Não lembro agora o ano exato em que conheci a Day Fernandes, mas acho que em 2020 é o terceiro ano consecutivo em que sou parceira da autora. Nesses três anos pude conhecer suas obras, que me inspiram e me encantam, e também pude conhecer a pessoa por trás das histórias, a qual tornou-se uma grande amiga.

Então obviamente que eu estava ansiosa pelo lançamento de Terremoto e Ruínas, mesmo que ainda estivesse relutante a me envolver com audiobooks. Sendo uma obra da Day é claro que eu iria conferi-la, independente da mídia, e mais uma vez não me decepcionei com o que me foi entregue.

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Uma Praga, um navio pirata, e uma aventura em busca da salvação (do mundo e de si mesma)

O vilarejo onde vive Belinda Saltimore foi tomado pela Praga Obscura, uma terrível doença que está deixando um rastro extenso de mortes. Os responsáveis por tal maldição, os ferozes e malvados Bradacks, são seres inimigos dos humanos, sendo esse mais um motivo para o ódio que há entre as duas raças.

Belinda passa os dias caçando, tentando assim conseguir algo para ela e as duas irmãs mais velhas se alimentarem. Seu pai, um simples antiquário, foi pego pela Praga Obscura e a cada dia definha mais na cama; já sua mãe, uma pirata, faleceu em seu parto, não tendo tempo nem mesmo de tê-la conhecido.

Sufocada e confusa, Belinda decide que irá em busca da árvore da vida, aparentemente a única solução para a cura dessa praga tão terrível. Ela comandará o navio que sua mãe deixou para ela, o Rosa dos Mares, e salvará toda a população da tragédia iminente.

Entretanto, um acontecimento repentino entra de surpresa no caminho de Bel e a joga em um caminho desconhecido e até então impossível de ser real. Belinda Saltimore precisará lutar para sobreviver, confiar em desconhecidos odiosos e ser corajosa para todos os sofredores de seu mundo.

Com uma narração em 1° pessoa, Terremoto e Ruínas traz os pensamentos mais íntimos e conflitantes da nossa protagonista, nos mostra através de seus olhos a beleza de vários reinos e descreve com perfeição as nuances de seu mundo. Uma fantasia que encanta, que destrói e que nos deixa imersos querendo cada vez mais.

“Uma biblioteca guarda os mais valiosos tesouros da humanidade, de acordo com o meu pai. Nicolás Saltimore podia mesmo ser surpreendente. Ladrão e amante de boa leitura, pai e professor nas horas vagas.”

Com uma protagonista feminina forte, independente e que também comete erros, Day criou uma personagem verdadeira e inspiradora.

Sendo o meu primeiro contato com áudiobooks foi inevitável não sentir uma estranheza no início e ter certa dificuldade para avançar na leitura, mas depois fluiu tão bem que eu o ouvia por horas sem sentir desconforto, só querendo por mais.

É claro que o enredo do livro também ajudou, pois eu me senti conectada com a protagonista e imersa em sua aventura, querendo cada vez mais daqueles mares, daqueles piratas, daquele novo mundo que estava diante de mim. É cada revelação de cair o queixo que eu me sentia na própria pele de Belinda, enganada, confusa, chocada.

A escrita consegue ser deliciosa e imersiva até mesmo narrada em áudio. A riqueza de detalhes dos reinos e das raças é incrível, pois torna tudo ainda mais real e crível, parecendo que realmente existem. Há muitos detalhes e descrições impecáveis, que deixam nossa imaginação correr solta e de forma maravilhosa.

O desfecho veio como um soco no meu estômago, trazendo ainda mais surpresas do que eu poderia imaginar, e fechou o livro com um grande pesar no meu peito, tanto de felicidade como também de saudade e apego. Um gosto agridoce ficou em minha boca após finalizar a leitura, querendo urgentemente uma continuação para me colocar novamente ao lado dos personagens, dentro daquele mundo mágico e querendo mais e mais aventuras.

A Bel tem um longo caminho a frente e eu quero muito continuar a acompanhando em tudo que ela ainda precisa fazer. Ela me deixou emotiva durante grande parte da história, fazendo com que eu sorrisse, risse e chorasse, às vezes tudo ao mesmo tempo. Ela é uma personagem incrível construída de uma maneira que dará muita força para as garotas mais jovens – e até mesmo para nós que já somos adultas. Bel e o pequeno Labareda, seu mascote, ganharam o meu coração todinho, sem volta.

Eu não sou muito de ler fantasias, exatamente por ter dificuldade de imaginar toda a história, mas são enredos assim como esse que me deixam encantada pelo gênero, com os olhos brilhando. Eu só tenho elogios a proferir, como é possível perceber, e o único defeito é que não tenho o segundo livro aqui comigo, na minha frente, agora mesmo. Belinda tornou-se uma grande amiga e não quero perdê-la nunca mais!

“- Eu não entendo ou talvez eu entenda até demais. Talvez você seja só mais um fugitivo, como eu.
Kai não escondeu a surpresa diante da minha declaração.
– Do que você está fugindo?
Eu o encarei por longos segundos com um tremor crescente que subia das palmas das mãos até os braços. Eu o encarei até que ele tomasse coragem e olhasse em meus olhos.
– Da morte. Mas parece que ainda não fui longe o suficiente.”

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