para conhecê-la.

  2. Olá, tudo bem? Posso sentir a sua admiração pela mesma nas palavras! Não conhecia admito, até porque tenho me cansado desse tipo de comédia, mas vejo que ela vai além do comum e repetitivo tipo de “ironia”, o que me deixa mega curiosa como será abordados as coisas. Acho que agora posso dar uma nova chance aos stand up. Dica super anotada e estou pronta para rir e chorar ao mesmo tempo.
    Beijos

    1. Prepara os lencinhos quando for assistir a Nanette, eu assisti duas vezes e chorei nas duas, hahahaha. Acho que é uma ótima dica para quem não gosta ou não tem o costume de assistir a stand-ups. Eu, por exemplo, não tenho vontade de assistir outros, mas sei que assistirei todos os que a Hannah apresentar.

  3. Oiii Thainá

    Eu quero tanto assistir Nanette, ainda não deu tempo mas preciso conferir, gosto desse humor ácido, que vem e traz criticas sociais em forma de piadas e nos faz refletir, nos marca de certa forma. Além disso, ver uma mulher se destacando na comédia stand up enche a gente de orgulho com certeza, suesso para a Hannah, muito.

    Beijos, Ivy

    http://www.derepentenoultimolivro.com

    1. Um dos principais motivos para eu ter ficado curiosa para conhecer a Hannah foi exatamente esse, por ser uma mulher no stand-up, logo pensei nas piadas diferentes que ela poderia trazer e não me decepcionei com o resultado. Adorei cada parte, cada minuto. O humor dela me agrada bastante e me faz refletir sobre o tipo de humor que eu havia consumido, me mostrando que dá sim para fazer um humor respeitoso e crítico, ainda com representatividade LGBTQIA+.

  4. Olá, é a primeira vez que vejo falar de Hannah Gadsby , não sabia que estava na Netflix, mas agostei, adoro um humor ácido quando bem construído e vou me dar a oportunidade de conhecer mais apesar de não curti muito stand-up, mas seu texto me deu a impressão de ser o trabalho dela bem feito.

    1. O stand-up dela é muito bem feito e as críticas são daquelas que nos incomodam e nos fazem perceber até mesmo os nossos erros. É incrível o poder que essa mulher tem de cutucar a ferida e nos fazer refletir. Espero que goste!

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