Resenha: “No seu pescoço” – Chimamanda Ngozi Adichie

No seu pescoço é aquele tipo de livro que nos deixa tristes, mas, ao mesmo tempo, nos abre os olhos para novos ares, novas experiências e novas pessoas. É inspirador, tocante e reflexivo, como, aparentemente, todos os livros da Chimamanda são.

Esse, em especial, me fez ter uma experiência de leitura ainda mais intensa, já que li em conjunto com uma amiga. Íamos discutindo cada conto, cada ponto, com visões, às vezes, diferentes, mas que se agregavam tanto entre si. Que realizador é ler e discutir Chimamanda em tempos tão difíceis e necessitados!

TW: a autora trata de temas sensíveis, como assédio, abuso sexual e abuso matrimonial. Esteja ciente ao iniciar a leitura do livro e/ou da resenha.

“(…) que as ondas de violência não acontecem do nada, que a religião e as etnias muitas vezes são politizadas porque o governante fica a salvo quando os governados famintos matam uns aos outros.”

Leia também: Hibisco Roxo, de Chimamanda Ngozi Adichie

12 contos, 12 partes de nós

Irmã de Nnamabia vê a brutalidade policial. Nkem precisa conviver com a exaltação do masculino, em uma posição de mulher, perante a sociedade, a qual deve aceitar o mínimo, como apenas uma traição, mas que luta pela desconstrução do feminino e de agir somente como o outro gosta. Chika e uma mulher desconhecida demonstram o tamanho da força feminina em meio a guerra civil nigeriana, enquanto James Nwoye demonstra sobre o luto que a guerra traz.

Kamara tenta explorar a própria sexualidade na convivência com uma família diferente. Já Ujunwa sofre assédio na frente de pessoas que fingem não ver, mas que têm suas vivências e traumas desvalorizadas por uma visão colonizada da África. Outra mulher sem nome sofre abusos. Outra mulher sem nome enterra seu filho.

Em meio a tragédias e desilusões amorosas, Ukamaka faz uma nova amizade. Chinaza Okafor é obrigada a se casar e ir morar nos Estados Unidos com o marido, passando por um apagamento de quem é. A irmã de Nonso é apagada enquanto o irmão mais novo é exaltado por sua masculinidade. Nwamgba deseja vingança, mas tudo que recebe é um filho tomado pela colonização, pelo catolicismo e pela fé cega.

São 12 pessoas de cultura diferente da nossa; 12 pessoas diferentes entre si; mas 12 pessoas que parecem tanto conosco. Em 12 contos, compartilhamos suas intimidades através de conversas e desabafos que, com uma escrita característica e potente, são fáceis de gerarem identificação – o que torna tudo ainda mais triste.

“Apesar de ter só dez anos, você soube que algumas pessoas podem ocupar espaço demais apenas sendo; que, apenas existindo, algumas pessoas podem sufocar as outras.”

No Seu Pescoço é sensível, mas brutal.

Esse livro trata de tantos temas e traz tantas emoções a tona. Cada conto te faz refletir de uma maneira diferente e, no final, você se encontra emaranhada por todos esses sentimentos e pensamentos.

Aqui, temos diversas mulheres – e um homem – diferentes, de culturas diferentes da nossa, mas que se conectam conosco através de seus traumas, suas tristezas e seus abusos. São personagens reais que vivem histórias reais, seja de uma imigrante sendo forçada a se adequar ao país a qual viverá, ou de uma menina que comete um ato terrível ao ser rebaixada ao mínimo somente por ser mulher, ou, ainda, de vivências que são vistas como um nada aos olhos de alguém de fora.

São vivências e culturas diferentes, mulheres diversas, mas que, no fundo, são todas iguais perante a sociedade machista. Chimamanda tem uma escrita potente, crua e, às vezes, até cruel. Mas é perfeita em cada linha que escreve.

Ela não tem medo de expor a realidade de onde vem e os abusos ignorados que todas nós, mulheres, vivemos. Ela toca na ferida de cada um e é isso que a torna tão especial e surpreendente. No seu pescoço é daqueles livros que todos deveriam ler para entender a dor do próximo. É leitura obrigatória.

💻 Me acompanhe nas redes sociais:
FanPage | Skoob | Instagram | Pinterest

Faça sua compra na Amazon através do nosso link (clique aqui) e ajude o blog a manter-se ativo. Sem taxas ou inclusão de valores, você estará nos ajudando a continuar trazendo conteúdo.