Literatura

Resenha: “Homens Pretos (não) Choram” – Stefano Volp

O Volp é um cara que eu admiro de longe. Acompanho o seu trabalho através do seu Instagram e também agora não tiro os olhos da Editora Escureceu, criada por ele. Inclusive o conheci através do financiamento coletivo de Não Tão Branca pela sua editora, o qual apoiei.

Desde então tenho muita vontade de conferir suas obras. Comecei por Homens Pretos (não) Choram, pois assinei a promoção do Kindle Unlimited e o encontrei lá, apenas me esperando. Peguei o livro em um momento que eu precisava ser preenchida por algo, que eu necessitava derramar algumas lágrimas e que eu, de alguma forma, fosse acolhida.

O livro não é sobre mim, isso é bem claro. Mas o poder das palavras do Volp fizeram com que eu sentisse tudo o que eu precisava no momento, e apenas isso para mim bastou. Arrisco até em dizer que após essa leitura Stefano Volp entrou para a minha lista de autores nacionais preferidos.


“A relação da família do meu amigo branco com a minha resumia-se em conveniência. O mesmo acontecia com minha mãe branca em relação à família do meu amigo negro, mas entre mim e ele, era nóis. E só é nóis, porque, entre nóis, nóis fortalece os sonhos e objetivos um do outro. Nóis recupera tudo aquilo que tentaram tirar da gente: nossos valores; nossas religiões; nossas famílias; nossos traços; nossos nomes.”

Reprodução: Biblioteca Pessoal

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Título: Homens pretos (não) choram
Crônicas quarentênicas sobre masculinidade e negritude
Autor: Stefano Volp
Quantidade de páginas: 117
Publicação Independente
Gênero: Ficção / Crônicas
Ano: 2020
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Minha classificação: ★★★★★ (5/5) 

Homens pretos choram – e sentem.

Homens Pretos (não) Choram é um acoplado de crônicas escritas por Volp durante a pandemia. Essa coletânea tem por objetivo retratar a masculinidade de homens pretos ao quebrar os padrões impostos pela sociedade e os estereótipos ainda cultivados e espalhados por muitos; tem também como objetivo conscientizar e gerar reflexões ao nos fazer repensar nossas próprias atitudes e pensamentos pré-estipulados/ensinados.

Encontra-se muita sensibilidade nas palavras de Volp ao mesmo tempo que a sua escrita forte e intensa jorra com verdades que muitas vezes não queremos encarar como errado. Há a ausência do choro e do sentir impostos para os homens, principalmente negros, afetando-os na fase adulta e na relação com os demais; também há a paternidade, a criação fria, a falta de demonstração de afeto, tudo isso em volta de uma criação posterior que impõe tais coisas como regra para ser um homem.

Mas afinal, o que é ser um homem? É reprimir os seus sentimentos? É tratar uma mulher de forma sexista e machista? É diminui-la, sendo sempre superior? É não chorar, não abraçar, não sentir? Homens Pretos (não) Choram nos mostra todas essas nuances do que é esperado de um homem, quebrando essas regras de forma belíssima e tocante.


“Ela estava certa sobre como os homens tratavam as mulheres – e não eram apenas os adultos. Os homens estavam presos em teias infinitas tecidas há muito tempo e, por mais que ele sentisse um incômodo no próprio comportamento, nunca soube como ser diferente.”

Reprodução: Biblioteca Pessoal

Homens Pretos (não) Choram conscientiza, ensina e emociona.

Que livro forte. Eu já sabia de algumas críticas a escrita do Volp, mas confesso que antes nunca tinha dado muita atenção, mesmo adorando acompanhá-lo no Instagram. Ele é aquela pessoa extremamente real, que xinga, que reclama, que não está sorrindo todos os dias, e por isso eu o acho muito verdadeiro, muito ele mesmo. Fui me aproximando primeiro da imagem dele e só agora li algo que ele escreveu, e meu Deus, como eu amei! E por que eu não li antes?

Logo na introdução, escrita pelo convidado Sérgio Motta, eu já me senti abalada, tirada do chão, por conta de tanta intensidade e realidade. Eu pude me ver naquelas palavras, ao menos de forma mais ampla, mas mesmo assim com tamanha dor. Eu pude me despedaçar com a realidade do outro, na pele do outro, e aprender com isso.

As crônicas são incríveis, pois nos causam empatia, sofrimento e angústia, às vezes tudo ao mesmo tempo, tudo na mesma linha, tudo com o mesmo personagem. Eu pude sentir a solidão, a força e a fraqueza, a tristeza e a pseudo liberdade de cada um deles; pude me familiarizar, pegar em suas mãos e acompanhar suas caminhadas; pude me sensibilizar.

Eu também aprendi muito com cada história, pois, claramente eu não sou um homem negro, porém isso não impediu que eu sentisse intimamente as palavras do Volp, as internalizasse e aprendesse com elas. Eu gosto muito de conhecer a vivência das outras pessoas, principalmente as que estão tão longe da minha própria, e esse livro serviu como um presente para mim, exatamente por conta disso.

Eu o achei muito doloroso, mas também igualmente muito belo, muito inspirador. Só desejo que o Volp continue escrevendo, nos ensinando, nos conscientizando e dividindo um pouco de si conosco – mesmo que ele não tenha obrigação nenhuma de fazer isso. Desejo que ele nunca pare de escrever.


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2 thoughts on “Resenha: “Homens Pretos (não) Choram” – Stefano Volp”

    1. O Volp é uma voz incrível da nossa Literatura que deve ser lida e compreendida. Esse tema realmente não é muito visto por isso, e só de termos essa preciosidade de obra já deveríamos, com isso, darmos um primeiro passo para a quebra desses paradigmas em relação ao padrão de masculinidade. Eu super recomendo que leia o livro e acompanhe a jornada do autor que, inclusive, é uma pessoa incrível.

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