Literatura

4 contos para conhecer a autora G. G. Diniz

Ter criado o Clube Claricimas no ano passado foi uma maravilhosa realização, principalmente porque está sendo através das leituras coletivas nele que estou tendo contato com autoras nacionais incríveis e com obras que, talvez, eu nem teria “tempo” para ler. A G. G. Diniz foi uma dessas gratas surpresas.

Percebi que eu já havia lido outro conto dela, As águas do rio, mas confesso que ele não tinha me agradado muito. Mas que bom que dei uma nova oportunidade para suas histórias, pois assim eu tive a chance de ler quatro contos seguidos e ainda ficar sedenta por mais. Agora, sinto-me na obrigação de passar a palavra adiante e fazer com que vocês também se sintam curiosos para conhecer suas histórias.

Leia também: As águas do rio, de G. G. Diniz

Reprodução: Biblioteca Pessoal

Morte Matada

Em Morte Matada, temos um pouco da visão da cidade de Cedrinho através dos olhos de Heloisa, a médica do local. A sua vida começa a ficar um pouco mais agitada quando duas garotas aparecem feridas no seu quintal, clamando por ajuda. Elas estão fugindo, e com isso procurando uma maneira de causar uma revolução contra as coleiras.

O conto é classificado como sertãopunk, mesclando uma pegada de distopia com a evolução das tecnologias. O mundo em si não é muito explorado e isso pode causar certa estranheza e infelicidade, já que a curiosidade sempre fala mais alto. Porém a adrenalina que cerca a história faz com que o leitor fique conectado a ela até a última página, ansioso para os possíveis desfechos e surpresas.

Não sabia muito o que iria descobrir na história, mas gostei de ter sido surpreendida por um tipo de distopia diferente e crível. Acho que o único ponto negativo é que ficamos sedentos por respostas. Queremos saber o que aconteceu para resultar em atos tão drásticos, o que irá acontecer com as personagens depois do desfecho do conto. Mas as inúmeras perguntas ficam sem resposta, já que o foco principal do conto é aquele momento de luta e resistência e nada mais.

Acredito que isso ao mesmo tempo que é um ponto negativo, pois atiça a nossa curiosidade sem nos dar nada em troca, também é um ponto positivo, já que faz com que esse mundo não saia da nossa cabeça e que criemos diversas teorias para responder nossos questionamentos.


“E se Heloísa se metesse em problema… O pior que poderia lhe acontecer era permanecer viva.”

Reprodução: Biblioteca Pessoal

O Sertão Não Virou Mar

Em O Sertão Não Virou Mar, conhecermos a história de Juciara, uma adolescente que é forçada, junto com sua família, a sair de Fortaleza por conta da violência do mar que agora invade ruas e casas. Este conto serve como uma espécie de prequel de Morte Matada, nos revelando um pouco mais sobre o passado de duas personagens.

O último conto que li da autora até o momento, mas que não decepcionou em nada. Mais uma vez não há foco em detalhes do mundo atual, nos dá apenas algumas pistas dos acontecimentos. Dessa vez o foco fica na força da protagonista, como a tal revolução se iniciou antes mesmo de Morte Matada e como o casal do próximo conto se conheceu.

É sangrento, cru, violento, brutal, mas incrivelmente real. A escrita da Diniz tem esse poder de tornar as cenas violentas em um questionamento da verdade, em uma reflexão. Eu adorei cada momento! Principalmente quando o amor repentino e o desejo das duas garotas se misturam a um cheiro forte de sangue, revolução e fuga.

Reprodução: Biblioteca Pessoal

Uyara

Em Uyara, a protagonista, que dá título ao conto, participa com os guerreiros de sua tribo de uma emboscada para combater os inimigos que aportaram em seu lar. Porém quando ela percebe que esse povo traz algo diferente entre eles, já é tarde demais para os seus amigos.

Uyara é uma guerreira destemida, forte e companheira, que, infelizmente, não sabe com que tipo de pessoas – ou seriam criaturas? – está lutando nessa batalha. Admito que, sem ter lido nenhuma sinopse, eu também não sabia, o que causou uma grande surpresa e choque tanto nela como em mim também.

Sem dúvidas, esse é o meu conto preferido da autora até o momento! Eu gostei muito de como ela conectou o povo indígena com o mito do vampiro. Na verdade, eu nunca havia imaginado como esses dois temas poderiam se fundir de uma forma tão genial e coesa.

Outra coisa que vejo com frequência em seus contos e que eu amo é como a G. G. Diniz consegue encaixar personagens LGBTs de forma tão natural, até mesmo dentro de uma tribo. A sua escrita me surpreende cada vez mais e consegue despertar os mais diversos sentimentos em mim. Eu me arrepiei toda com a frase final desse conto e só de imaginar um possível futuro depois daquilo já fico sedenta por mais de suas histórias.


Reprodução: Biblioteca Pessoal

O Ovo

Em O Ovo, Núbia, ao perder a avó, faz uma promessa para a idosa: cuidar do seu sítio, aquele que ninguém mais quer. Sendo ela uma pessoa da cidade, o início vivendo ali é complicado e cheio de desafios, mas com a ajuda de algumas pessoas inesperadas Núbia acaba conseguindo se encontrar no local e, ainda, conhecer Dorinha, uma mulher incrível que logo rouba sua atenção.

Quando uma chuva chega por lá, inundando tudo durante duas semanas, um ovo estranho – e negro – é encontrado por Núbia no meio do capim. Não parece em nada com um ovo normal, tanto pela cor escura como também pelo formato da coisa, e não muito depois Núbia e Dorinha descobrirão que, realmente, esse ovo é bem mais estranho do que poderiam imaginar.

Este conto mexe bastante com a sanidade da protagonista e dos leitores, deixando ambos confusos e incertos do que está acontecendo, se tudo ali é realmente verdadeiro. O final é de cair o queixo, deixando brecha para diversas análises e interpretações, causando assim um debate interessante para saber o que era esse ovo afinal.

Assim como os demais contos da autora, esse também traz representatividade LGBT e também tem uma escrita crua e pesada, sem poupar com detalhes da loucura e da morte. Não sei se eu recomendaria iniciar por esse, por conta do final abrupto e aberto, mas a leitura com toda certeza é indicada.


“Eu tive duas certezas: primeiro que precisava matar aquele bicho, e segundo que jamais conseguiria fazê-lo.”

As histórias da G. G. Diniz encantam ao mesmo tempo que nos despedaçam aos poucos

A G. G. Diniz tem uma escrita visceral, impecável, que incomoda e causa arrepios. O seu terror pode ser encontrado na atmosfera sombria e pesada de suas narrações, assim como também nas cenas violentas, repletas de sangue e brutalidade. Suas personagens se encaixam nos locais em que são colocadas e suas vivências sempre nos despertam sensações peculiares, indo de empatia à sororidade.

A forma como a G. G. Diniz cria personagens LGBTs também é algo de se elogiar, pois a imersão da sexualidade deles surge de forma tão natural que em nenhum momento fica forçado ou jogado ali. Isso faz parte dos personagens, de quem eles são, e é perfeitamente visível esse detalhe.

Eu gostei muito das obras da autora e me caíram muito bem em um momento que eu desejava por leituras rápidas, mas que mesmo assim fossem impactantes. Eu não encontrei nenhuma obra mais extensa dela, mas espero que em breve possamos ter uma história mais longa para passarmos mais tempo com seus personagens tão cativantes e desfrutando de suas criações de mundos.


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